Por: Álamo Pimentel
A crise política do nosso tempo agravou a dificuldade que boa parte da sociedade brasileira possui em distinguir a crítica da ofensa. Enfrentamos os excessos de opinião com escassez de reflexão. Terrível dilema para o desafio histórico da superação de velhas contradições.
A crítica exige abstração, cobra daquele que a pratica: distanciamento dos fatos, argumentos sólidos, postura ética e compromisso com a sociedade em que vive. A ofensa elimina a abstração, conduz aquele que a pratica a palavrórios pautados por uma relação imediata e furiosa com os fatos. Enquanto a crítica produz conceitos que elevam nossas ações, a ofensa espalha ódio, reduz o pensamento e rebaixa ofensores e ofendidos.
Primeiro exemplo. A crítica da corrupção elevou o debate público no Brasil sobre o colapso dos modelos de governo pautados em alianças feitas a qualquer custo para a manutenção do poder pelo poder. Da esquerda para a direita, lideranças políticas, intelectuais e ativistas de diferentes causas contribuem significativamente para a qualificação deste debate. O problema é que estas contribuições não alcançam parcelas significativas da população e ficam restritas as círculos sociais muito fechados.
Segundo exemplo. A ofensa pessoal aos políticos contagia a população brasileira. Faz circular a infâmia. Inflama os ânimos das pessoas. Rende bravatas grotescas em que prima o sarcasmo, o denuncismo vazio e o prazer na ridicularização dos ofendidos. A imagem da Presidente Dilma (em posição ginecológica) na boca dos tanques de combustíveis em vários automóveis no ano de 2015 foi uma das mais deploráveis campanhas da ofensa gratuita, vulgar e odiosa que circulou entre nós.
A crítica qualificada não consegue transformar em ampla escala o pensamento nacional e, por tabela, não consegue elevar nossa dignidade civilizacional enquanto povo. A ofensa rasteira se multiplica feito praga e avaria nossa competência para transformar a história. O saldo deste descompasso é uma gritante incapacidade de projetar no presente um futuro que nos traga de volta a democracia.
-Álamo Pimentel é juazeirense, poeta, ensaísta,pedagogo, especialista em antropologia, doutor em educação, pós doutor em sociologia do conhecimento e professor da Universidade do Sul da Bahia.
Álamo, é por todas essas coisas que, no momento tão grave, servimos de chacota no estrangeiro. não bastasse a obscuridade na qual estamos metidos, ainda vem o mau gosto , em muitos casos. Beijo.
Boa requisição: Álamo Pimentel, Sibele Fonseca – “pretonobranco”, em preto no branco.