Entrando na treta didaticamente – Por Ramon Raniere Braz

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“As redes sociais têm se tornado trincheiras de debates acalorados sobre os mais diversos temas, afinal constituem o cyber-espaço onde as pessoas têm comumente se encontrado e interagido.

Encontro e interação humana, na maioria das vezes, significa implicitamente, a possibilidade de diversidade de opinião e pensamento, o que é formidável, pois há na internet, a ideia de uma pseudodemocracia garantidora, pelo menos na teoria, de um lugar de fala assegurado a todos e todas. Essa possibilidade de emitir opinião publicitando-a de modo a permitir que outros a leiam e a refutem ou corroborem seria o “barato” da coisa é também o que permite muita gente se equivocar nos argumentos.

Esse “democratismo” virtual também apresenta muitos problemas, um deles e sobre o qual quero refletir, é que corpos virtuais utilizam as teias das redes para propagar conceitos atabalhoados sobre os mais diversos assuntos. Pura e simples ignorância ou completa má fé são as causas prováveis dessa confusão conceitual generalizada que acaba por gerar um efeito cascata e viralizam nas Redes ideias muito equivocadas.

Nesse contexto, debater o machismo é cada vez mais necessário. Muito se tem falado sobre ele e seus efeitos devastadores, mas acontece no cerne desses debates virtuais, talvez – na minha opinião, uma das mais equivocadas interpretações do termo.
Primeiro que o machismo, erroneamente, tem sido empregado em oposição ao Feminismo.

Acontece que embora os dois termos se relacionem em certa medida e de fato o feminismo surge em contraposição ao machismo, o segundo não está em posição de antagonismo imediato ao primeiro, coloca-los nessa posição incorre em uma falsa simetria.

Pois bem, o machismo é um fato social, está dado na sociedade, faz parte da concepção de mundo alicerçado no patriarcado.
Pensando a partir de Durkheim, o sociólogo que inaugura a concepção de fato social, podemos dizer que os fatos sociais são as formas de agir, pensar e sentir. São diferentes dos fenômenos orgânicos e dos psicológicos, as regras jurídicas, morais, dogmas religiosos, maneiras de agir, costumes, etc são fatos sociais. O machismo é um fato social. Desta forma, homens e mulheres estão suscetíveis ao machismo já que ele é estrutural a sociedade.

Segundo que o machismo por ser fato social e está, digamos, impregnado na sociedade, se materializa, por assim dizer, de diversas formas e níveis que vai da violência simbólica ao feminicidio por exemplo. A mulher que apanha do companheiro, é vítima do mesmo machismo de outra que é silenciada abruptamente no seu local de trabalho, é por sinal o mesmo machismo que faz com que ela tenha um salário menor que um colega de trabalho homem que desempenha a mesma função. Simbólica e fisicamente, o machismo deforma, mutila e mata. Atribuir a uma patologia psicológica um ato estruturado no machismo é negar seu efeito nocivo, os 33 homens que estupraram a jovem de 16 anos e publicaram seu feito nas redes sociais o fizeram amparados no mesmo machismo que faz com que relativizemos o crime e culpabilisemos a vítima.

Terceiro, todos somos machistas, inclusive a maioria das mulheres, é necessário um trabalho incessante de desconstrução, pois ele está presente durante todo o processo formativo dos indivíduos, desde muito cedo, na infância, até o pôr do sol da idade. Esse trabalho é coletivo e ao mesmo tempo individual. Perceber-se machista é o primeiro passo.

Já o feminismo surge como um esforço teórico e político de enfretamento e desconstrução da opressão machista e suas reverberações. É protagonizado pelas mulheres e por acontecer no campo teórico e na pratica da militância tem diversas formas e nuances. Ou seja, não existe uma regra, existe diversas formas de se pensá-lo, de se fazê-lo, de se militá-lo, das mais radicais as mais conciliadoras, e não é nosso papel, enquanto homens, deslegitimar suas táticas e estratégias. Antes porem, devemos enxergar o machista que existem em nós e combate-lo com veemência.

Portanto, toda vez que num debate, numa conversa qualquer, colocamos o machismo e o feminismo em posições simétricas, podemos estar cometendo um grande equívoco conceitual  e nas redes sociais há um festival de falsa simetria.”.

Ramon Raniere Braz é Juazeirense, e graduando do curso Ciências Sociais da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf).

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