Juazeiro é uma cidade de tradição, de memória e de cultura pulsante. No entanto, quando falamos da literatura juazeirense, percebemos que se trata de uma das linguagens culturais mais negligenciadas pelas últimas gestões municipais. A ausência de concursos literários, prêmios e políticas públicas de incentivo à escrita tem provocado um esvaziamento preocupante, relegando escritores e escritoras locais a um lugar de invisibilidade.
O último grande evento literário realizado na cidade foi a FLIJUA – I Festa Literária de Juazeiro, em abril de 2021. De lá para cá, a literatura juazeirense ficou órfã de um espaço coletivo de celebração, debate e valorização. Não se trata de ausência de talento ou de tradição: o que falta é compromisso político e investimento.
Juazeiro já deu ao Brasil nomes fundamentais para a literatura e para a música. O poeta Pedro Raimundo Rego, de lírica marcante; o poeta e compositor Manuca Almeida, cuja obra permanece viva em versos e canções; o letrista da icônica banda Novos Baianos, Luiz Galvão, que ajudou a redefinir a música popular brasileira; a cronista Maria Franca Pires, observadora atenta da vida cotidiana juazeirense; a escritora e folclorista Antonila da França Cardoso, guardiã das tradições do povo; e o historiador Walter de Castro Dourado, que dedicou sua vida a registrar e interpretar a memória local. Essa constelação de nomes prova que Juazeiro sempre foi e continua sendo um celeiro de intelectuais, artistas e pensadores.
No entanto, é impossível ignorar que a cidade já teve políticas públicas mais avançadas do que as que vemos hoje. Um exemplo emblemático é a Lei Municipal nº 201, de 1954, que previa a publicação de obras de escritores juazeirenses pela própria Prefeitura. Sete décadas atrás, Juazeiro já entendia que apoiar seus escritores era investir em identidade, memória e desenvolvimento cultural. Hoje, a mesma cidade que inovou no passado parece ter esquecido esse legado.
A literatura não é apenas expressão artística individual, mas também ferramenta de transformação social. Incentivar a produção literária é estimular o pensamento crítico, formar leitores, preservar a memória e projetar a cidade para além de suas fronteiras. É também oferecer condições para que novas vozes possam surgir, renovando o cenário cultural.
Por isso, é urgente que a gestão municipal retome o compromisso com essa linguagem cultural. Concursos literários, prêmios de incentivo, feiras e festas literárias não são luxo, são instrumentos fundamentais de valorização e de estímulo a escritores e escritoras, tanto os que já possuem trajetória consolidada quanto os que estão dando seus primeiros passos.
Juazeiro tem história, tem nomes, tem referências. Falta apenas resgatar a coragem de investir em sua literatura e em seus autores, sem precisar importar de outras terras. Retomar esse caminho não é apenas uma questão de política cultural, mas um dever histórico com aqueles e aquelas que deram à cidade uma das suas maiores riquezas: a palavra.
Por João Gilberto Guimarães Sobrinho, cientista social, produtor cultural, editor, escritor e pesquisador das Políticas Públicas de Cultura.



