Na manhã desta quinta-feira, 27 de março, Petrolina celebrou uma das maiores referências culturais do Vale do São Francisco: a mestra do Reisado de Santa Maria da Boa Vista Maria Jacinta.
A cerimônia, que lotou o auditório da Fundação Nilo Coelho, contou com a presença de diversas autoridades, como George Duarte (Prefeito de Santa Maria da Boa Vista), Anselmo Gomes (Vice-prefeito de Santa Maria da Boa Vista), Jean Carlos de Alencar (Reitor do IF-Sertão), Muller Alencar (Chefe de gabinete da reitoria da UNIVASF), Jailson Lima (Gerente do Sesc/Petrolina), Dona Santinha, Dona Angelita e Dona Diuza (Representando a Associação das Mulheres Rendeiras do bairro José e Maria), Rubrest Jericó (Ex-vereador de Santa Maria da Boa Vista), Gilvaneide Silveira (Vereadora de Santa Maria da Boa Vista), Tiara Melo (Secretária de Cultura de Santa Maria da Boa Vista) e Humberto Mendes (Ex-prefeito de Santa Maria da Boa Vista).
Com 100 anos de vida, Dona Jacinta recebeu o Título de Cidadã Petrolinense e a Medalha de Honra ao Mérito Dom Malan, em solenidade que foi uma verdadeira celebração da sua existência. As honrarias foram proposições do vereador Professor Gilmar (PT), que destacou a importância dessa homenagem: “Dona Jacinta é uma guardiã da nossa cultura popular. Sua trajetória representa a resistência, a preservação e a força das nossas tradições negras, nordestinas e ancestrais. Hoje, a entrega dessas honrarias é um reconhecimento ao seu trabalho incansável em manter viva a nossa identidade cultural”, afirmou o vereador.
A cerimônia iniciou com a apresentação do Samba de Véio da Ilha do Massangano, dando o tom de celebração e valorização da cultura popular. Dentre as homenagens, o vereador Gilmar Santos emocionou a todos ao cantar uma música autoral que compôs especialmente para Dona Jacinta, com a melodia acompanhada pelo sanfoneiro Iván Greg.
Dona Jacinta, profundamente emocionada, não conteve as lágrimas de gratidão. Durante a cerimônia, ela contou sua história, a criação do seu Reisado e ainda presenteou todos os presentes com as cantigas do Reisado em um momento lindo e muito especial. “Eu quero agradecer de todo o meu coração. Muito obrigada por tudo, por este apoio. A gente faz uma coisinha achando que não vai a frente, mas Deus é quem prepara e ele foi quem preparou, porque só Deus sabe como eu saía com esse Reis, mas a alegria vinha de dentro do meu coração. A coisa melhor que eu achava no mundo era cantar Reis e ainda hoje, quando precisar, pode convidar”, disse Dona Jacinta, emocionada.
Memória Viva do Sertão
Dona Maria Jacinta não é apenas uma mestra do Reisado, ela é uma verdadeira rainha ancestral, cuja dança e música reverberam pelo Vale do São Francisco. Ao longo de sua vida, ela preservou a tradição do Reisado, levando para as ruas e igrejas de Santa Maria da Boa Vista o encanto das cantigas e das histórias que atravessam gerações. O “Reisado de Dona Jacinta”, como é conhecido seu grupo, é mais que um simples folguedo. Ele é um rito de resistência, que celebra o nascimento de Jesus e reverencia os santos, mas também mantém acesa a chama da nossa cultura popular.
Hoje, Dona Jacinta, aos 100 anos, vê o reconhecimento de sua vida dedicada a essa tradição. Mesmo que seu corpo já não acompanhe os passos da juventude, sua presença continua forte como um farol que orienta todos que buscam na cultura popular a força de um povo. Em sua caminhada, ela semeou o Reisado não apenas entre seus filhos e netos, mas também em escolas, projetos sociais e na comunidade, garantindo que a memória de um povo que nunca se deixa abater continue viva.
Cada passo, cada movimento, cada canto da Mestra Jacinta que ecoa no vento carrega a força de um povo que se mantém firme em suas raízes. Em cada fantasia feita à mão, em cada acorde de sanfona e pandeiro, há uma história de luta, de fé, de identidade. A cada apresentação, Dona Jacinta nos ensina que a cultura popular é o cimento que une a nossa comunidade, que nos dá força para enfrentar os desafios e nos conectar com as nossas origens.
Aos 100 anos, Dona Jacinta, com os passos da sua dança e a voz suave das cantigas, nos faz sentir o pulso vibrante de um Nordeste que nunca se cala. Sua presença é uma poesia em movimento. Cada história que conta, cada sorriso que oferece, cada lembrança compartilhada nos leva a um tempo de simplicidade e beleza, onde a cultura popular não é apenas um valor, mas uma força que impulsiona as gerações a seguir o caminho da resistência.
O tempo passou, mas o coração de Dona Jacinta nunca deixou de bater no ritmo das folias. Ela é, de fato, uma lenda viva, que dança na mente de todos nós e que, hoje, recebe o merecido reconhecimento da cidade de Petrolina. A cerimônia de hoje, com a entrega do Título de Cidadã Petrolinense e da Medalha Dom Malan, é um tributo a essa mulher que, através do Reisado, nos lembra da importância de manter viva nossa história, nossa cultura nordestina e nossa identidade.
“É um privilégio poder reconhecer o trabalho de Dona Jacinta. Ela é um exemplo de como uma cultura popular deve ser preservada e valorizada. Petrolina deve se orgulhar de tê-la como cidadã, de ver o seu legado sendo perpetuado por suas gerações”, disse Gilmar.
Ascom