“A Arte de Cancelar a Cultura” por João Gilberto Guimarães Sobrinho

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Recebi, por meio de outros produtores culturais de Juazeiro, a notícia do cancelamento do edital Cultura Viva. Assim como outros artistas e grupos culturais da cidade, participei representando o Círculo Literário Analítico Experimental (CLAE), organização que coordeno desde 2003 ao lado de colegas escritores. Infelizmente, não estou em Juazeiro e não pude participar da reunião convocada às pressas para notificar os premiados sobre o cancelamento.

Essa notícia me pegou de surpresa, já que participei da seleção cumprindo todos os requisitos legais e o resultado do edital foi publicado há quase dois meses. É importante ressaltar que, para a inscrição em um edital desse porte, é necessário seguir um procedimento trabalhoso: reunir documentos, colher assinaturas e lidar com diversos trâmites que demandam tempo e dedicação.

Me surpreende que um órgão público da estatura da Prefeitura Municipal de Juazeiro promova a própria descredibilização. Digo isso ainda sem compreender onde a gestão de cultura pretende chegar. É preciso lembrar que, para a execução de um edital, consome-se o erário do município. Funcionários da Seculte, remunerados com recursos públicos, dedicam tempo preparando, monitorando e selecionando os proponentes. Cancelar um edital, depois de todo esse processo, é um desperdício de dinheiro público.

Fazer novamente todo o procedimento não faz sentido. Quem nos garante que
um novo edital será cumprido? Que não será cancelado outra vez? Recebi diversas mensagens de amigos produtores culturais indignados com tamanho descaso e falta de respeito.

Outro ponto preocupante é que alguns grupos culturais de Juazeiro já realizaram o pré-cadastro junto ao Ministério da Cultura para obter a certificação como Pontos de Cultura. Esses grupos dependem exclusivamente da gestão municipal para concluir o processo e receber a certificação. Com o cancelamento do edital, todo esse esforço corre o risco de ser perdido ou de sofrer atrasos irreparáveis.

Também chama atenção o fato de ter havido uma mudança na hierarquia da Secretaria de Cultura. Foi-me informado que o secretário interino de cultura convocou os produtores para a reunião de cancelamento. Quando substituíram o secretário de cultura? Quem é esse secretário interino? É de Juazeiro? Tem ligação com a cultura? Conhece a complexidade da cultura juazeirense? Foi indicado por algum partido? Qual?

Essas dúvidas chegaram até mim, e transmito-as aqui porque fatos como esses só parecem acontecer em Juazeiro. Quando teremos uma gestão que valorize de fato a cultura ou que, ao menos, cumpra os próprios compromissos? Nunca foi fácil, mas parece estar ficando cada vez mais difícil acreditar em Juazeiro.

João Gilberto Guimarães Sobrinho é cientista social, produtor cultural, editor,
escritor e pesquisador de políticas públicas de cultura.

 

1 COMENTÁRIO

  1. João, concordo plenamente com sua manifestação.
    É lamentável que os recursos da Política Nacional Cultura Viva/PNAB, voltados ao fomento da cultura em suas diversas expressões, especialmente nas áreas historicamente menos favorecidas, sejam, mais uma vez, tratados com descaso.
    A título de informação, o atual secretário interino é oriundo do Procon/Juazeiro, com atuação na área jurídica.
    Esperamos que essa situação seja resolvida com a urgência que merece, pois os/as fazedores/as de cultura de Juazeiro merecem respeito, reconhecimento e valorização.
    Parabéns pela reflexão pertinente e necessária.

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