Fabíola Ribeiro, natural de Juazeiro-BA , médica ginecologista e obstetra. Atua nas cidades de Juazeiro e Petrolina-PE, é engajada nas causas femininas e assistência ao parto humanizado. Atualmente Diretora Medica do Hospital Materno Infantil de Juazeiro e tem sido pioneira na região em Parto Domiciliar Planejado.
Em entrevista cedida ao Preto no Branco, tirou dúvidas e fez esclarecimentos sobre parto humanizado. “Posso afirmar que assistir partos respeitando o “tempo” do nascimento é um privilégio poder presenciar o milagre da vida e de Deus ao mesmo tempo.”, destaca Fabíola.
Para se informar, leia a entrevista completa:
PNB: Como podemos escolher uma gestação, um parto, um nascimento consciente?
F.R: Vivemos numa época em que a grande maioria das nossas decisões são “influenciadas” ou guiadas por uma informação social – O que a maior parte da sociedade considera o habitual ou normal, passamos a considerar como melhor caminho sem se aprofundar na essência das decisões a serem tomadas.
A sensibilidade da mulher durante o período gestacional encontra-se aguçada, suas percepções mais apuradas, com isso existe um momento de transformação profunda na vida da mulher, um ritual de passagem onde ela deixa de ser filha e passa a ser mãe, onde deixa de ser um “casamento e passam a ter uma família, enfim uma série de questões que antes da gestação não viam à tona passam transitar no inconsciente e se tornam mais perceptíveis e encarados com mais maturidade.
PNB: A mulher sabe que pode escolher o seu parto? A mulher sabe que existe “outro caminho” sem ser o que todo mundo faz?
F.R: Faz-se necessário deletar ou selecionar o que vem sendo apresentado de forma maciça, onde erroneamente fez a sociedade acreditar que a melhor via de nascimento seja a cirurgia cesariana, que podemos controlar melhor o nosso tempo (o seu e o do médico- NÃO o do BEBÊ), que podemos programar o dia para homenagear alguém (NÃO o do BEBÊ),que podemos nos arrumar sem surpresas…As afirmações e considerações são inúmeras para que essa “verdade “ prevaleça. Antes de qualquer questionamento me posiciono vendo a cesariana como um avanço importante para a saúde do binômio MÃE- BEBÊ, como uma cirurgia salvadora em casos selecionados, mas que em hipótese alguma poderia ser banalizada e tida como melhor (e a única) forma segura do seu filho nascer.
Isso tudo vem à mente para INFORMAR, EMPODERAR para que se possa perceber que existe sim uma outra forma de começar a vida, onde o foco seja a ligação mãe e bebê. Iniciar a busca pelo conhecimento e de uma equipe humanizada na tentativa de romper um sistema engessado de protocolos que não priorizam a formação do VÍNCULO entre a mãe e o bebê.
PNB: O que difere um parto normal de um parto humanizado?
F.R: Para que um parto possa ser dito HUMANIZADO temos que ir muito além de bem tratar a mulher e sua família, é uma relação que se inicia com um pré-natal onde a troca de informações e o estímulo pelo conhecimento se estabelece desde o início.
PNB: Quais pontos são importantes para conceituar um PARTO HUMANIZADO ?
F.R: – O parto é um evento FISIOLÓGICO e FEMININO, portanto devemos RESPEITAR o seu protagonismo, a sua hora e a vontade que deve ser considerada é da mulher!
– Esquecer o tempo do profissional, RESPEITAR o tempo da natureza, dos sinais de amadurecimento do bebê, aguardar de forma espontânea o desencadear do trabalho de parto. Com exceção em situações patológicas onde antecipar um evento fisiológico como parto seja prioritário para a saúde materno e fetal.
– Compartilhar decisões, estabelecer uma relação horizontal, onde as responsabilidades são discutidas com base em evidencias científicas buscando uma melhor assistência, NÃO existe uma “única verdade”.
– EVITAR intervenções rotineiras como: Uso regular de ocitocina; Romper artificialmente “bolsa das aguas”; Realizar lavagem intestinal; Manter paciente em jejum; Manter repouso no leito; Posição deitada na hora do parto; Uso rotineiro de episiotomia(corte na vagina).
-ESTIMULAR: Parto espontâneo com produção fisiológica de ocitocina, sem adicionar ocitocina sintética; Rotura espontânea da “bolsa das aguas”, ela ocorre na hora certa; Liberdade para alimentar-se e ingerir líquidos, o jejum prolongado é nocivo para o bebê; Estimular posições verticais, favorecem a gravidade; Evitar ou abolir a episiotomia.
– Recepção Humanizada do Recém Nascido: Contato pele a pele imediato, ondo o bebê é colocado em cima da mão logo após o nascimento; Manter o cordão integro até aguardar parar de pulsar; Não realizar aspiração de vias aéreas, as novas evidencias demonstram a falta de necessidade desse procedimento; Estímulo ao aleitamento na primeira hora de vida
Com isso podemos concluir que para um parto ser humanizado, o menos é mais, o natural é o nosso objetivo e as intervenções são EXCEÇÕES e não a regra.
Posso afirmar que assistir partos respeitando o “tempo” do nascimento é um privilégio poder presenciar o milagre da vida e de Deus ao mesmo tempo.