A Revolução de 1930 foi um movimento armado que resultou na deposição do então presidente Washington Luís e impediu a posse do presidente eleito Júlio Prestes. O levante ocorreu devido à insatisfação de setores políticos e militares com a política do café com leite, que alternava o poder entre São Paulo e Minas Gerais. A crise econômica de 1929 e o apoio de grupos descontentes, como a Aliança Liberal, fortaleceram o movimento que culminou na ascensão de Getúlio Vargas ao poder.
Ao eclodir o movimento revolucionário de 1930, administrava o município de Juazeiro o intendente Miguel Lopes de Siqueira. As tropas revolucionárias, oriundas da Paraíba e do Recife, deslocaram-se na direção sul para se reunir com as tropas sulinas que se dirigiam para São Paulo. Sob o comando do capitão Juarez Távora, penetraram o interior de Pernambuco, ocupando as cidades existentes no seu percurso. Pernambuco aderiu rapidamente à revolução e ofereceu apoio às tropas em marcha.
Chegando a Petrolina, os revolucionários teriam que atravessar o Rio São Francisco, mas havia um Juazeiro no caminho. Durante nove dias, a cidade de Juazeiro opôs uma heróica resistência ao avanço das forças revolucionárias. Com o apoio de coronéis da região e sob a coordenação do então deputado Cordeiro de Miranda, Juazeiro impediu o avanço das tropas amotinadas. Boatos davam conta de que os revolucionários se preparavam para bombardear a cidade, gerando pânico geral.
Para acalmar os ânimos e impedir uma tragédia, foi organizada uma missão diplomática em terreno neutro, na Ilha do Fogo. Participaram das negociações o juiz da comarca, doutor Perilo Benjamim, o vigário da paróquia, padre João Pedro Alves, e o ex-intendente Aprígio Duarte. Ficou acertado que aguardariam uma solução nacional antes de partir para os confrontos. Também foi determinado que, em caso de ataque dos revolucionários, seria permitida a retirada das mulheres e crianças.
Com a vitória da Revolução de 1930 anunciada em âmbito nacional, Juazeiro cessou sua resistência. Os coronéis e seus jagunços se recolheram às suas fazendas, e as tropas do movimento revolucionário ocuparam a cidade. O intendente Miguel Siqueira foi deposto do cargo e um oficial da força invasora assumiu o comando. O povo de Juazeiro, por medo, aderiu à revolução.
Seguiu-se uma breve “caça às bruxas”, e rumores indicavam que o mentor da resistência, o deputado Cordeiro de Miranda seria fuzilado. Não sendo ingênuo, nem besta nem nada Cordeiro foge para refugiar-se em uma fazenda em Sento Sé.
Aos poucos, os ânimos se acalmaram e, em dezembro de 1930, Rodolfo Araújo assumiu a prefeitura de Juazeiro, permanecendo no cargo até 1932. Esse episódio curioso na história da cidade denota o espírito aguerrido do povo juazeirense, ao mesmo tempo em que coloca Juazeiro mais uma vez em destaque na história nacional. Ainda mais interessante é a reação da cidade ao golpe militar de 1964, que culminou na ditadura, mas isso é história para outro artigo.
Para saber mais sobre o assunto recomendo a leitura dos livros “Juazeiro: trajetória histórica” de Angelina Garcez e Consuelo sena, e ‘Transição capitalista e a classe dominante no nordeste’ de Ronald H. Chilcote
Por João Gilberto Guimarães Sobrinho, juazeirense, produtor cultural, cientista social formado pela Universidade Federal do Vale do São Francisco, Pós graduando em Políticas Públicas e direitos sociais, pesquisador das Políticas Públicas de Cultura.