Professor da UFSCar lança livro de poemas sobre a crise brasileira

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Obra reúne 18 poemas em prosa que tematizam o atual momento político brasileiro

Quem diria que no meio de tanta confusão política ainda há espaço para poesia. O professor do Departamento de Letras (DL) da UFSCar, Wilson Alves Bezerra, está lançando o livro “O Pau do Brasil” (Ed. Urutau), uma reunião de poemas em prosa que tematizam o atual momento político brasileiro.
“Neste ano de 2016 vivemos momentos de exceção em nossa política. Um dos pontos extremos foi o domingo nefasto, dia 17 de abril, em que uma votação no Plenário da Câmara dos Deputados, numa sessão presidida por um réu, tornou-se um circo de aberrações e teve repercussão mundial”, justifica o autor sobre a ideia do livro nascer neste contexto tão recente, em que surge a necessidade de suscitar espanto, reflexão e alguma ação. A ação imediata do professor foi escrever 18 poemas em prosa, ou “poemas, urgentes e, espero, necessários” em apenas sete dias, “com a premência que a situação exigia”, como colocado por ele.
Retomando a tradição do modernista Oswald de Andrade, com humor e citações irônicas, o livro constrói um panorama do Brasil sob a crise política, trazendo uma série de citações e alusões, como no caso dos títulos das partes. “Um dos pressupostos é colocar em confronto os discursos que estão em jogo em nosso momento histórico: Oswald de Andrade, Gláuber Rocha e Francis Fukuyama podem de algum modo lançar luz sobre os três movimentos que compõe a narrativa da obra”, explica Bezerra.
A associação com modernismo vai além da tradição e confronto de discurso. “O modernismo é um momento da literatura brasileira em que os poetas se perguntam de modo cabal sobre a nacionalidade. Dentre toda a produção literária daquele período – que inclui uma escuta apurada da linguagem dos imigrantes nas ruas paulistanas – de Alcântara Machado – as pesquisas etnográficas e incursões de Mário de Andrade Brasil adentro, pessoalmente identifico-me muito com a primeira produção de Oswald de Andrade, com o poema piada, com a citação irônica de textos historiográficos, enfim, com seu livro ‘Pau Brasil’ (1925). Assim, a minha publicação ‘Pau do Brasil’, noventa anos depois, recoloca a pergunta incômoda sobre o que nos define, sobre nossos fracassos civilizatórios, sobre o legado sinistro da colonização, com o mote do momento atual”, afirmou.
No livro, o autor utilizou como fonte das poesias discursos políticos e, inclusive, conversas grampeadas e veiculadas pelas mídias. Para ele, os autores Oswald de Andrade e Jorge Luis Borges ensinam que deslocar um texto de uma revista ou de um livro de história a um livro de poesia faz dele um novo texto, dando-lhe uma nova legibilidade. “A poesia tem o poder de perturbar a linguagem, desnaturalizar os discursos que se repetem e se desgastam. Se o poeta ainda tem algum papel em nosso mundo contemporâneo é o de não deixar ninguém indiferente diante de uma página impressa”, ressalta.
O livro foi lançado no dia 7 de junho, na UFSCar, com um debate com a coordenadora do programa de pós-graduação em Estudos de Literatura (PPGLit), Diana Junkes, que pode ser conferido neste link: https://youtu.be/1aIwuc7xl7k.

Abaixo um dos poemas que está no livro

Vida de gado

Este pato representa a indignação das pessoas.
O povo brasileiro é um povo do bem.
O pato, com este olhar de paz, é a forma brasileira de protestar.

ASCOM- Universidade Federal de São Carlos.

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