Mulheres do Sertão do São Francisco debatem violência e representatividade política na 22ª Assembleia da Rede Mulher

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Cerca de 80 mulheres de 10 municípios do Território Sertão do São Francisco se reuniram entre os dias 8 e 10 de novembro para a 22ª Assembleia Territorial da Rede Mulher. O evento, com o tema central “Mulheres em Luta: Contra a Violência e Pela Representatividade Política”, proporcionou um espaço de diálogo e troca de experiências entre as participantes e representantes de diversas instituições.

Empoderamento e enfrentamento à violência

Com o seminário “Diálogos com a Rede Mulher: – Violência + Empoderamento”, realizado no Centro de Formação Dom José Rodrigues, o encontro marcou a avaliação de um projeto que, em parceria com a Coopervida, Rede Mulher e a Secretaria de Políticas para Mulheres (SPM), promoveu rodas de conversa nos 10 municípios da região, abordando questões relacionadas à violência contra a mulher.

A programação reuniu diversos atores sociais envolvidos no combate à violência, criando um espaço seguro para as participantes expressarem suas dúvidas e compartilharem experiências. Entre os presentes estavam Camila Batista, da SPM; Marli Carvalho, do Espaço Lilás de Juazeiro; Nívea Solange, do Irpaa; além da Ronda Maria da Penha e Claudia Munis, representando o mandato da deputada estadual licenciada Neusa Cadore. Elas ouviram atentamente as demandas e vivências das mulheres, sinalizando que, apesar dos desafios persistentes, existem caminhos para que as mulheres sejam cada vez mais protegidas e respeitadas.

Camila Batista parabenizou a Coopervida, Rede Mulher e demais redes do território: “Parabéns à Rede por realizar um evento que garante que a política pública chegue a todos os municípios, especialmente às mulheres do meio rural. Vocês estão fazendo história e levando essa história para a política voltada para as mulheres dentro do Estado da Bahia.” Batista ainda reforçou o desejo de continuar com a parceria com a Rede: “Com certeza esse movimento foi riquíssimo, e levaremos para a nossa Secretaria para repensarmos a articulação nos territórios de identidade, com a participação ativa das mulheres… nossa parceria será eterna.”

Além de tratar dos desafios, o encontro também celebrou conquistas e apontou obstáculos a serem enfrentados, como a violência institucional, a naturalização da violência pelo patriarcado e as ameaças aos territórios. Gizeli Maria, coordenadora territorial da Rede e presidente da Coopervida, destacou a importância da atuação do Estado: “É preciso que o Estado se aproxime ainda mais das mulheres, entendendo suas realidades e colaborando para a construção de políticas públicas que reflitam essa escuta.” Ela concluiu: “Apesar dos desafios, este evento demonstra que estamos no caminho certo para construir um futuro mais justo e seguro para as mulheres.”

A luta por mais mulheres na política

Em mais um dia de debates, a Assembleia trouxe à tona a questão da participação feminina na política, com uma exposição conduzida por Érica Daiane, do Coletivo Enxame. Apesar de representarem a maioria do eleitorado, as mulheres ainda ocupam uma minoria de cargos políticos. Segundo Érica, essa desigualdade é atribuída ao caráter excludente da política partidária: “É um ambiente visto de longe por muitas mulheres e, de fato, é excludente, afasta, não favorece nossa participação. Apesar de sermos maioria do eleitorado no Brasil, ocupamos menos de 10% das cadeiras nos poderes legislativo e executivo do nosso país”, afirmou.

Ela ressaltou a importância de espaços exclusivos para que as mulheres discutam as barreiras que enfrentam e encontrem soluções coletivas: “Precisamos cada vez mais falar sobre isso, nos unir para compartilhar as dificuldades que nos impedem e propor como podemos avançar, que condições precisamos criar para mudar esse cenário. E só conseguiremos fazer isso em espaços exclusivamente nossos, onde podemos discutir amplamente a partir do nosso lugar de fala.”

Érica também abordou a necessidade de empoderar as mulheres para que enxerguem a política como uma ferramenta de transformação: “À medida que provocamos as companheiras a refletirem sobre como a política está presente no nosso modo de vida e desperta a necessidade de empoderamento das mulheres, acredito que oportunizamos mais mulheres a visualizarem as possibilidades de contribuir com a política no lugar onde estão, intervindo em suas realidades.” Ela acredita que essa conscientização pode fazer com que mais mulheres se sintam aptas a ocupar cargos políticos, serem votadas ou apoiar outras mulheres que realmente as representem.

Karine Pereira, representante da Rede em Juazeiro, ao comentar sobre o evento, ressaltou a importância da organização feminina: “Participar da Assembleia da Rede é sempre um momento de reafirmar a crença de que a organização de mulheres é o caminho para as mudanças que busco no mundo. A equidade de gênero e o fim do feminicídio são algumas dessas mudanças.” Ela reforçou a necessidade de espaços de diálogo para construir soluções contextualizadas: “São temas que, infelizmente, fazem parte do cotidiano de muitas mulheres. Conversar sobre eles em um encontro como esse é fundamental para que possamos construir juntas caminhos possíveis e contextualizados para as mudanças que almejamos.”

Além dos debates, a Assembleia ofereceu oficinas sobre autocuidado, uso de fitoterápicos e comercialização em feiras, destacando a importância do cuidado com a saúde física e mental para sustentar a luta por igualdade. O evento encerrou-se com um clima de fortalecimento dos laços entre as participantes, que saíram da 22ª Assembleia com novas perspectivas e comprometidas em expandir as ações de enfrentamento à violência e pela conquista de espaços políticos.

A Assembleia é uma realização da Rede Mulher em parceria com a Comissão Pastoral da Terra, Conselho Pastoral dos Pescadores e Pescadoras, o Irpaa e SASOP, com apoio da Secretaria de Políticas para Mulheres do Estado da Bahia.

Agência Chocalho

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