A tradição de cultivar ervas medicinais é uma prática transmitida de geração a geração nas famílias de cidades do interior. Porém, na comunidade rural Gruta D’ Água, em Arapiraca, no Agreste de Alagoas, esse costume que estava um pouco adormecido nos quintais das casas, foi resgatado através das hortas medicinais e nas hortas suspensas que enfeitam as paredes da Escola de Ensino Fundamental Benjamin Felisberto da Silva.
Em 2007, Edinalva Pinheiro, coordenadora pedagógica da escola e idealizadora do projeto “Saúde que vem da terra”, mobilizou professores/as, estudantes e moradores/as das comunidades para implantar uma horta medicinal, com a finalidade de fabricar remédios caseiros, a exemplo de xaropes, pomadas, geleias, balas, tônicos, sabonetes e tinturas produzidos com a manipulação das plantas, como gengibre, anador, arruda, entre outros. “Esse projeto começou por causas das crianças com muitas doenças e posto de saúde muito distante, então, a gente chamou o conselho escolar e comunidade e implantou esse projeto… daí ele foi tomando uma dimensão tão grande que da plantação foi para o processamento”, pontuou Edinalva.
O projeto também contribui com a prática pedagógica de educação contextualizada com o campo desenvolvida na escola. Enquanto as/os estudantes estão cultivando as ervas, as professoras trabalham os conteúdos das diversas disciplinas, como matemática ao medir o canteiro, português na escrita das palavras e no estudo gramatical das mesmas. José Enoque dos Santos Júnior, estudante do 5º ano, conta que a horta deixou as aulas mais animadas, e “quando eu vou correr e caio já sei qual planta vou usar pra cicatrizar”. Hoje a horta medicinal também está presente no Centro de Apoio às Escolas Municipais do Campo e além de resgatar a tradição popular, o projeto vai fornecer seis medicamentos fitoterápicos no Sistema Único de Saúde – SUS do município de Arapiraca.
O projeto foi aprovado através do Edital SCTIE/MS nº 01, de 30 de maio de 2014, do Ministério de Saúde, que disponibilizou recursos para ampliar a produção dos medicamentos, para poder atender aos usuários do SUS. O recurso está sendo investido na ampliação do laboratório e na compra de equipamentos. Além disso, a fabricação dos medicamentos vai ser acompanhada por uma equipe multidisciplinar, composta por farmacêutico, engenheiro agrônomo, zootecnista. “Essas pessoas vão está mais a frente do projeto, pois agora precisa ser uma coisa mais técnica, mas a comunidade não vai deixar de tá participando disso aqui não, foi à comunidade que começou com esse trabalho e a gente vai continuar produzindo”, afirma.
Os/as profissionais de saúde, agente de saúde e população em torno da comunidade receberão capacitações para potencializar o uso dos medicamentos na rede SUS, que vai começar a ser disponibilizado no próximo ano.
Centro de Apoio às Escolas do Campo
Edinalva Pinheiro, que também é coordenadora do Centro Apoio Adalberto Saturnino deEnviar Almeida, conta que, aproximadamente dez anos atrás, no espaço era desenvolvido o Projeto “Amanhã”, que capacitava jovens agricultores/as. “A gente pegava jovens das escolas e no horário oposto da aula eles vinham pra cá, plantando ervas medicinais, piscicultura, avicultura… eu fui observando que eles faziam esses cursos, mas saindo daqui acabou”. Após esse diagnóstico, Edinalva teve a ideia de aproveitar o espaço para receber estudantes e praticar as atividades de campo e depois colocar nas escolas e em suas casas, efetivando o espaço como Centro de Apoio às Escolas do Campo.