Nos primeiros meses do ano, é comum observarmos o aumento significativo de casos de Doenças Respiratórias Agudas Graves (DRAGs), como pneumonias, bronquiolites e gripes causadas por vírus como o influenza e o VSR, especialmente entre crianças. Essa sazonalidade representa um dos maiores desafios para a rede de saúde pública brasileira, exigindo respostas rápidas, articuladas e técnicas por parte dos gestores do Sistema Único de Saúde (SUS).
Na Macrorregião Interestadual de Saúde Pernambuco-Bahia (MIS PE-BA), a Central de Regulação Interestadual de Leitos (CRIL) tem se debruçado sobre esse fenômeno de maneira estruturada. Atuando com base em protocolos técnicos e sistemas informatizados de monitoramento assistencial, a CRIL avalia diariamente solicitações por leitos hospitalares, priorizando os pacientes mais graves, com foco na equidade e na justiça do acesso.
Entre janeiro e maio de 2025, a CRIL registrou 1.342 solicitações por leitos pediátricos e neonatais, um aumento de 24% em relação ao mesmo período do ano anterior. Apesar da elevação na demanda, 981 solicitações foram efetivamente atendidas, alcançando uma taxa de resolutividade de 73% — um número expressivo diante do contexto de pressão sobre os sistemas de saúde.
Do total de solicitações atendidas, 66% foram reguladas no mesmo dia, e 85%
obtiveram resposta em até 24 horas, revelando a agilidade da regulação mesmo em
momentos de sobrecarga.
Esse desempenho, no entanto, não ocorre por acaso. Ele é resultado direto do
esforço conjunto dos Governos da Bahia e de Pernambuco, que desde 2024 vêm
promovendo a ampliação da capacidade instalada de leitos pediátricos e neonatais na
região. Nos municípios regulados diretamente pela CRIL — Salgueiro, Ouricuri,
Araripina, Campo Formoso, Petrolina e Juazeiro —, o total de leitos de UTI Neonatal
passou de 28 em 2024 para 42 em 2025, um aumento de 50%. Já os leitos de UTI
Pediátrica cresceram de 37 para 58, representando uma ampliação de 57%. Esse
avanço tem possibilitado que mais crianças sejam atendidas em tempo oportuno,
reduzindo riscos e salvando vidas. Quando não há disponibilidade nos territórios de
referência, a CRIL também busca alternativas em outras regiões dos estados da Bahia e
de Pernambuco, articulando o cuidado de forma responsável para garantir assistência
aos casos mais graves.
Ainda assim, vivemos uma situação crítica, marcada por uma demanda que supera temporariamente a oferta de leitos disponíveis. Esse descompasso exige atenção redobrada e responsabilidade compartilhada entre os serviços de origem e a regulação. O cumprimento rigoroso dos protocolos médicos-assistenciais se torna essencial para garantir que os recursos sejam direcionados de forma justa e eficiente, respeitando a gravidade dos casos e a lógica do cuidado integral.
Outro ponto fundamental a ser destacado é o modelo de funcionamento da regulação: a definição de quem será atendido e quando é feita exclusivamente por médicos reguladores, com base em protocolos clínicos e classificação de risco. Essa análise é impessoal, ética e orientada por dados em tempo real, impossibilitando qualquer tipo de favorecimento ou interferência externa. Isso garante que a prioridade seja sempre dos casos mais graves, preservando a integridade do processo e o compromisso com o interesse público.
A experiência da CRIL durante o período sazonal reforça que a regulação não é um obstáculo, mas um instrumento de justiça sanitária, que organiza o acesso e maximiza o uso dos recursos disponíveis, especialmente em momentos de crise. A transparência, o uso de tecnologia e o trabalho integrado entre os estados são pilares fundamentais desse modelo, que segue sendo aperfeiçoado a cada ano.
Em tempos de incerteza e pressão sobre os sistemas de saúde, em que a demanda supera a oferta disponível de leitos, a resposta do SUS precisa ser firme, técnica e coordenada. E é exatamente isso que a CRIL tem feito — com ética, com agilidade e com foco nas pessoas.
Central de Regulação Interestadual de Leitos – CRIL
Macrorregião Interestadual de Saúde PE/BA – MIS PEBA