Silêncio, mistérios, contradições: O Caso Beatriz está parado?

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“Esse crime não pode ficar sem resposta”, palavras da delegada Gleide Ângelo, que assumiu o caso Beatriz em dezembro do ano passado.

Caminhamos para dois anos do crime brutal que aconteceu no Colégio Maria Auxiliadora, em Petrolina, no dia dez de dezembro de 2015 e as investigações não avançam. Parece até estarem paradas.

A sensação dos familiares da menina de apenas 7 anos, assassinada com 42 golpes de faca na escola em que estudava e durante uma festa com cerca de três mil pessoas, é de que esta resposta das autoridades de segurança está difícil de ser dada.

A delegada preside o inquérito à uma distância de mais de 700 quilômetros. Veio poucas vezes à região em que o crime aconteceu e em Petrolina, nenhum delegado responde mais pelo caso.

Neste ínterim, em abril deste ano, Gleide Ângelo foi promovida a Chefe do Departamento de Polícia da Mulher de Pernambuco, dividindo-se entre a nova função e o trabalho de investigar “o caso número um” para a polícia pernambucana.

O delegado Marceone Ferreira, que chegou a apontar cinco personagens funcionários do colégio como envolvidos no assassinato, foi afastado e os suspeitos escafederam-se.

Vamos lembrar os cinco personagens apresentados pela própria policia: o primeiro deles revelou nas imagens do circuito interno da instituição uma impressão de nervosismo na mesma hora do crime. Essa pessoa, um homem, mentiu várias vezes em seu depoimento a polícia.

O segundo personagem negou a polícia que estava dentro da quadra, mas as imagens mostraram o contrário.

O terceiro personagem pediu para não trabalhar dentro da quadra, mas testemunhas viram ele no local.

O personagem de número quatro, uma mulher, teria ido até o local, onde o corpo foi colocado, transitando várias vezes dentro do intervalo de tempo em que a criança desapareceu e também mentiu em seu depoimento na delegacia.

O quinto e último personagem, um vigilante que deveria está fazendo a segurança da festa, de acordo com as imagens coletadas pela polícia civil, entrou em uma sala, onde ficou por 40 minutos. Em seguida saiu aparentando tensão e retornou ao local, onde ficou por mais uma hora. Na hora do crime ele estava dentro dessa sala.

“Teve participação de mais de uma pessoa, de gente que estava vigiando na hora”, afirmou na época o delegado Marceone, demonstrando segurança na revelação.

E aí? por onde andam essas pessoas? O que a polícia fez com estas informações contraditórias?

O corpo de Beatriz foi encontrado em uma sala, mas não foi morta neste mesmo local, como também afirmou a polícia, que jamais revelou e não se sabe nem se conseguiu desvendar até hoje, em que espaço da escola a criança foi assassinada.

Apesar das brutais 42 facadas no corpo frágil da menina, falou-se que não havia vestígios de sangue em nenhum local do colégio. Note-se que o corpo foi transportado no breve espaço de tempo em que Beatriz sumiu e foi encontrada morta.

Outro fato intrigante: Quinze dias antes do crime, três chaves da escola sumiram. Elas dariam acesso aos portões que ficam próximos da sala onde Beatriz foi encontrada morta, mais um mistério.

Em março último, a polícia apresentou lá em Recife, novas e nítidas imagens do suspeito que a delegada Gleide afirmou não ter dúvida ser do assassino de Beatriz. De acordo com o perito Gilmário Lima, o material passou por uma análise “Procuramos uma instituição parceira no Sudeste para fazermos um trabalho de recuperação das imagens”, afirmou.

A mãe de Beatriz, Lucinha Mota, tem declarado, reiteradas vezes, que as novas imagens teriam sido apagadas por um prestador de serviço do colégio e recuperadas após. Ela questiona as autoridades o fato deste homem de nome conhecido da polícia e com endereço em Petrolina não ser responsabilizado, de alguma forma, por ter apagado as imagens. “A mando de quem? Com que interesse? “, insiste Lucinha, sem ser respondida.

Em jundo de 2016 falou-se na criação de uma “Força Tarefa”, composta por promotores de justiça de Petrolina para investigar o caso. Como o grupo está atuando? A cúpula do MP/PE deu estrutura para os promotores trabalharem? Ou o grupo foi dissolvido? De acordo com o que apuramos o MP devolveu o Inquérito a delegada que o preside e está aguardando alguns relatórios que ainda não foram enviados.

O caso de Beatriz é cercado de mistérios. Intriga. Subestima a inteligência da sociedade sanfranciscana, que enxerga  as tantas contradições, que não são elucidadas.

“Para não atrapalhar as investigações”, o caso Beatriz corre em segredo de justiça. Uma “conversinha bonita” quando não se tem o que dizer. A imprensa não tem acesso as informações. Os pais também não. O Ministério Público também não fala.

Neste dia 10 de outubro, na tentativa de atualizarmos as informações sobre o caso, voltamos a procurar a Delegada Gleide Ângelo. Em mensagem pelo WhatsApp ela apenas nos respondeu que: “Favor entrar em contato com Assessoria de imprensa da Polícia Civil”.

Mais uma vez, evitou falar sobre o intrincado caso. Aliás, a polícia só fala o que lhe convém e na sua hora.

Coube-nos apenas devolver a resposta da delegada, com um desabafo: ” Infelizmente eles (da assessoria) nada têm a acrescentar. Se a senhora que preside o inquérito, não nos concede informação alguma, imagine a assessoria. Não precisamos de resposta pronta e conveniente à polícia civil. Precisamos de respostas concretas sobre o caso. Em Petrolina , onde está o inquérito, sequer tem um responsável pelo caso. O Caso “número 01″ para a segurança de Pernambuco , como disse a senhora”, deixamos registrado.

O caso corre envolto em mistérios, contradições e ausências de respostas. Isso é segredo de justiça?

Dos pais de Beatriz, colhemos hoje, dia 10, que eles pediram a delegada Gleide Ângelo, para terem acesso às informações contidas no inquérito. “Entramos com um pedido oficial de acompanhamento do caso por uma perita representante nossa”, revelou Sandro, pai de Beatriz.

A curta resposta do pai da criança revela, claramente, o seu descrédito na polícia e na justiça pernambucanas.

“Esse crime não pode ficar sem resposta”, palavras da delegada Gleide Ângelo.

É, delegada, não pode! Mas está. Até quando?

Existe crime perfeito? Voltamos a perguntar.

Da Redação por Sibelle Fonseca

 

 

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