Pedimos licença e saudamos a todas as mulheres artistas do Vale do São Francisco que vieram antes de nós para contar nossa história e celebrar novas conquistas.
Por muito tempo na história fomos ensinadas a limitar nossa autenticidade pra caber. Mas a arte, palavra feminina, tem vida própria, e abre caminhos diários pra gente se reconhecer e reconhecer uma a outra.
Muitos podem fingir não ver, mas a verdade é que, nos últimos anos, estamos assistindo a nossa história ser contada por nós mesmas.
Para além de interpretar obras de outros compositores, estamos cada vez nos apropriando de outros espaços criativos, dirigindo, produzindo, arranjando, tocando instrumentos, discotecando, compondo nossa própria forma de ver o mundo.
A pluralidade musical é tão grande que temos travestis rappers, como Killauea; Anny Barbi, Mel Rios, Ana Costa, Mari Ribeiro, Katarina Laviny no sertanejo/forró; Djs como Tama, Candite, Lesbionica, Anamauê, Voodox. Temos o Pop Ribeirinho de Malu Rizzo, o MPB de Bianca Cordeiro, Becca Barros, Fernanda Luz, Karielle Menezes, Mirielle Cajuhy, Dayanne Menezes, Fabiana Santiago, Joyce Guirra. O samba muito bem representado por Camila Yasmine, Mádara Bittencourt. Lara Bless no axé. Nanda Rocha no pop rock. Os poemas sonoros de Lu Almeida, Edneide Torres e Bárbara Pontes. Ritmos e melodias executadas por Candyce Duarte, que além de professora de música, é multi-instrumentista e pioneira das discussões de pautas que giram em torno das mulheres na música aqui no Vale do São Francisco; Bárbara Ribeiro e Carina Oliveira nas batucadas, Bia Aguiar na guitarra, Victoria Duarte, também multi-instrumentista, e tantas outras artistas incríveis que a cada dia que passa, se apoderam deste lugar que sempre foi nosso.
Este ano dois importantes festivais nacionais aconteceram no mesmo final de semana, Festival Edésio Santos da Canção e Festival Geraldo Azevedo. E apesar das polêmicas que giraram em torno deste choque de datas, pudemos assistir a um pódio majoritariamente composto por mulheres, com Andrezza e Joyce Guirra ocupando primeiro lugar, melhor intérprete e terceiro lugar; e Wênia Trindade e Fernanda Luz enquanto primeiro lugar, segundo lugar e melhor intérprete, respectivamente.
Estas premiações são motivos de celebração não apenas individual mas também coletiva, para que todas as mulheres que produzem, compõem, tocam, cantam e quebrem barreiras e continuem a manter a nossa história viva.
E para além disso, esta carta também é um apelo para que as gestões públicas das duas cidades (e arredores) repensem as programações dos eventos das cidades para incluir mais artistas femininas nas grades, como forma de contribuir com a equidade de gênero no setor cultural, fomentar o crescimento econômico de um mercado que gera renda para diversos setores, além de dar espaço para novas vozes serem ouvidas.
Nós, Andrezza e Wênia Trindade, desejamos muita força, dedicação e resiliência para cada pessoa que sonha. A luta continua! E as celebrações também!
Salve Odomaria, Sibelle Fonseca, Dona Amélia, Dona Ovídia Izabel, Débora e Lulu, e tantas outras referências que precisaram correr para que nós hoje pudéssemos caminhar! Evoé!
21/11/2024