Quanto mais distante da vida que pulsa nas veias de quem está na escola, mais desinteressante ela se revela. É isso que os anos de docência e militância social me fazem concluir.
Passei a pensar mais claramente que a escola sofre de um mal permanente, não importa se pública ou privada, se no campo ou na cidade, ela não sai da ‘caixa’. Seu formato, por mais avançado que seja, ainda é o formato tradicional, conservador, onde se parte do mesmo ponto – os livros- e retorna-se sempre ao mesmo lugar: as provas.
O professor (por mais aberto que seja) está sempre fechado ao que surge além de seus domínios, seja por medo, por não saber, ou por não querer. Tudo que lhe é estranho, ou ‘novo’, é rejeitado como se fosse impróprio ao ambiente escolar.
Isso, talvez, seja reflexo de um currículo cada dia mais ‘insosso’, cujos tempos e espaços de ensinar e aprender estão restritos e limitados aos muros escolares, denunciando o caráter autocentrado em um ‘tipo de saber’ que lhe parece ser específico e exclusivo.
Entretanto, o cotidiano das crianças, dos jovens e dos próprios professores, tem se revelado marcado por inúmeras emergências contemporâneas que invadem a vida e se ressaltam através de diferentes formas de redes de comunicativas: as virtuais, digitais (via internet: face, whastApp, blogs, etc.) ou aquelas formadas pelas organizações e movimentos sociais presentes nas nossas comunidades, dos quais participamos ou os pais dos alunos participam (grupos de jovens, igrejas, partidos, associações, sindicatos etc).
A dificuldade da escola em reconhecer a multiplicidade desses ambientes e do conhecimento que eles geram, incide em vários fatores: o crescente desinteresse dos estudantes pelas aulas; a preocupante desmotivação dos professores pelo ensino; os baixos níveis de aprendizagem na educação infantil ao ensino superior; o avanço de uma educação neotecnicista que coloca professores a serviço de ‘sequências didáticas’ alienantes e acríticas; a preocupação excessiva por resultados (independentes do processo) e, o número imenso de pessoas escolarizadas, com pouquíssimas capacidade de leitura histórica sobre a realidade e, portanto, de tomada de decisão e ação diante dos problemas que diariamente enfrentam.
O formato conservador que se faz presente na escola, revela a dificuldade de reconhecer que a centralidade sobre a produção do conhecimento e, portanto, da formação humana, não está exclusivamente na escola, nos livros e no professor.
Todas estas questões, nos fazem afirmar que precisamos refazer nosso conceito de escola, não a partir do discurso que as vezes vemos ensaiado de que ela não é mais necessária. Absolutamente não é essa a defesa que aqui fazemos. O que afirmamos é que a escola precisa se reconhecer na atualidade dos tempos sob o qual ela se encontra.
Isso significa, rever as bases sob as quais tem organizado seu formato; abrir-se para o diálogo com outras formas de relações sociais; rediscutir o seu papel no mundo onde ‘tudo’ está disponível em apenas um “clic”; atualizar suas formas de organização, em diálogo com a complexidade da contemporaneidade.
O mundo escolar enfrenta dificuldade em ‘produzir’ desejos por ensinar e aprender e isso exige da escola, uma revisão permanente de percurso, de objetivos, de fins e de meios pelos quais ela tem organizado seu trabalho pedagógico.
Isso implica a necessidade de exercício da autonomia intelectual dos docentes para entender a velocidade do tempo presente: a pluralidade de elementos que são determinantes no processo de ensino; as relações de poder que envolvem a produção de conhecimento; o sentido social da escola; as relações da educação com a cultura, a política, a religião e o mercado e por fim, o desafio que é garantir formas de produção de conhecimentos que permitam aos estudantes serem, efetivamente, capazes de compreender as múltiplas e complexas formas de existência na atualidade.
Estas questões são emergenciais para a reconfiguração da escola, para colocá-la como instrumento da democracia, da cidadania e da inclusão social. E, são na minha opinião, vitais para o enfrentamento das desigualdades, considerando que, sua manutenção, situa-se, inclusive, pela incapacidade de compreensão dos determinantes sociais que as constituem e isso não é uma tarefa nada simples, sobretudo, para a escola que dentro da sua caixa, não vê o mundo que a cerca.
Quanto mais a escola se fecha em seu próprio saber-espaço, mais distante ela fica da vida vivida e isso, é fato.