“Vivemos numa época onde a liberdade sexual está numa crescente e a preocupação com a prevenção vem diminuindo de forma exponencial”, disse a doutora Fabíola Ribeiro sobre o crescente número de pessoas contagiadas pela Sífilis

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Fabíola  Ribeiro, natural de Juazeiro-BA , médica  ginecologista e obstetra. Atua nas cidades de Juazeiro e Petrolina-PE, é engajada nas causas  femininas  e assistência  ao parto humanizado. Atualmente Diretora Medica do Hospital Materno Infantil de Juazeiro e tem sido pioneira na região em  Parto Domiciliar Planejado.

Em entrevista cedida ao Preto no Branco, tirou dúvidas e fez esclarecimentos sobre a Sífilis, doença que segundo o governo, só esse ano pode afetar 42 mil gestantes e enquanto as infecções por sífilis congênita devem superar 22 mil casos entre menores de 1 ano.

Entrevista- Por Sibelle Fonseca

P.B: O que é sífilis?
F.R: É uma doença sexualmente transmissível, por uma bactéria chamada Treponema Pallidum.
P.B: Existem vários estágios de Síflis? Quais são?
F.R: A sífilis é única, porém possui diferentes estágios da doença, ela pode ser dividida em:
Sífilis Primária, Sífilis Secundária, Sífilis Latente e Sífilis Terciaria.
Quanto mais precoce a infecção maior o risco de transmissão e contágio.
P.B: O que acontece com uma gestante portadora de sífilis?
F.R: Durante o pré natal o exame de rastreio para Sífilis é universal pelo alto risco de transmissão vertical., isto é, transmitir ao feto. Após o diagnóstico o tratamento deve ser estabelecido imediatamente, e continuar o acompanhamento até o final da gestação para que a reinfecção não ocorra.
P.B: A pessoa pode ter e não saber?
F.R: Sim, pois a Sífilis pode ser assintomática e só se torna evidente após a realização dos exames laboratoriais.
P.B: A sífilis no homem e na mulher, há diferença de sintomas?
F.R: Os sintomas são semelhantes entre homens e mulheres, podendo atingir a genitália feminina ou masculina.
P.B: Formas de contágio ?
F.R: A principal via de contágio é através de relação sexual sem camisinha entrando em contato com uma pessoa infectada.
Via congênita, onde a mãe transmite ao feto durante a gestação ou o parto caso não seja feito o tratamento preconizado.
P.B: Mais fácil homem contagiar a mulher ou vice versa?
F.R: O contágio envolve alguns fatores: Imunidade da pessoa; Lesões de pele na genitália.
Porém a mulher possui maior área de mucosa o que favorece a transmissão.
P.B:  Através do Sexo oral há transmissão?
F.R: Sim, o sexo oral sem o uso da camisinha é sim uma via importante de transmissão.
P.B: Quais os sintomas e tratamento da sífilis?
F.R: Os sintomas variam de acordo com o estagio em que a Sífilis se encontra:
Primária: Lesão unica, indolor, sem coceira ou pus. Aparecem onde  a bactéria entrou em contato, pode atingir, pênis, vulva, vagina, anus, boca…Normalmente de 10 a 90 dias após o contato sexual desprotegido.
Secundária: Aparecem de 6 semanas a 6 meses após a lesão inicial, e se caracteriza por manchas nas palmas das mãos e plantas dos pés.
Latente: É quando não aparece nenhuma manifestação clínica, porém pode ser interrompida caso apareça algum sintoma da sifilis primária ou secundária.
Terciária: São as manifestações sistêmicas tardias com lesões ósseas, cutâneas, cardiovasculares e neurológicas. Podem surgir até 40 anos após a infecção inicial.
P.B: Quem teve sífilis pode doar sangue?
F.R: Enquanto estiver realizando tratamento não podem doar sangue, porém após 1 ano do término do tratamento podem voltar a doar sangue.
P.B: Consequências da sífilis?
F.R: As consequências ocorrem desde que não seja feito o tratamento, caso seja feito o tratamento estabelecido não possui consequência a curto e longo prazo.
P.B: Pode matar?
F.R: A forma que pode chegar a morte é a terciária, onde a pessoa passou um longo período infectado sem tratamento e causa repercussão multissistêmica comprometendo a saúde como um todo.
P.B: O governo trabalha com a projeção de que as notificações de sífilis em gestantes cheguem a quase 42 mil casos no país, só em 2016, enquanto as infecções por sífilis congênita devem superar 22 mil casos entre menores de 1 ano. O que está provocando esses números tão altos?
F.R: Primeiro vivemos numa época onde a liberdade sexual está numa crescente e a preocupação com a prevenção vem diminuindo de forma exponencial, havendo uma exposição maior a bactéria.
O tratamento para sífilis na gestante deve ser estabelecido o mais rápido possível, a droga de escolha é a Penicilina Benzatina visto que atravessa a barreira placentária e previne a transmissão para o feto.
Lembrar de realizar o tratamento do parceiro para que não haja reinfecção.
Na verdade a qualidade do pré natal no nosso país é questionável, uma vez que o diagnóstico é rápido, e o tratamento proposto é um antibiótico dos mais antigos e mais baratos do país, nos leva a acreditar que não estamos conseguindo estabelecer um diagnóstico precoce nem tão pouco realizar o tratamento de forma efetiva na gestação e no pós natal.
P.B: A penicilina cristalina, é o medicamento utilizado como tratamento padrão em casos de infecção por sífilis congênita e tem relevante impacto na saúde pública, mas um levantamento feito em janeiro deste ano revelou que 60% dos estados relataram desabastecimento de penicilina, isso pode agravar ainda mais a situação da doença no país?
F.R: Acredito que haverá sim um aumento dos casos de sífilis congênita em menores de 1 ano, pois a falta de matéria prima para a Penicilina Cristalina é uma realidade e vem afetando a assistência ao tratamento dos bebês.
Vele ressaltar que o tratamento na gravidez com Penicilina Benzatina, que não está em falta no mercado, previne a sífilis congênita de forma efetiva, com isso precisamos reforçar o diagnóstico e tratamento durante a gravidez.
P.B: O que é preciso ser feito para que esses números caiam?
F.R: Oferecer a toda gestante uma assistência pré-natal com qualidade; Captação precoce da gestante para o início do pré-natal; Realização de, no mínimo, seis consultas com atenção integral qualificada;  Realização do VDRL no primeiro trimestre da gestação, idealmente na primeira consulta, e de um segundo teste em torno da 28a semana com ações direcionadas para busca ativa a partir dos testes reagentes. Instituição do tratamento e seguimento adequados da gestante e do(s) seu(s) parceiro(s);
Documentação dos resultados das sorologias e tratamento da sífilis na carteira da gestante;
Notificação dos casos de sífilis congênita.
Além disso, as medidas de controle, envolvendo a realização do VDRL, devem abranger também outros momentos, nos quais há possibilidade da mulher infectar-se, ou, estando infectada, transmitir a doença para o seu filho: antes da gravidez e na admissão na maternidade, seja para a realização do parto ou para curetagem pós-aborto;

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