Trabalhador não toma cerveja só por gosto. É o que sobra depois de uma semana inteira de suor, jornada puxada e salário curto. Enquanto isso, quem lucra com esse esforço vive no luxo — e só paga o mínimo porque é obrigado por lei.
O problema não é o churrasco simples, é ele ser a única opção.
Não é sobre inveja, é sobre justiça.
Enquanto alguns desfrutam de lanchas e jet skis nas águas calmas do Rio São Francisco, outros mal conseguem pagar a cerveja do fim de semana. O contraste entre o luxo de poucos e o esforço de muitos revela uma ferida aberta no coração do Brasil: a desigualdade social.
Para o trabalhador assalariado, a cerveja do fim de semana não é apenas um prazer — é, muitas vezes, a única válvula de escape. Depois de trabalhar seis dias para folgar apenas um, sem acesso a lazer digno, cultura, viagens ou descanso de verdade, sobra-lhe o churrasco simples e a bebida barata. É isso ou nada. Não porque ele escolheu essa vida, mas porque o sistema o empurrou para ela.
Do outro lado, estão aqueles que raramente pegam no pesado, mas lucram com o suor de quem trabalha. Pagam o salário mínimo — e só o fazem porque a lei obriga. Se pudessem, pagariam menos, ou nada. Enquanto isso, esses mesmos “empregadores” navegam despreocupados em seus brinquedos aquáticos de luxo, alheios à realidade que financia o seu conforto.
O problema não está no lazer em si, mas na desigualdade de acesso a ele. O que deveria ser um direito — o descanso, o lazer, a dignidade — vira um privilégio para poucos e um alívio precário para muitos. E seguimos repetindo o ciclo: o pobre trabalha, o rico lucra, e a esperança vai ficando para depois.
É urgente repensar o valor do trabalho, o modelo de distribuição de renda e o tipo de sociedade que estamos construindo. Enquanto a cerveja do fim de semana for a única alegria do trabalhador, é sinal de que ainda temos muito o que mudar.
Carlinhos Amorim
