‘Para não enlouquecer’, por Queila Patrícia

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O outro está para que sejam desencadeadas ações, que levarão à concretização das relações sociais. Muitos são os sentimentos de angústia, desolamento e solidão dos indivíduos na atualidade. Mas será que esses sentimentos são culpa destes ou esta sociedade é que anda cada vez mais individualizada e indiferente, no que se refere ao semelhante?

Poucas são as criaturas que se compadecem da dor do semelhante e se dispõem a olhar com as lentes humanas, quando se é bradado aos quatro ventos:”Somos todas/os humanas/os!” Afirmativa retórica que permeia os discursos dos indivíduos. Será mesmo este ser “humano”? Será mesmo este ser preocupado com as causas sociais e humanistas? Será mesmo verdadeiro o discurso do político que brada em nome de direitos relegados à uma classe? Será? Será mesmo você, pessoa, obrigada a compactuar, conviver com estas figuras? Há quem diga que a felicidade, inferno ou céu está dentro de cada uma/um. Ninguém pode carregar peso de ninguém. Concordo! Fazemos das nossas vidas “as dores e as delícias”, mas, estas, são colhidas pelo fato de se “ser o que é”. Esse preço pode ser “gozozo” ou oneroso. Mas será que para o bom andamento e desenvolvimento da humanidade, para uma harmonia entre os seres, não se faz necessário um olhar mais cuidadoso, complacente e disposição desses indivíduos para com os outros?

Reclama-se da violência, dos variados descasos, mas já analisaram o descaso praticado por si em relação à/ao outra/o? Já se perguntou se agiu certo quando foi procurado por alguém, para ser um ponto de conforto em uma vida conturbada? Ou será que fez pouco caso e ignorou aquele ser humano, dizendo não ter nada a ver com seus problemas? Melhor dizendo: você se colocou no lugar da/do outra/o? Então, será de fato que somos de todo responsáveis pelos mais variados contextos angustiantes e desoladores, ao sermos julgadas/os e responsabilizadas/dos por sentirmos demais? Fico a me perguntar: será que sou eu culpada de uma incompreensão de outrem pela minha forma revolucionária de pensar? Será que sou eu responsável por uma reação preconceituosa e desrespeitosa por parte de outrem, por um questionamento feito? Será que sou eu responsável pelo fascismo demonstrado de maneira “cordial”?

No dia seguinte à escrita deste texto, dei de cara com um vídeo de Eduardo Galeano (recomendo que assistam), que uma amiga querida havia postado, intitulado “É TEMPO DE VIVER SEM MEDO”, no qual ele faz algumas afirmações acerca do medo e outros aspectos humanos, individuais, sociais e, dentre elas, havia estas: “…se fala, terá desemprego; se caminha, terá violência; se pensa, terá angústia; se duvida, terá loucura; se sente, terá solidão”. Então, percebi que Galeano (sem a pretensão de me comparar a ele.), também, não queria enlouquecer. Ou será que sim, é melhor enlouquecer a viver nesse universo demasiadamente normal? Gostaria muito de saber se, sim, sou eu responsável pela hipocrisia humana e suas mais variadas facetas repugnantes e pelas mais cruéis formas de opressão.

Queila Patricia é Graduada em Letras pela Universidade Estadual de Pernambuco; Estudante do curso de Ciências Sociais da UNIVASF; Militante Feminista e Militante do Movimento Antirracista do Vale.

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