Edina Brandão Novaes, mãe da paciente Isabela Novaes Lacerda, 25 anos, que supostamente teve a bexiga perfurada durante o parto cesário realizado na madrugada do último sábado (16) na maternidade do Hospital Regional de Juazeiro, na região Norte da Bahia, voltou a entrar em contato com o Portal Preto no Branco nesta quarta-feira (16). Desta vez, ela relata que a filha não está recebendo o atendimento adequado na unidade de saúde.
“Ontem, quando fui visitar minha filha, encontrei ela gritando de dor. Eu tive que implorar para que as enfermeiras chamassem um médico para ver o que estava acontecendo. Ela está sofrendo com dores e não estão dando medicamento de dor. Ainda questionei o motivo e só disseram que não estava prescrito”, relatou.
Edina conta ainda que, apesar da gravidade da situação, nenhum especialista foi acionado para avaliar o quadro clínico da filha
“Ela teve a bexiga perfurada na madrugada de sábado e até hoje pela manhã não tinham mandado nenhum médico urologista avaliar o quadro dela. Se não fizerem nada, minha filha vai morrer. Ela vai ser mais uma de muitas que eu já vi morrer lá dentro. Por isso, eu imploro, salvem a minha filha pelo amor de Deus. Ela tem duas filhas que precisam dela.”, apela.
Entramos, mais uma vez, em contato com a gestão do Hospital Regional de Juazeiro em busca de esclarecimentos sobre o caso e aguardamos uma resposta.
Relembre o caso
Uma grave denúncia de suposta negligência médica chegou ao Portal Preto no Branco nesta segunda-feira (19), envolvendo a maternidade do Hospital Regional de Juazeiro, na região Norte da Bahia, recém inaugurada. Em contato com a nossa redação, Edina Brandão Novaes, mãe da paciente Isabela Novaes Lacerda, 25 anos, relata que a filha, que estava grávida de nove meses, não teria recebido um atendimento adequado pela equipe da unidade. A mãe, que é profissional de saúde e trabalha há cerca de 15 anos no próprio hospital, atribui as complicações pós parto sofridas pela mãe e bebê ao atendimento dado aos pacientes.
“Ela deu entrada na maternidade do Hospital Regional na sexta-feira (16), mais ou menos, umas 9h40. Antes do Hospital Regional, ela foi para a Maternidade Municipal de Juazeiro e lá disseram que a gravidez dela era de risco e encaminharam para a maternidade do HRJ. Ela saiu da maternidade com recomendação de fazer um parto cesáreo. Mas, quando minha filha chegou no Regional, a primeira coisa que fizeram foi induzir para tentar um parto normal. Minha filha não aceitou, mas a doutora induziu. Quando começaram a induzir o parto normal, ela começou a passar mal e pediu para tirarem a indução. Por volta das 11h40 a bolsa estourou. Mesmo assim, não fizeram a cesariana nela. A médica chegou a afirmar que minha filha poderia ter o parto normal, mas ela não tinha condição, não tinha força”, contou.
Ainda segundo a mãe da paciente entre as justificativas apresentadas por uma das obstetras da equipe para a não realização da cirurgia estariam a falta de materiais. A denunciante afirmou ainda que a profissional chegou a alegar até salários atrasados.
“A doutora chegou a alegar falta de material para fazer a cesariana e disse que eu poderia providenciar o material. Cheguei a andar nos setores para saber se realmente não tinha material e até pensei em procurar outras unidades de saúde para salvar a minha filha e minha neta. Porém, a equipe do centro cirúrgico me afirmou que o material não estava em falta. Além disso, ela ainda chegou a reclamar que estava sem receber salário. Já a outra doutora disse que minha filha não era prioridade e que tinham outras cesáreas para serem feitas na frente dela, e que a demanda era grande e a quantidade de material era pouca. Minha filha sofreu o dia inteiro. Já por volta das 19h40, uma das doutoras disse que encaminharia ela para o Hospital Dom Malan, porque ela e o bebê estavam correndo risco, e teria que fazer uma cesárea de urgência. Então, por que durante o dia todinho ela não teve urgência? Será que somente na passagem de plantão ela quis se livrar da minha filha e mandar para o Dom Malan? Por isso, eu disse que não aceitava, pois arriscava não ter vaga e iriam começar tudo do zero”, acrescentou.
Edina conta ainda que somente por volta da 00h51 o parto cesáreo foi finalmente iniciado, e que o procedimento também foi marcado por problemas e muito sofrimento para a paciente.
“Durante a cirurgia, que demorou mais que o normal, minha filha passou mal, chegou a desmaiar. Nesse momento, só tinham duas cirurgiãs no centro cirúrgico. O anestesista não permaneceu no centro cirúrgico, o quê para mim foi um erro gravíssimo. Eu nunca vi isso. Ele deu anestesia, saiu e não acompanhou a cirurgia. Eu percebi que minha filha não estava bem, já estava com os lábios roxos e gritei por oxigênio. Quando foi alertada por mim sobre o que estava acontecendo, uma das cirurgiãs pediu por ajuda e apareceram três médicos. Nesse momento conseguiram reanimar ela. Eu salvei a minha filha. Se eu não tivesse na sala da cirurgia ela teria morrido. Depois de tudo isso, uma das doutoras chegou para a minha filha e disse: ‘Isabela você sabia quando você assinou o termo de responsabilidade o risco que você ia correr. A sua bexiga foi dilacerada e você vai ter que usar uma sonda por 15 dias’. Além disso, como passou a hora de nascer, a bebê entrou em sofrimento e engoliu mecônio. Por isso, minha neta também precisou ficar internada”.
Edina relata que tanto a filha, quanto a neta precisaram ficar em leitos de UTI do HRJ.
“Minha filha saiu do centro cirúrgico direto para a UTI e estava irreconhecível, muito inchada. Ela precisou de sangue e está usando uma sonda vesical. Somente na segunda a tarde ela recebeu alta da UTI, mas segue internada. Foi negligência e uma sequência de erros que fizeram com a minha filha”, acusa a mãe.
Edina finalizou afirmando que irá acionar a justiça para que o caso seja apurado.
“Minha filha quase morreu e ainda não está fora de risco. Não sabemos se ela ficará com sequelas. Minha neta continua precisando de um tratamento intensivo. Durante os mais de 15 anos que eu trabalho no Regional nunca vi um paciente ser tratado como a minha filha foi. Por isso, queremos justiça. Eu vou procurar a Justiça e por isso pedi ao hospital o prontuário, mas não me deram. Procurei o Ministério Público e lá me deram um documento com a recomendação para me fornecerem o documento. Voltei ao hospital e, mesmo com a recomendação do MP, disseram que só dariam o prontuário a um oficial de justiça. Ainda assim, continuarei buscando os direitos da minha filha e da minha neta. Eu vou continuar lutando por justiça, mesmo que isso custe o meu emprego. Estou aqui como mãe e avó e não como funcionária”, finalizou a profissional de saúde.
Desde segunda-feira (19) encaminhamos um pedido de esclarecimentos a assessoria do HRJ, mas não obtivemos nenhuma resposta. Estamos encaminhando a denúncia para a Secretaria Estadual de Saúde.