“O legal e o imoral: É uma questão cultural”, por João Gilberto Guimarães Sobrinho

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A classe artística de Juazeiro foi surpreendida nos últimos dias com a notícia da utilização dos recursos públicos da lei Aldir Blanc na realização do último carnaval, sobre esse assunto, algumas questões precisam ser devidamente esclarecidas, o cidadão juazeirense deve se indagar o porquê de tal destinação, ora, sabemos que o carnaval de juazeiro tem mais de 100 anos e sempre foi realizado sem recursos da Aldir Blanc, se usaram esse dinheiro para o carnaval, precisamos saber onde estão os recursos do município para a cultura.

É fato que essa gestão, que se elegeu com o mote de amor pela cidade, pelas tradições e etcétera e tal, não gosta mesmo do assunto, foram 3 anos e meio de
feijão com arroz e quase nenhuma mistura, eventos pontuais como o carnaval, o São João e a Via Sacra e só, incentivo para a cultura? Necas de pitibiribas, criação de editais? Nem pensar!

Formação, fruição e apoio a iniciativas individuais dos artistas? Pra quê?
Até aí, vamos lá, a gente faz o que dá com o que tem, mas é gritante o acinte contra os produtores culturais da cidade, vá lá que gastaram o dinheiro no carnaval, que pagaram valores exorbitantes para artistas de outros lugares, mas e os artistas que não participaram do carnaval, os que contavam com o recursos federais para executar seus projetos, esses que não tiveram sequer a chance de disputar, legalmente, através de editais, os tais valores? Gastaram à revelia, sem consulta prévia ou aviso, um milhão e duzentos mil reais em quatro dias, dinheiro que poderia, que deveria ter sido dividido para a classe artística, pra que esta pudesse transformar em cultura acessível para o povo da cidade, espetáculos teatrais, dança, saraus, lançamentos de livro, música, como pode um recurso
tão importante ser desperdiçado de forma tão irresponsável? Nós os juazeirenses, temos que nos perguntar, qual o legado que fica de um carnaval? Já passou, três dias depois ninguém se lembra mais.

Também é interessante ressaltar as competências, nota-se que para realizar os editais existem trezentos empecilhos, normas, burocracias, paciência e espera, mas quando se trata de utilizar o rde utilizar o recurso no calar da noite, no silêncio das trevas, há aí muita competência. Não deveriam os responsáveis ter anunciado previamente, a utilização deste dinheiro público no carnaval? Pois, se não há nada a esconder, se foi um processo legal porque não compartilhar com a classe artística, essa mesma classe que vive à míngua, esperando o trem chegar na estação fechada?

A lei Aldir Blanc, minha gente, foi criada num momento de emergência para ajudar na subsistência da classe artística brasileira durante a pandemia, deu tão certo que foi prorrogada por mais 5 anos, e qual o precedente a prefeitura de Juazeiro abre agora? Será que as próximas gestões vão se valer do legal para praticar o imoral? Quem deveria patrocinar o carnaval é a indústria cervejeira, principal beneficiada desse eventos baseados no pão e circo, não é a classe artística que tem que padecer para mover as molas eleitoreiras de uma política partidária falida.

Senhora Prefeita de Juazeiro, em um ato de grandeza, de boa fé para com seus munícipes e para com a classe que tanto te apoiou, devolva os recursos, lance os editais e (re) conquiste a confiança e a simpatia daqueles que só tem o voto como escudo diante de tantas intempéries

João Gilberto Guimarães Sobrinho é produtor cultural, cientista social formado pela Universidade Federal do Vale do São Francisco, Pós graduando em Politicas Públicas e direitos sociais, pesquisador das Políticas Públicas de Cultura.

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