Desabafo: “A Cidade Afogada”, por Carlos Henrique, morador da Rua 3, Piranga, Juazeiro da Bahia

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A cidade, banhada pelas belas águas do Velho Chico, hoje agoniza. O rio, fonte de beleza e riqueza, agora espelha a decadência urbana, a prova da incompetência administrativa.

Suas ruas nunca foram exemplo de limpeza e cuidado, porém agora carregam desilusão, esgoto e detritos, contaminando não apenas o ecossistema local, mas também a alma daqueles que aqui vivem.

Os encanamentos, antigos e corroídos, regurgitam em várias ruas, inundando as casas e contaminando o solo. O odor nauseabundo que se espalha pelo ar é um lembrete constante da negligência, da falta de planejamento e da decadente incompetência que governou nossa cidade nos últimos quatro anos.

Por ironia cruel do destino, a “mãe” que prometia cuidar tão bem de sua cidade já tão sofrida hoje a trata com humilhação. Humilhação essa de uma madrasta perversa, uma megera de conto de fadas sem final feliz, que isola sua população entre o esgoto, lixões a céu aberto, ruas esburacadas, animais nas ruas, postos de saúde vazios, invasões, insegurança, falta de iluminação e escuridão. Escuridão essa que não tem a ver com iluminação, mas com desesperança e decepção.

Enquanto as ruas se deterioravam e os serviços públicos se esvaíam, os cofres municipais enriqueciam com uma arrecadação tributária cada vez maior. A cada aumento de imposto, a cada taxa de lixo paga na conta de água, além do aumento de 15%, a cidade sangrava um pouco mais, enquanto seus habitantes se afogavam em um mar de esgoto e promessas não cumpridas.

Num paradoxo constante, a mesma população que sustentou os gastos da administração pública é a que mais sofre com a falta de um investimento mínimo em infraestrutura, saúde e educação. Os impostos, que deveriam ser revertidos em melhorias para a qualidade de vida, foram alocados para obras que desconhecemos ou utilizados para financiar projetos que pouco ou nada beneficiaram nossa população.

A falta de investimentos em infraestrutura e em serviços básicos gerou um ambiente cada vez mais hostil para os negócios e investidores, que, por sua vez, desencorajados, irão investir em outras cidades. Sem investidores, com um comércio quebrado por falta de planejamento, salários atrasados e demissões, o futuro é menos arrecadação e consequentemente menos dinheiro pra infraestrutura da cidade.

O Velho Chico, testemunha silenciosa desse abandono, saberia dizer:
— Onde está a prefeita?
— Onde está a MÃE?
— Onde está o SAAE?
— Onde está o Tribunal de Contas?
— Onde está o Ministério Público?

Essas e outras perguntas, são repetidas diariamente entre os 4 polos da cidade, como um mantra de indignação.

A única certeza, é que quem há pouco tempo prometera revolucionar a cidade, agora parece ter evaporado. Seu rosto, outrora estampado em outdoors sorridentes, agora só aparece em memes sarcásticos nas redes sociais, será que está enterrando os serviços públicos que matou?

Carlos Henrique/Rua 3, Piranga, com um esgoto estourado na calçada desde novembro e o SAAE dizendo não ter funcionários para cobrir a demanda, devido às demissões.

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