Escondidinho?
Não. Não se trata do popular prato no Nordeste. Trata-se de uma visita do MEC do governo interino, num dia de feriado e pleno fim de semestre da Universidade Federal do Vale do São Francisco, no campus Petrolina. Mais “escondidinho” da comunidade universitária, “impossível”.
De um lado, estudantes e professores, organizados em protesto pacífico – mas contundente – contra o golpe nas universidades federais, anunciado oficialmente pela INTERINA equipe do MEC para 2017 (entre outras medidas regressivas) quatro dias atrás (11/8). Um inesquecível presente no Dia do Estudante! Em resumo: 45% das verbas para investimentos e 18% das verbas para custeio em 2017 serão menores em relação ao orçamento de 2016 (já drasticamente fragilizado). O que os discentes e docentes da Univasf tinham como “arma” eram os argumentos, forjados em meses de organização e mobilização, cartazes de cartolina e papel metro, caixa de som e microfone.
Do outro lado, temos não só um ministro que veio quase em sigilo para a Univasf, ou que se posicionou contra políticas de ampliação do acesso à universidade como as cotas para negros e indígenas (as públicas) ou o PROUNI (as privadas). Não. Tínhamos um aparato de “segurança” nunca dantes visto na Univasf, composto por Guarda Municipal e Polícia Militar (!), passando por cima da autonomia universitária, desconsiderando a história e ignorando que força de segurança numa universidade federal (dentro da legalidade e normalidade) só a Polícia Federal.
A visita do MEC seria para “anunciar” liberação de recursos. Liberação que já faz parte do fluxo administrativo normal. Todavia, tentou se transformar um corriqueiro ato burocrático num evento. E, sem dúvida, 15/8/2016 ficará enquanto um evento na Univasf.
Pois estudantes e servidores da própria Univasf não tiveram acesso ao auditório da BIBLIOTECA da Univasf para se manifestar. Algo absolutamente normal em países supostamente democráticos, hoje, no espaço que é um dos corações de qualquer universidade, não pôde acontecer. Não somente univasfianos estavam lá para se manifestar democraticamente, ao fim e ao cabo, pela volta da democracia. Também fortaleceram o movimento nobres colegas da UPE (Petrolina), da UNEB e dos IF’s.
O ministro cancelou o evento no auditório e se restringiu à reitoria, quando os manifestantes se dirigiram para o prédio da administração central. Lá chegando, inicialmente foram barrados, depois tiveram tremenda dificuldade para entrar. Inclusive, dado o óbvio desvio de função da Guarda Municipal, habilitada para segurança patrimonial, houve momentos de tensão muito sérios e queixas de agressão que estamos averiguando.
Qual a estatura moral de uma administração interina que depende de tanta segurança contra educadores, estudantes e cartazes de papel? Seria de surpreender, já que em 35 dias iniciais três ministros embaraçosamente tiveram que sair? Seria de surpreender o conteúdo profundo do ajuste fiscal, que é antes um “desajuste”? O corte de 45% integra um movimento mais amplo de avanços de pautas conservadoras e de retirada ou regressão de direitos sociais.
A austeridade fiscal é antes um austericídio da nação brasileira. A “austeridade” na área de educação é gravíssima. A imagem que chocou (negativamente) o mundo de um ministério composto pela exclusivamente por homens, brancos e totalmente descolados dos setores populares, acompanhado de um discurso voltado de forma subalterna ao “deus” “mercado”, revela as entranhas de um bloco de poder que ficaram ainda mais expostas depois de hoje.
Este “evento” na Univasf integra o titular-interino [sic] do MEC ao “gabinete de notáveis” de Michel Temer. Que essa tormenta e esse tormento passem logo. Em prol da universidade e da educação públicas, gratuitas, de qualidade e laicas, foi que servidores e discentes levantaram bem cedo para recepcionar a missão governamental.
Estamos alertas. E convocamos nossos colegas, a população do Vale e do Brasil a se juntarem na resistência ao risco que corremos. Com um ministério e um MEC desses, nosso risco não é de retrocesso à República Velha, como pensaram alguns. Sejamos firmes e avancemos. O risco é de o Brasil recuar à Idade da Pedra.
Sem Assistência Estudantil, deixa-se de investir na permanência (sim, investir) de talentos preciosos no futuro da universidade e da nação. Junte-se a nós. Educação não é favor. É direito de todos e DEVER DO ESTADO.
COMITÊ UNIFICADO DE MOBILIZAÇÃO DA UNIVASF.