“A única constante na política é a mudança”. A frase, de autoria incerta, já foi atribuída a inúmeras figuras históricas. No entanto, por muito tempo, essa máxima parecia ignorada às margens do São Francisco. No Vale, a narrativa política se repetia como um roteiro engessado: Petrolina, com sua força e articulação, sempre no papel de protagonista; Juazeiro, fragilizada pela inércia de suas lideranças, relegada a papel secundário.
Mas os ventos mudaram. E parecem agora soprar com intensidade sobre o lado baiano do Velho Chico. Na semana que se encerra, Juazeiro deu uma demonstração inequívoca de vitalidade política, e o nome que emerge desse novo momento é o do prefeito Andrei Gonçalves.
Durante cinco dias, Juazeiro foi elevada à condição de capital administrativa da Bahia. O governador Jerônimo Rodrigues transferiu simbolicamente seu gabinete para a cidade, cumprindo uma agenda intensa, repleta de anúncios e compromissos estratégicos. Uma deferência rara, mas profundamente simbólica.
Contudo, o ponto culminante veio no dia 17 de julho, apenas dois dias após o aniversário de 147 anos da cidade, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarcou em Juazeiro, acompanhado de ministros e de uma comitiva de peso. Na orla fluvial, um grande ato popular reuniu multidões para assistir ao anúncio nacional do PAC Saúde — e o Brasil voltou os olhos para o sertão baiano.
Do outro lado da ponte, Petrolina observava, desta vez calada, figurante da cena que sempre protagonizou. Em um gesto que soou mais como ressentimento do que como crítica, um de seus tradicionais porta-vozes, em tomo de choro, insinuou que os representantes da cidade sequer teriam sido convidados para a solenidade. Uma reação que, mais do que esclarecer, revela um incômodo latente com a inversão momentânea dos papéis históricos.
É cedo para dizer se Juazeiro assumirá, de fato, um novo lugar na geopolítica regional. Mas não há dúvida de que algo está em movimento. O tempo dirá se é mudança passageira ou virada de página. Por ora, o momento é de escuta e observação, mas talvez a trilha sonora mais apropriada já tenha sido composta por Caetano Veloso, com versos que, décadas depois, ressoam com nova atualidade:
“O ciúme lançou sua flecha preta
E se viu ferido justo na garganta
Quem nem alegre, nem triste, nem poeta
Entre Petrolina e Juazeiro canta.”
Por Sibelle Fonseca
Existe uma diferença brutal entre a teoria e a prática.
Petrolina, acontece, Juazeiro, sonha.