O total de médicos em atuação no país deve chegar a 635.706 profissionais até o fim de 2025, o que representa uma razão de 2,98 médicos para cada 1.000 habitantes, segundo a Demografia Médica do Brasil 2025. Apesar do crescente número de profissionais, entidades médicas afirmam que o aumento numérico não reflete, necessariamente, melhorias na qualidade da assistência.
A Associação Médica Brasileira (AMB) destaca que o país possui atualmente mais de 210 mil médicos generalistas que não concluíram residência nem obtiveram título de especialista, etapa considerada decisiva para consolidar conhecimentos clínicos e habilidades práticas. Sem essa formação complementar, muitos profissionais ingressam no mercado com lacunas que podem comprometer a segurança do paciente. A entidade reforça, ainda, a urgência de ampliar o número de vagas em programas de residência médica.
“Por habitantes, nós temos mais médicos que os Estados Unidos e a França. E para piorar, temos médicos que estão saindo com muitas deficiências dessas escolas. Não por culpa deles, mas por culpa do aparelho formador. Por isso, achamos que é preciso exigir um exame de proficiência dos médicos, para que eles atestem qualidades que os permita trabalhar para a assistência à população, como já acontece com os advogados […]Entendemos que o problema do Brasil não é falta de médicos. O ponto é: qualidade”, disse Dr. César Eduardo Fernandes, presidente da Associação Médica Brasileira.
O debate sobre a qualidade da formação também tem sido levantado por especialistas da área. Em 2024, em entrevista a O Globo, Margareth Dalcolmo, pesquisadora da Fiocruz, membro da Academia Nacional de Medicina (ANM) e presidente da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), destacou a gravidade da situação.
“Existe uma discussão delicada que é qual a qualidade dos médicos que estamos formando. Eu considero uma tragédia a formação de muitos hoje no Brasil em diversas universidades privadas. Temos unidades formando profissionais sem ter nenhum hospital de base para treiná-los”, declarou.
Segundo ela, “muitas escolas particulares formam médicos cuja qualidade não passaria em nenhuma prova do tipo Revalida”.
Em 2024, o país registrou uma forte escalada no número de ações judiciais envolvendo suspeitas de erro médico. Dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) mostram que foram protocoladas 74.358 ações, um salto de mais de 500% em comparação a 2023, quando houve 12.268 registros. Esses processos tratam, principalmente, de pedidos de reparação por danos morais e materiais relacionados à assistência em saúde.
O alerta também é reforçado por entidades internacionais. A Organização Mundial da Saúde (OMS)estima que mais de 10% dos pacientes atendidos em serviços de saúde no mundo sofrem algum tipo de dano durante o cuidado, e que práticas inseguras resultam em cerca de 3 milhões de mortes por ano.
Em 2017, no Brasil, um levantamento realizado pelo Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS) revelou que os hospitais públicos e privados registraram uma média de seis mortes por horarelacionadas a eventos adversos evitáveis. O estudo aponta ainda que entre 30% e 36% desses óbitos poderiam ter sido prevenidos com condutas mais seguras.
Para especialistas, os dados revelam que o desafio do Brasil não está apenas em formar mais médicos, mas em garantir que a formação entregue condições reais para o exercício seguro da profissão. Investir na qualidade do ensino é fundamental para reduzir riscos, fortalecer a assistência e assegurar um sistema de saúde mais eficiente.
Redação PNB


