“Faltou Juazeiro, o anfitrião não foi à festa”, por João Gilberto Guimarães Sobrinho

2

 

Que conheçam outras terras
O valor da tua gente,
Tradição que tu encerras
De um tempo agora ausente

( Trecho do hino oficial de Juazeiro)

São 146 anos de emancipação política, mas é difícil dizer quando Juazeiro começou o processo de apagamento de suas tradições, quem se dá ao trabalho de observar o caminhar das coisas deve ter estranhado as comemorações do aniversário de nosso querido município. Salta ao olhos a indiferença promovida pela gestão municipal no que diz respeito a identidade cultural do nosso povo, onde foram parar os artistas da cidade? Onde colocaram João Gilberto, Ivete Sangalo, Manuca Almeida, O professor Parlim, o poeta Galvão e os incontáveis artistas dessa cidade tão maltratada, qual o reconhecimento que foi dado aos verdadeiros fazedores de cultura, estes que se arrastam, gestão após gestão, carregando nos lombos o que restou da identidade cultural deste Juazeiro, que de árvore está virando arbusto, e um arbusto perigosamente violento.

Ao que parece, só a mão da saudade tem tocado nos corações ribeirinhos, pois o que se vê de verdade é o sumiço da arte e da cultura, a tremenda desvalorização de quem sonha com um futuro de pujança. Não subiram ao palco da ostentação o samba de velho, a bossa nova, a capoeira, as artes plásticas, os congos, os poetas, não, não temos espaço para estas coisas pequenas, os palcos juazeirenses estão reservados aos enormes artistas de algures, gente que canta muito alto e não diz nada. O que temos visto nos últimos tempos, infelizmente, é a real degradação da cultura de Juazeiro, e decerto, quem diz valorizar a arte e a cultura da cidade paga em dinheiro aos estrangeiros e enrola por meses o santo de casa, que, coitado, por andar morrendo de fome não consegue mais fazer milagres.

A falta de investimentos em políticas culturais é sem dúvida alguma uma das causas do aumento da violência, as periferias estão abandonadas, e não cabe falar aqui de infra estrutura, não é este o tema, sabemos  que o palco luminoso (e barulhento) da orla não chega na pra CEU do Tabuleiro, não chega na praça da juventude da Malhada da areia, o teatro não chega, a música não chega, a poesia não chega, o que chega é a violência que faz de Juazeiro uma das cidades mais violentas do Brasil, o que chega, é o apagamento, das memórias, das pessoas.

As políticas culturais do município se resumiram às muletas das políticas públicas federais, e vale lembrar que os 194 projetos aprovados pela lei Paulo Gustavo andam sumidos, alguns apareceram tímidos recentemente, numa tentativa histriônica de mostrar algum serviço, totalmente patrocinado pelo Governo Federal, que, pasmem, não foi convidado para a festa. O festival de teatro Wellington Monteclaro jaz esquecido, diga-se por passagem, um festival aprovado por lei que se tornou letra morta.

Chega a ser angustiante, para quem se importa, que não existam editais para lançamentos de livros, festivais, feiras, incentivos para realização de eventos, nada, a gestora, que tem suas raízes fincadas no assistencialismo-político-partidário parece ter resolvido todos os problemas da cultura juazeirense contratando os artistas mais barulhentos, e o que (não) se ouve agora é um estridente silêncio, o silêncio mortal da folha de pagamento. Os artistas, observam estupefatos que o plano municipal de cultura segue submerso a espera do rompimento do último fio de cabelo da paciência, o nego d’água há muito virou as costas para a feiúra, para o lixo e a buraqueira, para as muriçocas que têm se tornado as verdadeiras donas da cidade, até quando Juazeiro, vamos andar para trás, dando de costas para quem mais te ama, estes teus tolos filhos?

João Gilberto Guimarães Sobrinho é juazeirense, cientista social formado pela Universidade Federal do Vale do São Francisco, pós-graduando em políticas públicas e direitos sociais, professor, poeta, editor e produtor cultural.

 

 

 

2 COMENTÁRIOS

  1. Juazeiro era caracterizada pela saudade, hoje pela amnésia ! Grande texto ! Eu estou no rol dos que já deixaram de se importar com a cidade. Chega um momento que não adianta lutar até a morte. A vida é maior que uma cidade que se engana fácil demais…

  2. Parabéns João Gilberto Guimarães pelo excelente texto ! Disse o que os Juazeirenses queiriam ouvir, descaso total com a nossa cultura e com o nosso povo por parte dessa gestão !

DEIXE UMA RESPOSTA

Comentar
Seu nome