Nos últimos dias, episódios de violência contra a mulher voltaram a expor a realidade brutal enfrentada diariamente por milhões de brasileiras. Em diferentes regiões do país, também em cidades como Juazeiro, no Norte da Bahia, e Petrolina, no Sertão de Pernambuco, casos recentes demonstram como a violência de gênero segue destruindo vidas e impondo um rastro de medo às mulheres.
Segundo a pesquisa “Elas Vivem”, da Rede de Observatórios de Segurança, a cada 24 horas, 13 mulheres foram vítimas de violência no país em 2024.
Em uma semana particularmente marcada por agressões, episódios de extrema violência ganharam repercussão regional e nacional. As vítimas tinham algo em comum: eram todas mulheres.
Em Juazeiro, um homem foi preso na última quinta-feira (4) após uma mulher denunciar que vinha sofrendo ameaças de morte.
Apenas três dias depois, no domingo (7), outro caso colocou a cidade novamente em alerta. Uma jovem foi brutalmente atacada pelo próprio pai enquanto dormia. O agressor invadiu a casa da ex-companheira, mãe da vítima, e desferiu socos, chutes e golpes diversos contra a filha, além de utilizar uma corda durante as agressões. Preso em flagrante, segundo a polícia, ele não demonstrou qualquer arrependimento.
No mesmo dia, um homem de 73 anos foi preso acusado de violentar sexualmente uma criança de 3 anos. O idoso era companheiro da avó da menina.
Em Petrolina, a violência também deixou sua marca. Na terça-feira (2), um homem foi detido após supostamente perseguir uma mulher com uma faca no bairro José e Maria, numa tentativa de agressão.
Dados
Esses casos reforçam um cenário já conhecido. Juazeiro registrou três feminicídios este ano. Em Petrolina, a Secretaria de Defesa Social contabilizou um feminicídio e 2.250 casos de violência doméstica e familiar até outubro, número superior ao de 2024, quando houve 2.074 ocorrências. O Mapa da Segurança Pública de 2025 aponta que quatro mulheres são assassinadas por dia no Brasil. Dados do Ministério da Justiça mostram que, entre janeiro e setembro de 2025, mais de 2,7 mil mulheres sobreviveram a tentativas de feminicídio, enquanto 1.075 foram assassinadas.
Mas a violência não se resume às agressões físicas. Segundo pesquisa do Datafolha, mais de 21 milhões de brasileiras sofreram algum tipo de agressão nos últimos 12 meses. A Lei Maria da Penha reconhece cinco tipos de violência, todas capazes de deixar marcas profundas na vida das vítimas.
Tipos de violência contra a mulher
A violência física é a forma mais visível. Envolve qualquer ação que cause danos ao corpo da mulher, como tapas, socos, chutes, empurrões, queimaduras, estrangulamento ou o uso de objetos para ferir.
A violência psicológica atinge a saúde emocional e mental da vítima. Ocorre por meio de humilhações, ameaças, críticas constantes, isolamento de familiares e amigos, chantagens, manipulação e controle de comportamento.
Já a violência sexual acontece quando a mulher é forçada, pressionada ou coagida a manter relações sexuais ou práticas íntimas contra sua vontade. Inclui estupro, assédio, coerção para evitar agressões e até impedir a mulher de usar métodos contraceptivos.
A violência patrimonial envolve retirar, destruir ou controlar bens, documentos pessoais, dinheiro, cartões, objetos, roupas, celular ou instrumentos de trabalho da vítima.
A Violência moral é praticada por meio de calúnias, difamações e injúrias que atingem a honra da mulher, espalhando mentiras, ataques à reputação ou acusações falsas.
Essas formas de agressão compõem um ciclo que limita a liberdade da vítima, compromete sua segurança e fragiliza sua vida social, emocional e econômica. A cultura da violência contra a mulher, reforçada por padrões sociais históricos, se manifesta principalmente dentro de casa, praticada por pessoas próximas, em ambientes que deveriam ser de proteção.
Como romper o ciclo da violência
Em situações de violência, a mulher pode buscar ajuda pelo número 180, da Central de Atendimento à Mulher. A ligação é gratuita e o serviço funciona 24 horas por dia, todos os dias da semana, oferecendo orientação, acolhimento e encaminhamentos.
Em casos de risco, a recomendação é acionar o 190, da Polícia Militar, para atendimento emergencial e intervenção rápida.
A vítima também pode procurar a delegacia mais próxima ou se dirigir diretamente à Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam). Em Juazeiro, a Deam está localizada na Rua Elite Costa, no bairro Novo Encontro. Em Petrolina, o atendimento ocorre na unidade situada na Avenida das Nações, no Centro. As duas unidades funcionam 24h.
Medida protetiva: como agir quando o agressor descumpre
A Lei Maria da Penha determina que, ao primeiro sinal de violação da medida protetiva, o agressor pode ser preso. É fundamental que a mulher ou seus familiares comuniquem a polícia sempre que houver tentativa de aproximação, contato ou perseguição.
Em Juazeiro, as denúncias podem ser feitas pelos seguintes canais:
190 – Polícia Militar
180 – Central de Atendimento à Mulher
DEAM – Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher
Também é importante: Registrar novos boletins de ocorrência sempre que houver agressão ou ameaça; Guardar prints, áudios, mensagens e fotos de lesões; Buscar abrigo em local seguro e, quando possível, acionar a rede de apoio; Solicitar revisão ou ampliação das medidas protetivas.
Redação PNB, por Rayza Rocha



