A palavra “Inteligência artificial” foi redescoberta nos últimos dois anos, após o sucesso de aplicações como o DALL-E, da Open AI, que permite a geração de imagens
através de seus comandos, ou o SUNO, que permite a criação de uma música em poucos segundos no ritmo em que você preferir e a hora em que você quiser (o que não garante que a música irá sair de forma perfeita. A Inteligência Artificial Generativa virou para muitos, uma invenção tão importante quanto o fogo ou a eletricidade, pois existe a possibilidade de, em um futuro próximo, combater as mudanças climáticas e ajudar na cura de doenças nas quais a medicina ainda não encontrou uma solução. Confira Texto na Integra Aqui
Outras pessoas preferem acreditar que a evolução dessa tecnologia pode causar efeitos catastróficos para o planeta terra devido ao uso excessivo de água e de energia necessários para alimentá-las, além de retirar empregos e possivelmente contribuir com um “apocalipse digital”, onde as máquinas ficariam mais inteligentes do que os seres humanos. Aqui não discutirei qual lado está correto, pelo contrário, meu trabalho hoje é tentar provar que essas visões distintas podem se correlacionar para ajudar a traçar os próximos passos da inteligência artificial.
Uma ameaça ao futuro da humanidade-Em abril deste ano, o renomado programa The Daily Show (O Show Diário), que mistura jornalismo com humor, criticou fortemente as promessas da inteligência artificial, afirmando que o que a tecnologia consegue fazer agora é retirar empregos já existentes1. Este argumento também é compartilhado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), que em janeiro publicou que a inteligência artificial pode afetar 40% dos empregos a nível global, além de “provavelmente piorar a desigualdade social”.
O uso da tecnologia para criar falas que nunca saíram da boca de personalidades também é uma preocupação para o futuro da inteligência artificial, apesar de seusefeitos já estarem sendo sentidos no presente. Em setembro de 2023, uma versão “adulta” da música Chiclete Com Banana de Jackson do Pandeiro, usou a voz de Pablo Vittar para recriar a canção com uma letra completamente diferente, confundindo muitos incluindo esse que vos escreve) a achar que ela realmente tivesse alterado a mensagem original, se revelando na verdade apenas uma tramoia feita pela inteligência artificial .
Apesar do caso “Tio Sam” ter sido bem intencionado, não dá para se dizer o mesmo do uso de vozes falsas para vender produtos inexistentes ou para a aplicação de golpes. Em dezembro de 2023, o Fantástico denunciou contas falsas que anunciavam no Instagram usando as figuras de Drauzio Varella, Willian Bonner, Marcos Mion e Sandra Annenberg. Os conteúdos são diversos, indo de cura para queda de cabelo, facilitação de saque em banco, até um suposto chá que ajuda no desenvolvimento de criançasautistas4. Entre março e maio deste ano, 4321 anúncios exibidos nas plataformas da Meta, controladora do Facebook e do Instagram, utilizaram a imagens de políticos para promover uma falsa indenização do Serasa. Dentre os mais reconhecidos, estão os Deputados Federais Nikolas Ferreira e Eduardo Bolsonaro, além do Presidente da República Luís Inácio Lula da Silva. A grande maioria destes anúncios foram bloqueados pela META, mas 1.154 publicações acabaram não sendo moderados pela empresa.
O uso excessivo de água e energia das empresas de tecnologias, chamadas popularmente de BigTechs, é uma outra preocupação para o futuro da Inteligência Artificial. De acordo com um estudo da Universidade de Califórnia, um e-mail de 100 palavras escrito pelo ChatGpt-4 consome em média, 519ml de água e 0,14kwh de energia, o equivalente a manter 14 lâmpadas de LED acesas por uma hora6. Já para gerar uma imagem feita por IA pode gastar 1,35kwh, 100 vezes mais do que a média de energia gasta em um carregamento de celular7 . Para o Professor Associado de Engenharia Elétrica e de Computação na Universidade da Califórnia, Shaolei Ren, a procura global de Inteligência Artificial pode exigir de 4,2 a 6,6 mil milhões de metros cúbicos de captação de água em 2027, o que é mais do que a captação total de metade do Reino Unido. Shaolei também alerta sobre as possíveis tensões sociais entre os data centers de Inteligência Artificial e as comunidades locais, levando uma possível turbulência social caso as grandes empresas continuem consumindo grandes volumes desse bem vital, sugerindo então que a pegada hídrica da inteligência artificial seja medida e se torne pública, auxiliando na diminuição do consumo hídrico8…
Ou será que não?
Depois destas notas desanimadoras, chegou a hora de jogar o jogo do contente, e mostrar que existem pessoas entusiasmadas com o futuro da inteligência artificial. O economista e professor do Instituto de Tecnologia de Massachussets, David Autor, publicou na Noema Magazine um texto que afirma que a inteligência artificial pode ajudar a reconstruir a classe média. Ele afirma que em vez de retirar empregos, a inteligência artificial pode especializar profissionais já capacitados, aumentando a experiência do funcionário na área de trabalho: “A IA oferece vastas ferramentas para aumentar os trabalhadores e melhorar o trabalho. Devemos dominar essas ferramentas e fazê-las trabalhar para nós.”
David também tem uma posição sobre aqueles que acreditam que a máquina fará tudo sozinho no futuro, afirmando que ainda está longe de ser viável economicamente a substituição de humanos por robôs, e que a autonomia robótica ainda está falhando em coisas simples, como dirigir um carro sozinho, devido a imprevisibilidade do trânsito, dos pedestres e do clima a IA ainda não consegue dirigir um carro sozinho sem causar acidentes, mas consegue fazer algo bem mais útil e crucial para muitas mulheres: a identificação rápida do câncer de mama. Em 2021, o Google realizou pesquisas clínicas em parceria com a Northwestern Medicine para testar a capacidade de uma ferramenta que detectava metástases através de radiografias em pacientes com suspeita da doença. Além de reduzir a probabilidade de um resultado falso, a deep learning do Google foi capaz de analisar um exame de mamografia em menos de dois minutos10.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou em 2021 um relatório do uso consciente da inteligência artificial, ressaltando sempre a presença humana na tomada de decisões e a capacitação dos profissionais que irão lidar com a ferramenta, além de sua constante
atualização para respeitar todas as nacionalidades, gêneros e raças, evitando assim que o algoritmo acabe “viciado”.
Precisamos de regulamentação?
A regulação da inteligência artificial é necessária? Para o economista americano John H. Corraine, não. Em um post no site Substack em setembro deste ano, ele afirma que uma regulação desta tecnologia beneficiaria somente as empresas de tecnologias que já estão consolidadas no ramo da IA: “Estudando a regulamentação real em indústrias como telefones, rádios, companhias aéreas e ferrovias, acadêmicos como Buchanan e Stigler descobriram como capturar uma narrativa muito mais explicativa: as indústrias usam a regulamentação para obter proteção contra a concorrência e para sufocar recém-chegados e inovadores”. Corraine afirma ainda que a inteligência artificial não é um perigo para a democracia, mas sim a sua regulamentação, pois como é um ato feito pelo Estado, as ideias que podem ser repassadas pela inteligência artificial poderiam ser censuradas por quem controla a máquina pública.
Ao contrário de Corraine, minha maior preocupação não é a regulação da inteligência artificial, mas sim, se quem está fazendo a regulamentação tem a mínima ideia do que está discutindo. Em fevereiro de 2023, a repórter da NBC Julie Tsirkin perguntou aos senadores do congresso americano se eles sabiam o que a inteligência artificial era capaz de fazer, e como era de se esperar, a réplica foi simples e curta, afirmando que esse ainda era um território novo e desconhecido1 . Vale lembrar que esse é o mesmo Congresso que testemunhou inúmeras vezes nomes conhecidos da tecnologia como Mark Zuckerberg (CEO da Meta), Sundar Pichai (CEO do Google) e Chew Shou Zi (CEO do TikTok), que tiveram suas vidas facilitadas com perguntas como “eu posso usar o Facebook na china14” ou “Você (Chew Show Zi) é um membro do partido comunista da China?”, sendo que Show nasceu em Singapura. Estas declarações nos mostram que ainda estamos distantes de elegermos representantes que saibam ir na ferida e cobrar os reais problemas das bigtechs.
A inteligência artificial já é uma realidade. Sim, uma realidade ainda bem recente, problemática, subestimada e superestimada ao mesmo tempo, que consegue criar
códigos de criação complexos em minutos, mas que erra ao responder em que cidade está sediada a TV São Francisco16 . Ela gasta muita água e energia, e simultaneamente, ajuda na descoberta mais rápida de metástases; enriquece as grandes empresas de tecnologias, ao mesmo tempo que ameaça empregos e é capaz de profissionalizar profissionais já estabelecidos. Por enquanto, o uso básico da IA para grande parte da população é um Google (supostamente) mais inteligente, com um amontoado de copia e cola das fontes feitas por humanos com o objetivo de aumentar a produtividade. No final das contas, só nos resta aprender a como usar as diferentes ferramentas de inteligência artificial, e torcer para que elas nos ajudem profissionalmente, ao invés de nos substituir.
Por André de Souza Dias Araújo, aluno do Curso Jornalismo em Multimeios-Campus Juazeiro Bahia