ONG qualifica empreendedores LGBTs para a Rio 2016

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Organização inglesa ensina pessoas como empreender e driblar desemprego. ‘Queremos combater a homofobia de uma forma positiva’, diz representante.

Curso capacita pessoas LGBTIs a empreender (Foto: Clarisse Kalume/Micro Rainbow)
Curso capacita pessoas LGBTs a empreender (Foto: Clarisse Kalume/Micro Rainbow)

Quinze jovens ganharam uma opotunidade de ouro de se empregarem durante os Jogos Olímpicos de 2016. A diversidade os une enquanto a discriminação restringe o acesso ao mercado formal de trabalho. Isso porque todos integram a comunidade LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais e Intersexuais) e vivem no Rio de Janeiro. Como empreendedores, eles encontraram a saída para abrir negócios próprios e fugir do desemprego.

Tudo foi possível graças à iniciativa de uma ONG inglesa, a  Micro Rainbow, que oferece cursos gratuitos a alunos LGBTs na cidade desde o ano passado. A entidade trabalha para empoderar grupos de estudantes com aulas que abordam educação financeira, estímulo ao potencial de empregabilidade e treinamento com possíveis empregadores.

“O que queremos mostrar é que as pessoas LGBTs têm potencial. Elas podem ser empregadas, ter um negócio, enfim, estar em qualquer lugar e ser o que quiser. Ao tentar incluir as pessoas LGBTs na sociedade, queremos quebrar esses preconceitos, mudar essas atitudes sociais que, normalmente, são negativas e combater a homofobia de uma forma positiva”, explicou o gerente de projeto da Micro Rainbow, Lucas Paoli.

O curso é semestral e as inscrições para a próxima edição abrem em agosto. Já o período letivo começa em outubro. De acordo com Paoli, as inscrições sempre superam o número de vagas, que é limitado a 30 lugares. Nesta quarta-feira (13), ocorre a formatura da segunda turma que fechou o ciclo de aulas. Entre eles, 15 conseguiram empregos graças a oportunidades que surgiram nesse período que precede a Olimpíada.

Coordenador e CEO do Micro Rainbow, Lucas Paoli e Sebastian Rocca (Foto: Clarisse Kalume/Micro Rainbow)
Coordenador e CEO do Micro Rainbow, Lucas Paoli e Sebastian Rocca (Foto: Clarisse Kalume/Micro Rainbow)

A escolha do Brasil e, especialmente do Rio, transcendem os Jogos. O CEO da entidade, Sebastian Rocca, veio da Inglaterra para acompanhar o projeto. Entre as razões que fizeram a ONG optar pelo país e pela cidade, Rocca cita uma população LGBT “vibrante” na cidade, mas também destaca dados dos quais brasileiros e cariocas não podem se orgulhar.

“Decidimos trabalhar no Brasil porque, aqui, pessoas LGBT sofrem altos níveis de violência. E também há muita desigualdade, pessoas muito pobres e outras muito ricas. Em nossas consultas, descobrimos que se você é LGBT e vive na pobreza, você tem mais probabilidade de permanecer pobre. Isso porque o Brasil tem uma sociedade muito religiosa, violenta e machista. Todos esses elementos, quando acrescentados à sexualidade, fazem o ‘case’ para nós apoiarmos essas pessoas a sair da pobreza”, ressaltou o CEO.

Sexualidade escondida
Para Isabela Colucci, de 33 anos, o curso foi crucial para que ela se sentisse mais segura profissionalmente. Formada em tecnologia da informação e aluna da primeira turma do curso, concluído no segundo semestre de 2015, Isabela garante que o mais importante que aprendeu nas aulas foi a se reeducar financeiramente.

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“A base forte é a educação financeira, que me ajuda pessoal e profissionalmente. Antes do curso eu já tinha decidido trabalhar como autônoma, mas não tinha nenhuma instrução. Não sabia, por exemplo, como legalizar a minha empresa. Essa base mudou radicalmente com eles. Hoje, eu já tenho planos a curto, médio e longo prazo. Penso menos como funcionário e mais corporativo”, diz.

Antes de se inscrever no curso, o trajeto da profissional no mercado de T.I. não foi simples. Lésbica, ela contou ter começado cedo na profissão. Desde então, escondia a sexualidade com medo de retaliações no trabalho. Hoje, Isabela se sente mais livre e produtiva.

“Eu comecei muito jovem no mercado de T.I., e era desacreditada. Tem a questão do machismo, mas também do LGBT ser mal visto. Dentro de um ambiente corporativo, eu nem pensava em falar sobre a minha opção sexual”, revelou.

Esconder a opção sexual é, muitas vezes, a saída para não sofrer com o preconceito. Contemporâneo de Isabela no Micro Rainbow, Isaque Lima, gay, também de 33 anos, foi convidado pela ONG a ser monitor da nova turma que se forma nesta quarta-feira.

Fora o acompanhamento dos estudantes nesse período, Isaque dá aulas de inglês e, a partir do que aprendeu, conseguiu crescer o próprio negócio. Hoje, ele já conseguiu consolidar aquilo que começou a fazer há cinco anos.

“Não sabia nada de administração. Consegui sair do vermelho, sabe? Tudo era muito justo. Hoje, consegui, inclusive, empregar outras pessoas, também LGBTs. Tenho muito a aprender ainda. Mas no curso tive noções de direcionamento, educação financeira”, contou.

G1

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