Ararinha-azul é reintroduzida na natureza após duas décadas e se torna simbolo da conservação ambiental no Brasil

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A ararinha-azul (Cyanopsitta Spixii)  está entre  os  animais  brasileiros, que foram  completamente  extintos  na  natureza  e  só  sobreviveram  graças ao manejo ex situ,  a espécie  é a única representante de seu gênero em Curaçá, no sertão baiano.

Segundo informações anexadas no Plano De Ação Nacional Para A Conservação Da Ararinha-Azul a  espécie  foi  descoberta  em  1819  e  descrita em  1832,  embora  sua ocorrência  exata  tenha  permanecido  indefinida  até  1986,  quando  foram avistadas  três aves  no território de  Barra Grande-Melancia,  no  município de Curaçá, nordeste da Bahia  como apresenta a estudiosa Yara Barros uma das organizadoras do plano.

Plano de Ação Nacional para a conservação da Ararinha-azul. Ilustração: PANCA

Em 1990, o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) criou o Comitê Permanente para a Recuperação da Ararinha-azul (CPRAA), ainda assim, o tráfico de aves silvestres continuou, levando ao desaparecimento da espécie no início dos anos 2000. Apesar disso, Cyanopsitta Spixii conseguiu sobreviver em cativeiro. Cerca de 50 indivíduos foram identificados em criadouros ilegais pelo mundo.

Esses exemplares tornaram-se a base para o programa de reprodução assistida, iniciado na década de 1990. Um dos primeiros avanços veio com a formação de um grupo internacional de especialistas, que desenvolveu protocolos para evitar a consanguinidade e ampliar as chances de recuperação da espécie.

O projeto começou com a escolha e preparo da área de reintrodução no Brasil na cidade de Curaçá, localizada no norte da Bahia, região historicamente ocupada pela Ararinha-azul, mas degradada pela ação humana.

Para restaurar o habitat, o Núcleo de Estudos do Meio Ambiente  (NEMA) junto ao grupo da Área de Proteção Ambiental (APA), fizeram o recaatingamento e a área foi delimitada como unidade de conservação. A iniciativa não apenas fortaleceu a cooperação internacional, mas também trouxe de volta ao país aves que estavam em criadouros no exterior.


Paralelamente, as aves criadas em cativeiro passaram por aclimatação em recintos que simulam o ambiente natural, onde foram treinadas para buscar alimentos e reagir a predadores. No dia 11 de junho de 2022 um casal de ararinhas-azuis voltaram à natureza. Cerca de um ano depois de sua reintrodução, nasceram os primeiros filhotes após duas décadas .

No processo de soltura, as aves começaram a ser monitoradas por dispositivos de rastreamento acoplados ao corpo, como anilhas e transmissores GPS. O objetivo era aumentar as chances de sobrevivência na natureza. Especialistas em manejo acompanharam de perto cada etapa, monitorando a saúde, os comportamentos sociais e a capacidade de adaptação das aves.


Essa tecnologia permite que os pesquisadores acompanhem os deslocamentos das ararinhas, identifiquem áreas prioritárias de preservação e ajustem estratégias de manejo conforme necessário. Até o momento, os dados indicam que as aves estão se movimentando pela área de reintrodução e explorando o habitat, o que é considerado um avanço positivo.

O projeto Ararinha na Natureza é uma iniciativa comandada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), em parceria com o NEMA, APA, Fundo Mundial para a Natureza (WWF), Association for the Conservation of Threatened Parrots (ACTP), da Alemanha, e o Al Wabra Wildlife Preservation, do Catar.

Além da Cyanopsitta spixii, que foi extinta na natureza, outras três espécies de araras azuis presentes no Brasil também estão vulneráveis. A Arara-azul pequena (Anodorhynchus glaucus) encontrada no Paraná, Uruguai e Rio Grande do Sul; a Arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari), natural do norte da Bahia; e a Arara-azul-grande (Anodorhynchus hyacinthinus), presente majoritariamente nos biomas da floresta amazônica, cerrado e pantanal.

A nível global, muitos outros animais estão sob aviso de extinção. Segundo uma avaliação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP), estima-se que existam cerca de 8 milhões de espécies em todo o mundo, das quais aproximadamente 1 milhão estão ameaçadas de extinção. Esse cenário tem graves consequências para o equilíbrio biológico e ecológico do planeta.

O WWF destaca: “O patrimônio natural da Terra é composto por plantas, animais, terra, água, a atmosfera e os seres humanos. Juntos, fazemos todos parte dos ecossistemas do planeta, o que equivale a dizer que, se houver uma crise de biodiversidade, nossa saúde e meios de subsistência também entram em risco”.

A ararinha-azul tornou-se um dos maiores ícones da conservação ambiental no Brasil. Exclusiva do bioma Caatinga, a espécie enfrentou décadas de desmatamento, expansão agropecuária e captura ilegal. O desaparecimento da ave chamou atenção para a fragilidade da biodiversidade brasileira e evidenciou a urgência de ações concretas para evitar que outras espécies tenham o mesmo destino.

A trajetória da ararinha-azul é uma lição sobre como os esforços coletivos podem reverter danos causados por séculos de exploração predatória e negligência ambiental. No contexto atual, em que a conservação ganha relevância global, a história dessa ave reafirma a possibilidade de uma convivência mais harmoniosa com a natureza.

 

 

Por: André Souza, Eduarda Silva,  Mariana Saturnino e  Jóston Oliveira – Estudantes de Jornalismo da Uneb/Juazeiro

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