Dia da Consciência Negra por ativistas da região do São Francisco

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Hoje (20) é dia Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra. A data foi instituída oficialmente através de uma lei recente, a de nº 12.519, de 10 de novembro de 2011. O dia faz referência à morte de Zumbi, o então líder do Quilombo dos Palmares, que foi morto em 1695, na referida data, por bandeirantes liderados por Domingos Jorge Velho.

A criação desta data foi importante, pois serve como um momento de conscientização e reflexão sobre a importância da cultura e do povo africano na formação da cultura nacional. Mas apesar disto, os negros continuam em situação de desigualdade, ocupando as funções menos qualificadas no mercado de trabalho, sem acesso às terras ancestralmente ocupadas no campo e na condição de maiores agentes e vítimas da violência nas periferias das grandes cidades.

Para provocar essa reflexão, o Portal Preto no Branco conversou com alguns ativistas do Movimento Negro, que trazem suas opiniões sobre o dia da Consciência Negra e o Novembro Negro, e a importância de se debater este tema.

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Nilton de Almeida, Historiador e Ativista do Movimento Negro

O dia 20 de Novembro importantíssimo, porque não é uma data de cima para baixo, ela foi construída politicamente de dentro para fora. Ela é resultado de lutas que vem pelo menos desde os anos 70, justamente para demarcar o protagonismo e a subjetividade a partir das próprias experiências negras e remete à luta de Palmares e dos Quilombos. Ela coloca uma situação de resistência, de autonomia e de independência, e esses sãos os principais cortes regatados pelos movimentos sociais negros se a gente analisar de um ponto de vista histórico. É muito interessante também observar que esse processo de comemoração do dia se transformou em comemoração da semana e agora do mês da Consciência Negra, e a gente tá se aproximando de um momento em que esse debate está se tornando contínuo. A gente tem que ter todos os dias a hora da Consciência Negra, pelo menos. Outra coisa a ser observada também, justamente no Nordeste onde se tem uma das maiores presenças negras, existe uma grade resistência muito grande à comemoração do dia da Consciência Negra. Espero que aqui na região isso seja prontamente superado. É preciso ter em vista que esse é um tema politico. É necessário observar que quando se fala em democracia racial, esse discurso cada vez menos encontra respaldo e adesão, e democracia é um conceito politico e a gente é levado a se perguntar se o que a gente vive no Brasil não é uma ditadura racial, na medida de que o SER NEGRO  encontra tantas imposições. A última década é particularmente interessante na medida em que você tem cada vez mais negros nas universidades e uma mobilidade social para cima, apesar dos setores de serviços públicos e a área de iniciativa privada, tenham ainda uma resistência enorme, mesmo que as pessoas tenha renda e escolaridade. Mas a gente vê no século 21, através dos movimentos sociais negros, principalmente no que diz respeito não só às universidades, mas no que acontece a partir dos bairros, a partir dos vários campos como do teatro, como da literatura, como do cinema, uma produção cada vez mais autônoma. Então à medida que você tem os próprios sujeitos falando de si, isso é uma perspectiva inédita.

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Uilson Viana, Jornalista e Ativista Negro e Quilombola

O Novembro Negro e o dia da Consciência Negro é um legado deixado pelos lutadores do povo negro que nos antecederam, é um marco dessas lutas e um momento para se lembrar da morte de Zumbi e de outros mártires que lutaram para o que hoje a gente pode ter. E essa data hoje é celebrada com eventos grandes, tantos nas comunidades quilombolas, como nos centros urbanos, nas universidades, nas periferias. A gente não tinha uma data especifica para festejar e hoje gente determina o Novembro Negro como marco dessas lutas, que é um momento dessas entidades e movimentos pararem e mobilizarem as comunidades para dar o nosso grito de liberdade. Antes o Novembro Negro era muito mais de reivindicação e hoje a gente também festeja as conquistas das politicas de reparação racial. Então a data é para selar as conquistas e reivindicar outras lutas, o que não impede que durante todo o ano a gente vá fazendo essa movimentação dentro da universidade, nos meios de comunicação, nas comunidades quilombolas e em tantos outros lugares. O mês de novembro é o momento de celebrar toda a luta que se dá durante todo o ano.

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Ramon Ranieri Braz, Ativista do Movimento Negro

O 20 de Novembro é a data mais importante, do ponto de vista simbólica, para o povo negro no Brasil, porque ela faz menção em homenagem e em memória ao nosso principal símbolo de resistência, Zumbi dos Palmares. Então, diferente do mês do Maio que durante muito tempo se comemorou a abolição da escravatura, que se gente for analisar não representa muita coisa no ponto de vista prático, é mais uma lei, já que a escravidão nas relações pessoais perpetua até o dia de hoje. Mas o dia da Consciência Negra faz menção a Palmares, a Zumbi e a Dandara que representam a resistência do povo negro no Brasil. Resistência a tudo que representa o sistema escravocrata que durou 300 anos no Brasil. A gente do movimento negro tem pautado que as ações em torno deste momento só tem acontecido no mês de novembro, sendo que o racismo é um dos principais problemas estruturais da sociedade Brasileira. E combater o racismo e a intolerância no Brasil é complicado, porque aqui ele é velado, travestido na falsa ideia de democracia racial que diz que o racismo no Brasil não acontece. Então é preciso que ele seja combatido no dia a dia.

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Ioná Pereira- Yalomifã Makota Kididi do Unzó Congo Mutalenguzo- Coordenadora da ACBANTU no Território do Sertão do São Francisco

Eu acredito que é interessante ter o mês da Consciência Negra para reverenciar a luta e a morte de Zumbi dos Palmares, assim como de outros heróis das questões negras, mas acho que isso precisa ser fruto de um trabalho construído ao longo de 1 ano e não só se parar, pensar e fazer tudo no mês de Novembro. Assim como indica a lei 10.639 e a 11.645, seria necessário que se fizesse um trabalho de todo um ano, de toda uma construção, porque o negro ele sofre, ele é violentado, é violado, discriminado todos os dias do ano e infelizmente ainda não se percebeu que o Novembro deveria ser a conclusão de um trabalho do ano todo. Eu acredito que esse é um mês importante, de luta, de lembranças e nós negros temos que está sempre reavivando a memória para que a nossa identidade ela seja sempre reafirmada.

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Katussia  Almeida, integrante da  MARCHA DAS MULHERES  NEGRAS  , CANDOMBLECISTA , FILOSOFA E ARTICULADORA SOCIAL, Conselheira  da  Mulher

Salve  dia  20  de  Novembro , Dia  Nacional  da  Consciência Negra. Somos, Dandaras , Somos Luiza  Mahin, Carolina  de  Jessus, Lélia Gonzales, Mãe  meninha dos  Gantois , entre tantas  outras lideranças  sociais que  abrilhantam  o orgulho  de  nossa  negritude. Não  há fórmula  ou  receita  ideal para combater as  desigualdades  raciais ,  entretanto , nos  é  possível  práticas antipreconceituosas, que respeitem diferenças de  gênero e  de  raça, no intuito de  garantir  o  pleno  exercício da humanidade  das mulheres  negras. Sendo  assim,  do protagonismo  de  mulheres  é  também  garantia de  direitos  humanos  ou  garantia de  humanidade  , visibilidade  ,afeto e  respeito frente  ao  protagonismo de  sua  própria história. Assim, urge  a  necessidade  de  se  construir  uma  postura  empoderada. A construção de  um  autoconceito positivo passa por  algumas etapas  de cunho  individual  e  coletivo. O  confronto  com  o  espelho   deve  ser   paulatino e  constante   no  sentido ⁠⁠⁠⁠de supera as vozes depreciativas e pejorativas ao entendimento do que ser negra em um pais racista, pelo fim do feminícidio de mulheres negras e pela visibilidade e garantia de nossas vidas. Saudações feministas e Antirracistas.

Da redação Por Yonara Santos

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