Nesta quarta-feira (3), o Portal Preto No Branco recebeu mais uma denúncia de um suposto caso de violência obstétrica que teria ocorrido no Hospital Materno Infantil de Juazeiro, Norte da Bahia.
A denúncia foi feita por uma mulher de 37 anos, grávida de 5 meses, que pediu para não ser identificada. Ela deu entrada no hospital no último dia 26 de novembro e contou à nossa reportagem a experiência traumática que viveu após sofrer um aborto.
“No dia 26 de novembro de 2025, dei entrada na Maternidade de Juazeiro (CLISE) por volta das 10h00. Durante uma consulta de pré-natal, foi constatado que minha bebê estava sem batimentos cardíacos. Fui então informada de que seria internada para indução do parto e, posteriormente, para realização de curetagem, pois eu estava com 20 semanas e 3 dias de gestação. Durante o plantão diurno, fui tratada com respeito e cuidado pela equipe de enfermagem. A cada exame de toque, recebi explicações, orientação e administração adequada da medicação. A enfermeira responsável demonstrou empatia e humanidade, essenciais em um momento tão doloroso”, contou.
Ela relatou que os problemas começaram após a troca do plantão, quando um enfermeiro assumiu o atendimento.
“Ao anoitecer, iniciou-se o plantão que mudaria completamente a forma como vivi o pior momento da minha vida. O enfermeiro que assumiu, cujo nome infelizmente não sei, apresentou, desde o primeiro contato, uma postura rude, fria e desrespeitosa. A medicação, prevista para as 20h, só foi aplicada às 21h, sem qualquer justificativa. Durante o toque e a aplicação, ele sequer manteve contato visual comigo. Sua conduta demonstrava total descaso. Por volta das 22h30, entrei em trabalho de parto. As dores eram intensas, vomitei várias vezes e, ainda assim, fui ignorada. Minha irmã informou à equipe, mas não recebi assistência”, acrescentou a mulher.
Ela contou ainda que acabou parindo sozinha em uma ida ao banheiro.
“Ao ir ao banheiro, acabei dando à luz sozinha, por volta das 23h. Minha filha nasceu em minhas mãos, e fui eu quem a amparou para que não caísse no chão. Minha irmã chamou o enfermeiro, que, da porta, me olhou com desprezo e disse apenas: ‘Venha andando pra cama.’ Eu estava sangrando intensamente, segurando minha filha e sem condições de caminhar. Ao demonstrar dificuldade, ele afirmou: ‘Coloque o feto na calcinha, e sua irmã lhe ajuda’. Mesmo devastada física e emocionalmente, fiz o possível para obedecer. Caminhei até a cama com minha filha nos braços. Lá, o enfermeiro pediu que eu a colocasse na maca, cortou o cordão umbilical com evidente nojo e deixou o restante do cordão e dos tecidos pendurados, dizendo que eu ficaria ‘assim até o dia seguinte’, quando seria realizada a curetagem. Em seguida, ordenou a uma técnica que recolhesse o feto e colocasse no lixo do centro cirúrgico. Eu disse que não, que queria enterrar minha filha. Outro profissional, de forma grosseira, respondeu: ‘Tem que levar logo, senão isso vai apodrecer’, referindo-se à minha filha como ‘isso’, como se fosse um objeto descartável. Após isso, simplesmente saíram”, denunciou a paciente.
Ela relatou que a curetagem só foi realizada no dia seguinte e expressou a dor emocional que viveu.
“Fiquei ali, em choque, dor e desespero, sem assistência, sem acolhimento, sem dignidade. Sozinha, retornei ao banheiro e forcei a expulsão da placenta, porque me recusava a passar a noite inteira com restos do parto presos ao meu corpo. Apenas na manhã seguinte, às 10h, foi realizada a curetagem. Minha filha nasceu perfeitinha. Eu mesma desenrolei o cordão do pescoço dela. Ela não era lixo. Minha filha jamais deveria ter sido tratada como algo a ser descartado. Saio desse episódio marcada para sempre. Além da dor do luto, carrego a dor de ter sido tratada com crueldade em um espaço que deveria proteger, acolher e respeitar”.
Mãe de mais dois filhos, ela ressaltou que resolveu fazer a denúncia para que a instituição hospitalar invista em humanização no atendimento às mulheres.
“Faço este relato para que outras mulheres saibam o que aconteceu dentro daquela maternidade, para que isso não seja silenciado, e para que mais ninguém precise passar pelo que eu passei. Violência obstétrica é real, é grave e precisa ser denunciada”, concluiu a mãe.
Ela informou ainda que sua irmã relatou a situação ao Serviço Social da Maternidade e que sua família conseguiu sepultar o feto em um cemitério do município.
Procurada por nossa reportagem a Secretaria Municipal de Saúde de Juazeiro informou que “recebeu, com extrema empatia e profundo respeito, à demanda encaminhada a este Blog. É fundamental reafirmar que a gestão municipal não compactua, sob nenhuma circunstância, com condutas desrespeitosas, desumanizadas ou que atentem contra a dignidade de qualquer paciente, especialmente em situações tão delicadas. A Sesau expressa sua solidariedade à paciente e à sua família, reconhecendo a dimensão da dor vivida. A Secretaria reforça que a administração está à disposição para acolher a paciente oferecendo apoio psicológico, escuta qualificada e acompanhamento contínuo. A Sesau ressalta que a equipe da maternidade tem passado por atualizações e reforça o compromisso permanente da gestão com a humanização do cuidado, o aprimoramento da assistência e a qualificação dos fluxos de atendimento. A Secretaria reafirma que o respeito e a sensibilidade devem ser garantidos, assim como a empatia e responsabilidade profissional. E reitera que todos os fatos serão rigorosamente apurados. A Sesau frisa que o profissional envolvido será identificado e, caso as condutas apontadas sejam confirmadas, as medidas administrativas e legais cabíveis serão adotadas com total rigor. Não serão toleradas práticas que violem os princípios básicos de dignidade, ética e humanização, que são pilares do cuidado na rede. A Secretaria reafirma seu compromisso com a transparência, com o respeito às mulheres e com a garantia de um atendimento seguro e humanizado para toda a população de Juazeiro”.
Reclamação anterior
Redação PNB/foto ilustrativa




Muito importante a coragem dessa mãe em denunciar essa violência sofrida.Espero que a Secretaria de saúde tome uma atitude em relação a esses profissionais sem qualificação para atender uma paciente num momento tão doloroso.