A suspensão dos partos cesários no Hospital Materno Infantil de Juazeiro, na região Norte da Bahia, por falta de foco cirúrgico e bisturi elétrico, não tem afetado apenas a assistência das gestantes do município. Uma das consequências da falta de equipamentos na maternidade tem sido a superlotação do Hospital Dom Malan, em Petrolina, que tem recebido cada dia mais pacientes transferidas da maternidade do município baiano.
Em contato com o Portal Preto no Branco nesta quinta-feira (1),) o companheiro de uma gestante que está no HDM aguardando por uma cesária, relatou que a situação é de calamidade.
“É inadmissível o que as gestantes estão enfrentando nos últimos dias por conta da irresponsabilidade da prefeitura de Juazeiro. Minha esposa não tem condições de ter um parto normal e, após horas de espera na maternidade de Juazeiro, teve que ser transferida para Petrolina. Isso aconteceu porque as cirurgias estão suspensas na maternidade de Juazeiro por falta de equipamentos. Uma vergonha. Chegando aqui no Dom Malan nos deparamos com um hospital superlotado, com muitas gestantes vindo da maternidade de Juazeiro e aguardando pela cesárea. Não sabemos quando o parto da minha esposa será feito e tudo isso gera uma grande aflição. O que está acontecendo é um verdadeiro estado de calamidade”, avaliou.
Também em contato com o PNB, a mãe de uma gestante que também foi transferida do HMI de Juazeiro para o HDM de Petrolina também reclamou da superlotação e da incerteza sobre quando o parto da filha será realizado.
“Minha filha está com 41 semanas de gestação e deu entrada na maternidade de Juazeiro às 8h da manhã da terça-feira (12). Mas, como a bebê dela está com 4kg, ela tem que passar por uma cesária. Como na maternidade de Juazeiro não está fazendo, ela foi transferida para o Hospital Dom Malan na terça à tarde e disseram que iam fazer a cesariana, mas até hoje nada. Ontem, chegaram a preparar ela, dizendo que a cesária seria feira à noite, mas quando foi às 20h disseram que iam quebrar o jejum dela, pois o parto só seria feito hoje pela manhã. Às 5 horas da manhã já prepararam ela de novo, mas até agora nada. Ela está até agora com fome. Fui à assistente social e ela falou que não sabe a hora que podem fazer o cesáreo dela, porque tem muitas gestantes aguardando por uma cesária. Uma humilhação”, declarou.
Encaminhamos, mais uma vez, um pedido de esclarecimento à Secretaria de Saúde de Juazeiro. Em resposta, a Sesau informou que, “para resguardar a saúde e bem-estar das gestantes e dos bebês, está encaminhando os partos que necessitem de cirurgias para a regulação. A Secretaria informa que essa situação é provisória, até que seja concluída a manutenção de um equipamento fundamental para a realização de cirurgias. A previsão é que o atendimento seja normalizado na próxima terça-feira (19). A Sesau ressalta que a regulação é responsabilidade da Central de Regulação Interestadual de Leitos – CRIL, órgão gerido pelo estado e que está ciente da situação”.
Também entramos em contato com o HDM de Petrolina em busca de um posicionamento sobre a situação e aguardamos uma resposta.
Relembre
Nesta terça-feira (11), o PNB já havia alertado de que os procedimentos cirúrgicos estão sendo suspensos no Hospital Materno Infantil de Juazeiro, devido à falta de equipamentos. Conforme os denunciantes, que preferiram não se identificar por medo de represálias, a situação já dura sete dias.
“A Maternidade Municipal de Juazeiro da Bahia está sem funcionar adequadamente há pelo menos 7 dias, devido ao fato de que o Foco Cirúrgico (equipamento que ilumina o campo da cirurgia e sem o qual os médicos não conseguem enxergar adequadamente os órgãos internos das pacientes) está quebrado. O ideal é que para cada sala de cirurgia houvesse pelo menos 1 ou 2 focos em boas condições, mas há muito tempo, das duas salas cirúrgicas, apenas 1 delas tem um foco, de qualidade ruim e que acabou de quebrar. Isso sem contar que o bisturi elétrico também está quebrado há muito tempo”, revelou.
A denuncia disse ainda que as cesáreas que precisam ser realizadas no HMI estão sendo feitas de forma inadequada, colocando em risco a vida das gestantes e dos recém-nascidos.
“As pacientes com cesáreas programadas ou as que têm risco de precisar dela de urgência, estão sendo transferidas para o HDM. Outras, que não conseguem ser transferidas, são operadas em situação de guerra, iluminadas com material improvisado. Isso afeta tudo. Além disso, as pacientes que precisam de indução do parto não podem ser induzidas pelo risco de precisar operar, se a indução falhar. E assim, mais transferências são solicitadas”, acrescenta.
O denunciante finalizou cobrando providências urgentes da gestão municipal.
“Não são equipamentos caros para justificar a não aquisição ou a manutenção adequada pelo município, mas que são essenciais para o serviço funcionar e evitar que cirurgia sejam retardadas ou que pacientes sejam transferidas por falta de condições de trabalho. Assim, solicito a divulgação dessa situação, na esperança de que a gestão se sensibilize com essa informação e resolva esse problema o mais cedo possível, para o bem das nossas gestantes e para que a maternidade seja um local de trabalho com condições mínimas para as equipes assistenciais”, cobrou.
Preocupada com a situação, outra fonte do PNB ratificou a denúncia.
“A Maternidade Municipal de Juazeiro se encontra desde quinta (06/11/2024) sem condições de realizar procedimentos cirúrgicos devido falta de foco cirúrgico. Ontem o plantão foi ‘fechado’ devido nada ter sido resolvido até o momento. Atualmente, não estamos recebendo pacientes de outros municípios e as pacientes que chegam na maternidade estão sendo colocadas na regulação, para serem transferidas para outras unidades da rede PEBA. Se alguma paciente evoluir para parto normal e tiver qualquer indicação de uma cesariana de emergência, a mesma tem que ser colocada dentro da ambulância e ir como vaga zero para o Dom Malan ou ser operada no escuro devido à falta do foco cirúrgico”, contou.
Encaminhamos as reclamações para a Secretaria de Saúde de Juazeiro, mas não recebemos um retorno até o momento.
Redação PNB