Os artistas que utilizam os espaços do Centro de Cultura João Gilberto em Juazeiro-BA para ensaios e apresentações culturais, insatisfeitos com as novas normas adotadas pela recém nomeada gestora do espaço, Ramilda Thamara da Rocha, estão mobilizados na tentativa de fazer uma gestão participativa, como acontece em outras unidades culturais do estado da Bahia.
A reação dos artistas é contra uma série de mudanças que a nova gestora tentou implantar no centro, contrariando os anseios e necessidades da classe artística, já tão carente de apoio institucional para realizar suas produções. As novas medidas, adotadas de forma vertical, sem uma conversas com os artistas, mudariam a rotina do centro. A partir delas, seria cobrado um valor por pauta de apresentação de espetáculos, os produtores de eventos seriam obrigados a ceder 15 cortesias por dia de apresentação para o centro e, nas segundas-feiras, o centro de cultura ficaria inacessível aos artistas, que comumente utilizam o espaço para ensaios e reuniões. Outra medida que causou indignação na classe foi o aluguel do espaço para uma empresa privada, que utilizaria o local todas as quintas-feiras para suas atividades. Ramilda Thamara também decidiu cobrar uma taxa aos artistas pela utilização das salas do centro.
Os atores Devilles e Marcos Velasck estiveram hoje(9) no Programa Palavra de Mulher/ Rádio Cidade e esclareceram a polêmica gerada com a criação das novas medidas, o que para eles prejudicariam a classe artística inviabilizando as produções no espaço.
“Todas essas normas estão dentro de uma ilegalidade muito grande, porque contrariam o que a Secretaria de Cultura – Governo do Estado da Bahia (Secult), determina através de uma normativa construída com a nossa participação e que dá diretrizes as gestões destes espaços. Nós construímos as normas de funcionamento dos centros de cultura , em conjunto, e dentro de uma perspectiva de gestão participativa, implantada na primeira gestão do ex governador do PT, Jaques Wagner”, esclareceu o ator e diretor Devilles.
O artista explicou ainda que as determinações da nova gestora foram adotadas de forma arbitrária, sem que houvesse um diálogo com os artistas, contrariando que vinha sendo feito nos últimos anos. “O que nós ouvimos da nova gestora foi que estavam proibidas as atividades dos artistas nas quintas-feiras, a partir das 17h e que, nestes dias, nós teríamos que desaparecer do espaço, porque o horário seria de uma empresa tal. A pauta para o artistas é o seu tempo de trabalho, é onde ele produz, planeja o retorno do seu investimento”, declarou o ator e diretor.
Também presente na entrevista, o ator e diretor Marcos Velasch se queixou do tratamento que recebeu da gestora “No nosso primeiro contato ela foi extremamente sarcástica e irônica comigo. Ela precisava conhecer quem trabalha no espaço e a forma que nós trabalhamos. A gente acreditava que seria importante que ela nos ouvisse e nós estávamos lá para ajuda-lá a entender o espaço. O nosso papel é esse. A gente não quer atrapalhar o trabalho da gestora, mas contribuir para que a relação da gestão com os artistas seja harmoniosa “, relatou o ator e diretor Marcos Velasch.
Quando tiveram conhecimento do pacote de medidas baixadas pela gestora, os artistas realizaram reuniões e numa delas a gestora Ramilda Thamara também participou, a convite deles. O objetivo da classe foi propor uma gestão participativa, através da formação de um colegiado que tenha autonomia para tomar as decisões referentes ao Centro de Cultura João Gilberto.
O Presidente do Conselho Estadual de Cultura, Marcio Ângelo e o Presidente do Conselho Municipal de Cultura, Elder Ferrari estão participando das discussões e apoiam a implantação do colegiado.
” A atitude da nova gestora de adotar essas medidas que prejudicariam a classe artística serviu para nos alertar sobre a importância da formação deste colegiado que vai proporcionar uma gestão participativa e colaborar com a gestão do CCJG nas decisões que serão tomadas daqui por diante. Acreditamos que a gestora nos entendeu e irá nos ouvir a cerca dos procedimentos para o funcionamento da casa. Este episódio foi importante porque nos deu um choque de realidade e chamou nossa atenção para a responsabilidade que nós tivemos, temos e teremos com aquele espaço cultural. Já estamos providenciando a criação do colegiado e esperamos que não haja mais problemas na comunicação entre os artistas e a direção do centro “, afirmou Devilles.
Sobre a necessidade e importância do colegiado, Devilles reforçou “Nessa reunião, nós decidimos que agora, mais do que nunca, se faz necessária a criação do Colegiado de Gestão Participativa, que é uma política que já vem acontecendo em todos os Centros de Culturas. Até então o CCJG era um espaço onde a gente conseguia dialogar muito bem com todos aqueles pessoas que passaram pelo processo de gestão. Eram pessoas antenadas com
a realidade cultural da cidade”, concluiu Devilles Sena.
Os artistas voltarão a se reunir para leitura das atas das reuniões. Caso sejam aprovadas, serão encaminhadas para a Fundação Cultural do Estado da Bahia – (FUNCEB) e para a Direção de gestão dos espaços culturais da Bahia.
Ramilda Thamara assumiu a diretoria do Centro de Cultura em novembro de 2015, substituindo João Leopoldo Vargas, que dirigiu o espaço durante 6 anos. O cargo do Centro de Cultura é de indicação política do Deputado Roberto Carlos.