“Quando o palco silencia”, por Rivelino Liberalino

0

 

Hoje, ao ler a notícia da partida de Gisley Ribeiro, dos palcos de Juazeiro, algo me calou por dentro.

Não foi apenas o fim de um show. Foi o fim de uma presença.

Vi o vídeo — ele cantava com a alma. Havia vida no olhar, havia alegria no gesto. E, de repente… o silêncio. Um silêncio que não vem só dos lábios que cessam, mas da ausência que fica.

Como é pesado ser artista…

Como deve ser árdua a missão de sorrir quando o coração grita.

Como é cruel um mundo que exige espetáculo, mas ignora o humano por trás da voz, da dança, do riso.

Não somos nada. Somos passagem.

E ser artista, muitas vezes, é morrer um pouco a cada apresentação — e ainda assim, ofertar vida.

É vestir o brilho por fora mesmo quando, por dentro, tudo ruge.

É transbordar alegria com o peito em frangalhos.

É segurar o próprio caos com uma mão… enquanto, com a outra, distribui paz.

Dizem que por trás de todo palhaço existe um triste.

Eu não ouvi isso por acaso. Eu vivi isso.

Houve um tempo em que, sobre os palcos da minha vida e profissão, eu fazia questão de fazer os outros rirem — intensamente, espalhafatosamente.

Por fora, era luz. Por dentro, era sombra.

E quanto mais alto era o meu riso, mais fundo era o buraco no meu peito.

Ria para não gritar.

Sorria para não ruir.

Porque, naquela época, sentir era quase crime.

Chorar em público era fraqueza.

E num mundo de aparências, de vitrines digitais, ser humano de verdade virou afronta.

Mas graças a Deus, eu sobrevivi.

Atravessei a noite escura.

Ultrapassei os dias em que o peito doía sem saber por quê.

E hoje, se você me vê sorrindo …saiba: esse sorriso já foi choro.

Hoje, ele é testemunho.

Ser humano é isso: Cair. Sangrar. Levantar. E partilhar.

E por isso, hoje, inclino meu coração em respeito profundo.

A você, artista.

A você, palhaço da vida.

A você, que transforma dor em riso, lágrima em luz.

A você, que sobe ao palco mesmo quando a alma só quer um colo.

Minha reverência vai, sim, aos grandes nomes.

Mas vai ainda mais forte aos anônimos —

aos que cantam nos bares,

aos que animam festas simples,

aos que, com violão, sanfona ou voz,

alegram a noite de quem muitas vezes nem sabe seu nome.

Vai a Gisley Ribeiro — esse nome que hoje ecoa em silêncio.

E vai a todos os que, como ele, entregam tudo… e recebem pouco.

Que o céu te receba como plateia de aplausos infinitos.

E que nós, aqui embaixo, aprendamos — por fim —

que sentir não é fraqueza. É humanidade.

E que quem brilha, também sangra.

Mas ainda assim… brilha.

Rivelino Liberalino, advogado

DEIXE UMA RESPOSTA

Comentar
Seu nome