Liberdade, Liberdade, abra as asas sobre todos e todas!

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A  primeira cena de uma relação sexual entre homossexuais da teledramaturgia brasileira foi ao ar na noite de ontem (12) durante o capítulo da novela “Liberdade, Liberdade” exibida às 23h  pela Rede Globo de Televisão.

A cena escrita pelo autor Mário Teixeira foi marcada pela intimidade amorosa  entre os personagens André (Caio Blat) e Tolentino (Ricardo Pereira), que atraídos um pelo outro, contrariaram as normas da sociedade do Brasil Colonial (século XVIII), época em que a história se passa e materializaram um caso de amor.

Durante uma entrevista para o Gshow o autor da novela declarou que a questão sexual é o que menos importa na história dos dois personagens.  “Não importa o sexo. O amor não conhece gênero. O amor transcende tudo isso.  Naquela época este tipo de amor não era tratado como preconceito, mas como um crime. O conceito de homossexualidade não existia, então a definição de preconceito também não. Era pior, era crime. E pior do que um crime, era um pecado. Estas pessoas eram condenadas à morte por conta de quem elas eram, só por isso. Elas pagavam um preço muito alto”, afirmou Mário.

Quando escreveu a cena, o dramaturgo apostou que o público encarasse com a mesma naturalidade com que ele a escreveu: “É natural o que a gente está retratando neste momento. Cada um assiste como quer, é a sensibilidade de cada um que norteia, mas eu queria que as pessoas assistissem com o mesmo sentimento que tive quando a escrevi, que foi com a mais absoluta naturalidade”.

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Apesar de ter sido criticada por alguns setores conservadores e grupos religiosos, a cena foi comemorada pela comunidade LGBT. O Deputado Federal Jean Wyllys, na sua rede social, parabenizou a emissora pela iniciativa.  ” Toda a sequência foi elegante sem abrir mão da sensualidade – da homossexualidade – tensa que envolve as personagens. Com um diálogo significativo e uma direção delicada, Caio Blat e Ricardo Pereira deram um show de interpretação (coragem e verdade emprestadas aos personagens). Mais um dia histórico para a teledramaturgia brasileira. A Rede Globo e equipe refletiram a diversidade da vida e as conquistas culturais e políticas da comunidade LGBTs. A telenovela não pode ser ignorada por intelectuais, por políticos nem por movimentos sociais que estejam seriamente comprometidos com a disputa dos corações e da mente dos brasileiros no sentido de (re)construir uma mentalidade caracterizada pelo respeito à dignidade humana de todos e todas, a despeito de suas diferenças e identificações”, comemorou o Deputado.

Em Juazeiro, o Presidente do Conselho Municipal dos Direitos Humanos e Coordenador do setor de diversidade sexual Anderson Motta, também se manifestou sobre a cena. “A cena foi delicada e passou com suavidade o sentimento entre duas pessoas. Contempla uma grande parte da sociedade que sempre foi humilhada e violentada por amar diferente, por ser diferente , por assumir a sua identidade. A cena naturalizou esse tipo de relação amorosa e, de certa forma, contribuiu para a nossa luta no enfrentamento a homofobia. O incrível é que essa discussão ainda cause polêmica em pleno século XXI”, declarou Anderson.

Mycaella Bezerra, primeira aluna Transexual da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf),  viu a cena como mais uma conquista de direitos da comunidade LGBT. “Acho super importante esses casais homoafetivos serem inseridos nas novelas e minisséries. Dará visibilidade aos gays e lésbicas e mostrará que pessoas homossexuais são dignas de todo respeito e direitos sociais. Os/as adolescentes gays e lésbicas terão mais segurança, gerando discussões sobre a temática da sexualidade e com isso a diminuição da violência contra gays/lésbicas. E também dá representatividade para os LGBT’s”, declarou a universitária.
Em Petrolina, o Diretor de Cultura do município e Ativista LGBT, Alzyr Saadehr também fez uma reflexão sobre o tema: “Apesar de tardia esse tipo de cena na tele dramaturgia global , foi emocionante ver o reconhecimento do amor entre dois homens, principalmente na época em que ela foi retratada. Muito válida para esses dias de intolerância em que vivemos e reforça ainda mais que a homossexualidade não é “coisa” da atualidade. O amor tem que ser respeitado, independente de tudo”, afirmou o ativista.
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A novela de Mário Teixeira baseada em argumento de Márcia Prates é inspirada no livro “Joaquina, Filha do Tiradentes”, de Maria José de Queiroz.
“Liberdade , Liberdade” nos remete ao Brasil colonial  e mostra a história do período da Inconfidência Mineira, sua organização e costumes. Com a cena de ontem, a novela mostrou que o amor entre pessoas do mesmo sexo, presente na época em que a família real portuguesa chegou ao Brasil, é possível. É natural e atual. Como disse o Deputado Wyllys “Alguns podem considerar as representações dos homossexuais em telenovelas meras “abstrações”. Porém, como bem lembrou Albert Camus em “A peste”, quando as abstrações se põem a fazer sofrer, humilhar e, por fim, matar, o melhor que fazemos é nos ocupar delas”, parafraseou.

Ocupemos-nos, pois! Liberdade, liberdade!

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