Além de música, o Festival A Bossa, em Juazeiro, promoveu rodas de conversa sobre Bossa Nova, uma ideia que contemplou admiradores do gênero musical, músicos e pesquisadores.
Na Arena do Centro de Cultura João Gilberto, o lendário produtor musical Armando Pittigliani, um dos responsáveis pelos primeiros registros da Bossa Nova no país, compartilhou memórias, bastidores e raridades sobre o movimento que transformou a música brasileira.
Na sexta-feira (28) e no sábado (29), o “Bossa Talk Show” integrou a programação oficial do festival, contando com a participação do músico e diretor artístico Flávio Mendes, que conduziu a conversa e dialogou com Pittigliani sobre a história da Bossa Nova, seus grandes nomes e o papel fundamental de João Gilberto, juazeirense que revolucionou a música mundial.
“Meu coração está aqui. João não era desse mundo, era um gênio inimitável. Já produzi mais de 70 artistas, e ele é o máximo dos máximos. Estar aqui, onde ele nasceu, é realmente fora de série. Parabéns a todos que estão realizando esse evento magnífico,” declarou Pittigliani.
O público presente pode conhecer melhor a trajetória de Joãozinho, filho de Dona Patu e seu Juveniano, que saiu de Juazeiro para conquistar o mundo. Após passagens, sem muito destaque, pelas bandas Garotos da Lua, Anjos do Inferno e Quitandinha Serenaders, João Gilberto Prado Pereira, ou simplesmente João Gilberto, visitou sua irmã Dadadinha na cidade mineira de Diamantina, e foi lá, no banheiro da residência, que encontrou a batida perfeita, unindo o violão à sua voz suave. Porém, foi em Juazeiro, durante uma visita à família, que o “Joãozinho de Dona Patu” compôs Bim Bom, considerada a primeira música da Bossa Nova, incluída em seu primeiro compacto simples ao lado de Chega de Saudade.
Durante o bate-papo, o maestro Flávio Mendes também explicou a origem do nome Bossa Nova: “Bossa era uma palavra usada para se referir a alguém que tinha uma forma diferente de tocar. Havia uma garotada na zona sul do Rio de Janeiro que tocava samba de um jeito particular. Quando foram se apresentar em um teatro no Rio, o cartaz anunciava Silvia Teles e ‘um grupo Bossa Nova’, fazendo essa junção entre o jeito de tocar e aquele grupo jovens que tinha a presença de João Gilberto.”
Produtor responsável por cerca de 50% das gravações do movimento, Armando Pittigliani viveu de perto o surgimento da Bossa Nova e compartilhou memórias e curiosidades. “O curioso é que ninguém gostava do termo ‘Bossa Nova’. Muitos artistas insistiam em dizer que tocavam samba de uma forma diferente, mais suave. Só uns dez anos depois todos passaram a assumir o nome.”
Pittigliani destacou ainda a importância de João Gilberto para a música brasileira. “A música brasileira é o que é graças a João. Sem ele, nossa música não teria o reconhecimento e o respeito que tem mundo afora. João Gilberto não nasceu em Juazeiro; ele nasceu em Marte, e sua nave pousou em Juazeiro”, disse em tom bem-humorado.
O evento foi elogiado pelos participantes.
A violonista e professora de música Geiza Castro destacou o valor histórico da experiência. “Foi um presente grandioso. Para quem aprecia a Bossa Nova, foi mais que uma aula de música. Que bom ver Juazeiro valorizando sua cultura e seu maior ícone. Eu sou de Petrolina, mas amo Juazeiro, e é um orgulho ver o que a cidade está vivendo.”
A espectadora Priscila Brito ressaltou a oportunidade de ouvir relatos exclusivos. “É muito diferente ler e ver ao vivo histórias que não estão nos livros. Foi enriquecedor. Saio instigada a continuar conhecendo essa história e estarei de volta amanhã.”
A professora Maria Cardoso relembrou momentos marcantes proporcionados pelo espetáculo. “Um formato dinâmico que nos permite reviver, de uma forma bem interessante, músicas que fazem parte da nossa história e da música brasileira, e ao mesmo tempo conhecer fatos e curiosidades que a gente nem imaginava sobre o início da Bossa Nova.”
Em visita ao Vale do São Francisco, a francesa Delphine Picard aproveitou para prestigiar o festival: “João Gilberto é muito conhecido na França. O álbum com Stan Getz, misturando jazz, faz grande sucesso. Fora ele, eu conhecia pouco da Bossa Nova, mas adorei ouvir as músicas e as histórias.”
Roberto Menescal prestigiou o evento
O artista Roberto Menescal participou do talk show e também se apresentou no palco do festival, na Orla de Juazeiro. “A Bossa Nova sem João não existiria. Ele definiu tudo. Estar aqui, na terra de quem mudou a música do mundo, é muito especial. Este talk show mistura música e história de um jeito único. Um beijo para a terra, para o João Gilberto e para vocês”, afirmou Menescal.
Parceiro de Pittigliani na apresentação, o violonista Flávio Mendes relatou a dimensão emocional de participar do festival. “Eu fui criado pela Bossa Nova. João Gilberto mudou minha vida. Estar aqui, pisar onde ele pisou, visitar sua casa… tudo isso tem um peso enorme. No talk show, falamos de Tom, Menescal, Carlos Lyra, mas o eixo é sempre o João. Ele influenciou a música do mundo inteiro. Estamos muito felizes de participar desse festival maravilhoso.”
A trajetória de Armando Pittigliani
Com mais de 63 artistas produzidos e mais de 100 LPs no currículo, Pittigliani é uma das figuras mais importantes da história da música brasileira. Trabalhou com Baden Powell, Fafá de Belém, Jackson do Pandeiro, Jair Rodrigues, Dóris Monteiro, Agnaldo Timóteo, entre outros nomes, e foi eleito melhor produtor de discos da Associação de Críticos de Arte de São Paulo por três anos consecutivos (1965, 1966 e 1967).
Também produziu shows de Jorge Ben, Marcos Valle e Luiz Henrique, ajudando a consolidar o som de uma geração.
Redação PNB, com informações Ascom/PMJ

