Mais de 60% dos casos de câncer colorretal no Brasil chegam aos serviços de saúde já em estágios avançados (3 e 4), quando o tumor invade estruturas profundas ou apresenta metástases. A informação é de um novo estudo da Fundação do Câncer, lançado nesta quarta-feira (27), Dia Nacional de Combate ao Câncer.
O levantamento analisou 177 mil casos atendidos em hospitais públicos e privados e revela um cenário de diagnóstico tardio, que reduz as chances de cura, exige tratamentos mais complexos e eleva os custos.
O estudo também mostra desigualdades no acesso ao cuidado oncológico: o Sudeste concentra quase metade dos casos (49,4%) e recebe pacientes de outras regiões, enquanto o Centro-Oeste lidera o deslocamento de pessoas que precisam buscar atendimento fora do estado onde vivem (18%). Parte desse fluxo (16%) migra para o Sudeste.
“A elevada proporção de diagnósticos tardios evidencia fragilidades importantes no acesso ao diagnóstico e no rastreamento do câncer colorretal no Brasil”, afirma Luiz Augusto Maltoni, diretor-executivo da Fundação do Câncer. Segundo ele, o deslocamento entre regiões impacta diretamente o tempo até o início do tratamento e a sobrevida dos pacientes.
O estudo aponta ainda relações importantes entre comportamentos de risco e a incidência do tumor. Capitais com maior proporção de fumantes —como Florianópolis, Porto Alegre, Curitiba e Campo Grande— também registram altas taxas da doença, reforçando o tabagismo como fator de risco.
A obesidade aparece como outro componente relevante: Porto Alegre, Campo Grande, Rio de Janeiro e São Paulo, todas com prevalência de obesidade de 24% ou mais, figuram entre as cidades com maior incidência.
“Quando observamos que fatores como tabagismo e obesidade se sobrepõem às altas taxas de incidência, fica evidente que o câncer colorretal reflete as condições de vida da população”, afirma o epidemiologista Alfredo Scaff, coordenador do estudo. Ele defende políticas de prevenção primária e ações contínuas para alimentação saudável e atividade física.
Os dados também reforçam a necessidade de ampliar o rastreamento. Quase 86% dos pacientes diagnosticados têm 50 anos ou mais. Para Scaff, o Brasil deveria migrar de um modelo oportunístico —quando o exame só ocorre se o paciente procura o serviço— para um programa populacional, além de avaliar a redução da idade de início do rastreamento para 40 anos, como já feito nos Estados Unidos.
O levantamento também traça o perfil dos pacientes: 47,7% têm apenas ensino fundamental, e há maior proporção de brancos (34,6%), seguidos por negros (30,9%). Cirurgia é o tratamento inicial mais frequente no país. As análises consideram dados dos Registros Hospitalares de Câncer entre 2013 e 2022.
O Ministério da Saúde estima 45 mil novos casos de câncer colorretal em 2024. A Fundação do Câncer projeta um crescimento de 21% na incidência entre 2030 e 2040.
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