“Não é um parto digno”: médicos obstetras expõem precariedades da maternidade do Hospital Regional de Juazeiro, recém inaugurada

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Um grupo de médicos obstetras do Hospital Regional de Juazeiro, na região norte da Bahia, enviou ao Portal Preto no Branco nesta quinta-feira (25) uma nota pública denunciando a precariedade da estrutura física da maternidade da unidade e as condições de trabalho enfrentadas pela equipe responsável pela assistência a gestantes de alto risco de toda a região do Vale do São Francisco.

Segundo o documento, apesar da estrutura nova e aparência moderna da maternidade recém inaugurada, o local não comporta com segurança e dignidade o crescente número de mulheres atendidas diariamente. Entre as reclamações da equipe médica estão: a insuficiência de leitos, a sobrecarga nos plantões, o uso de locais improvisados para realizar atendimentos e partos, além de cobranças de produtividade consideradas “incompatíveis com a realidade” e atrasos salariais constantes.

A nota chama a atenção para a falta de resposta da gestão hospitalar diante de diversas tentativas de diálogo. O grupo afirma ainda que, mesmo diante das adversidades, tem se esforçado para manter um atendimento humanizado.

Os profissionais alertam também que a situação é insustentável e exige um posicionamento urgente da gestão do hospital e das autoridades de saúde do estado.

Leia a nota na íntegra:

Nota à População do Vale do São Francisco

O grupo de médicos obstetras do Hospital Regional de Juazeiro vem, com profundo respeito e responsabilidade, manifestar sua insatisfação diante das recorrentes dificuldades enfrentadas desde a inauguração da Maternidade, um espaço que, apesar de sua estrutura nova e aparência moderna, não foi preparado para atender com segurança e dignidade o número crescente de gestantes de alto risco da nossa região.

Lidamos, diariamente, com uma estrutura física insuficiente:

• Apenas 2 leitos para parto normal, que podem ser ocupados por mais de 24h por uma única gestante;

• Apenas 2 salas cirúrgicas;

• 3 leitos de triagem para urgências obstétricas;

• 3 vagas de UTI geral que foram cedidos para casos obstétricos;

• 8 leitos de enfermaria para internações de alto risco;

• 22 leitos de alojamento conjunto para puérperas e recém-nascidos.

Enquanto maternidades de perfil semelhante contam com o dobro – ou até o triplo – desses recursos, nos perguntamos:

Como atender com qualidade? Onde acomodar tantas gestantes? Como garantir assistência adequada à parturiente e ao recém-nascido, se nos faltam leitos e berços?

Apesar das limitações, nossos plantões são marcados por empenho, coragem e malabarismos. Médicos e equipe de enfermagem se desdobram para oferecer um atendimento humanizado, mesmo quando precisamos acomodar pacientes em macas, em locais improvisados, sem a mínima estrutura para um parto digno.

Não é justo com as mulheres. Não é justo com os bebês. Não é justo com os profissionais.

Além da estrutura física limitada, enfrentamos cobranças de produtividade incompatíveis com a realidade e, para piorar, vivemos constantes atrasos salariais, sem nenhuma previsão de regularização por parte da gestão hospitalar.

Até o momento, nossas solicitações de reunião com a direção do hospital não foram atendidas.

É hora de olhar com seriedade para a maternidade do Hospital Regional de Juazeiro.

É hora de cuidar de quem cuida.

Com esperança e responsabilidade,

Grupo Médico de Obstetrícia Hospital Regional de Juazeiro

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