Cinco faculdades de medicina da Bahia obtém notas baixas no Enade; como estão as instituições do Vale do São Francisco?

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Na Bahia, o avanço acelerado dos cursos de Medicina trouxe um retrato desigual. No último Enade- Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes, quase metade das faculdades avaliadas ficaram apenas com notas regulares ou insatisfatórias, e poucas alcançaram conceitos de excelência. Esse cenário acende um alerta sobre a expansão desordenada do ensino médico no estado. O aumento considerável no número de cursos de medicina, não foi acompanhado, necessariamente, pela qualidade. Na Bahia, das 35 instituições que oferecem o curso, doze possuem nota 3, outras cinco nota 2, e apenas duas têm 5, a nota máxima.

Para garantir um nível mínimo na formação desses futuros médicos, o ministro da Educação, Camilo Santana, anunciou na última terça-feira (19) que o Ministério da Educação (MEC) passará a aplicar, já a partir deste ano, o Exame Nacional de Avaliação da Formação Médica (Enamed) e instituições com notas baixas podem ser punidas, com limitação no número de novos alunos ou ter o ingresso de novos estudantes suspenso, entre outras medidas.

Notas baixas na Bahia/Como o MEC avalia?

Na hora de avaliar os cursos, o MEC usa três indicadores principais. O Enade é uma prova aplicada aos alunos no fim da graduação para medir o que aprenderam; o CPC combina essa nota com a qualidade da estrutura e dos professores do curso; já o IGC mostra o desempenho geral da instituição. As notas vão de 1 a 5: três significa o mínimo aceitável, enquanto quatro e cinco indicam qualidade acima da média.

Para tentar separar cursos bons dos problemáticos, o Ministério da Educação criou o Enamed, exame aplicado no 4º e 6º anos do curso de Medicina. A diferença é que, agora, notas baixas não vão ficar apenas em relatórios: elas terão consequências, como: impedimento de ampliação de vagas; suspensão de novos contratos do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies); suspensão da participação do curso no Programa Universidade para Todos (Prouni); suspensão da participação do curso em outros programas federais de acesso ao ensino superior; redução de vagas para ingresso (cursos nota 2); e suspensão de ingresso de novos estudantes (cursos nota 1) são as possíveis punições para instituições com notas baixas.

Em toda a Bahia, das 35 instituições que possuem o curso de medicina, apenas duas tiveram nota máxima no Enade 2023, a Universidade Federal da Bahia e a Universidade Estadual Do Sudoeste Da Bahia, ambas com nota 5. Já entre as seis com nota 4, cinco são de instituições públicas; cerca de 17 outras instituições, quase 50% do total, possuem notas entre 2, consideradas insatisfatórias e 3, consideradas regulares pelo MEC. É possível que esse número seja maior, já que outras dez faculdades não estão com notas disponíveis no MEC.

A Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública foi a única instituição privada a receber nota 4 do Enade no estado.

Dos 35 cursos no estado, 27, ou seja, 77% dos cursos de medicina na Bahia foram criados nos últimos 15 anos, de acordo com dados do MEC.

Cursos no Vale do São Francisco

No Vale do São Francisco, a situação tem contornos próprios. A região viu nos últimos anos um verdadeiro crescimento de faculdades: até 2004, quem sonhava em estudar Medicina tinha apenas a Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), em Petrolina. Depois, em 2017, chegou a Estácio/IDOMED, em Juazeiro, e, mais recentemente, a Facape, mantida pela prefeitura de Petrolina, abriu sua graduação em 2022.

Em pouco tempo, o que antes era escassez virou polo médico do interior. Mas junto com o crescimento, surge a dúvida: será que a qualidade acompanha o aumento no número de vagas ou corremos o risco de repetir os problemas vistos em outras partes da Bahia?

Na região, esses números já dão pistas claras: a Univasf alcançou conceito 4 no Enade de 2023, resultado considerado bom e acima da média nacional; a Estácio/IDOMED de Juazeiro obteve conceito 3, desempenho regular, mas o curso foi reconhecido pelo MEC em 2024 com nota máxima 5 e CPC 4; a Facape, por ser mais recente, ainda não tem notas divulgadas, o que aumenta a expectativa sobre suas próximas avaliações.

O caso Facape: promessa e polêmica

A Facape talvez seja hoje o maior exemplo das tensões dessa expansão. Criada como um projeto ousado do município de Petrolina, a faculdade entrou em funcionamento oferecendo vagas cobiçadas. Mas, em 2025, o curso virou alvo de denúncias na Câmara de Vereadores.

Estudantes e parlamentares apontaram problemas graves: laboratórios de prática sem equipamentos básicos, disciplinas importantes, como Cirurgia, sem estrutura adequada, e a falta de convênios suficientes com hospitais para que os alunos pudessem fazer estágio. Além disso, o internato médico, que deveria começar nos dois últimos anos do curso, estava atrasado, deixando os estudantes sem a vivência clínica necessária.

Pressionada, a direção da Facape reconheceu dificuldades e anunciou medidas emergenciais: firmou convênio com o Hospital Dom Tomás, referência em oncologia, e iniciou negociações com o Hospital Universitário da Univasf. Mas o desgaste já estava exposto: abrir uma faculdade de Medicina sem garantir campos de prática pode comprometer não só a formação, mas também a confiança da população.

O que está em jogo

No Vale do São Francisco, onde hospitais como o Dom Malan, o Dom Tomás e o Hospital Universitário da Univasf atendem milhares de pessoas, a questão vai além da sala de aula. A qualidade da formação médica interfere diretamente no cuidado da população.

O crescimento de faculdades trouxe orgulho e oportunidades, mas também mostrou que formar médicos exige mais do que abrir vagas: precisa de hospital-escola, professores qualificados e prática real no sistema de saúde. Se esses pilares não forem garantidos, a região corre o risco de ver crescer o número de diplomas, mas não a qualidade do atendimento.

Redação PNB

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