Na entrada da prisão em Roraima, a busca desesperada por notícias

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Em pranto convulsivo, a dona de casa Terezinha Nascimento, de 50 anos, era motivo de preocupação para mães de outros detentos na mata na entrada da Penitenciária Agrícola de Monte Cristo, a maior de Roraima, palco do massacre de 31 pessoas na madrugada desta sexta-feira:

— Eu tava ontem (quinta) com meu filho no hospital, com pneumonia. Pedi tanto para deixarem ele internado, mas não deixaram… voltou chorando no carro! Ontem era mais de meia-noite e ele ligou para dizer que mataram dois da cela dele, mas que tava muito bem! Mas não ligou mais — lamentou, entre soluços.

Ela estava sentada em uma cadeira de plástico levada pelo governo para prestar assistência aos parentes das vítimas, que também receberam água, café da manhã e almoço. Em meio à passagem de caminhões do IML, dizia que não sairia dali até ter notícias.

Um carro descaracterizado encostou e um policial começou a dar informações. As mulheres correram até lá e começaram a listar as alas onde estavam filhos e maridos:

— Em todas as alas morreu gente. Morreu 14 no fechado, no cadeião morreu 10 — listou o oficial, sem sair do veículo.

— E na 15?

— Três.

— Na 12?

—Não, morreu nenhum.

— Na 9?

— Dois na 9. Pessoal, vamos pra casa? Aí, ó, nome dos mortos só vai sair depois que contar — disse, ensaiando arrancar o carro.

— Coronel, coronel, morreu alguém da 12? — chegou uma mulher gritando desde longe.

— Da 12, não.

— Ai, meu Deus — saiu ela, aos suspiros.

Terezinha não deixou a cadeira.

— Sei que no IML deve ter muito desespero — comentou ao seu lado Rosana Silva, de 40.

A poucos quilômetros dali, encostada na mureta do prédio do IML, a esposa do detento Francimar Oliveira, de 39, recebia o consolo de uma amiga pelo telefone:

— Minha irmã está aqui comigo, quero saber a verdade — disse a mulher, caixa de supermercado, que começou o dia vendo no celular da colega de trabalho a imagem de um homem morto, parecida com a do marido.

O final da história de Terezinha foi mais feliz:

— Meu filho! Meu filho? É você, meu filho! Você tá bem, meu filho! Eu não acredito, meu Deus — conversou diretamente com ele, pelo telefone, na porta da penitenciária.

O Globo

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