Ilusão, um sentimento, um verbo? O que pensei aqui comigo agora, é que precisamos desta tal ilusão para viver, mesmo que a gente morra de medo e dela fale mal.
A ilusão é necessária. Mola mestra para nossa construção. A gente vive se iludindo e isso é bom. Vida é isso, e se contente. Questão Sinequa non: Ou vive-se iludido ou se deixa de viver.
E vamos combinar que a ilusão é nossa, jamais do outro. Ela pode até ser alimentada, mas ilusão é coisa que não se transfere. Responsabilize-se pela sua ilusão, então. O outro já tem as suas próprias ilusões.
O que nos move é a ilusão. Ou não? Ponho-me a defendê-la, apesar desta moça já ter me feito muito mal.
Eu mesma já me iludi um caminhão de vezes, continuo me iludindo e quero ainda uma carrada de ilusões pra viver.
Eu me iludo cada vez que olho para um belo prato de comida. Só depois de comê-lo vou saber se estava ruim, indigesto ou maravilhoso.
Eu me iludo cada vez que começo um novo projeto. Pode ser um sucesso ou um puta fracasso, quem vai saber.
Eu me iludo cada vez que seguro uma bandeira, sobremaneira. Essa bandeira poderá nunca estar lá, fincada, ou poderá, né?
Eu me iludo toda vez que saio de casa, querendo que o dia termine bem. Mas né bem assim não. Posso ter uma boa surpresa, um infeliz encontro e um horror de nãos. Ou de sims.
Eu me iludo cada vez que me apaixono. Faço planos, jogo incenso, aposto todas as fichas, acredito em cada palavra e me jogo, sem paraquedas, na busca de um canto seguro, sem temer os penhascos.
Eu me iludo a cada dia que acordo. O café forte que desejo pode sair fraco. Eu até faço uma agenda, programo coisas, mudo de posturas, fantasio encontros, aceito novas ideias, almejo terminar o dia em paz e cheio de boas respostas e com o grau do álcool no ponto, mas as vezes tudo sai exatamente ao contrário. Ou eu falho ou falham comigo.
Ilusão é o engano dos sentidos ou da mente. Já disseram que “Ilusão é a troca da aparência real por uma ideia falsa. É também um devaneio, um sonho, um produto da imaginação.” E quem vive bem sem sonhos, né?
Eu digo que a ilusão ofusca a razão. Distorce a realidade. O iludido fica vulnerável, exposto. A ilusão não dar a menor garantia e nem proteção. E tem a parte pior, a parte que dói. Quando descobrimos o engano, sofremos e alguns pedaços se vão. Ainda assim, acredito, que não há perda ou desperdício de tempo.
Não há outro jeito mesmo. Viver é pura ilusão. E iludir-se, uma necessidade.
Eu, que de ilusões entendo muito, preciso delas pra continuar metendo vida.
Sem arrependimentos, aprendi o que fazer com minhas ilusões.
Eu sei que o desiludir-se tem hora marcada e dói que nem parto. Tira o sono, dá gastrite e cirrose na alma.
O coração adoece, mas não pára.
Em resiliência, sou aluna de primeira e posso até dar um conselho: Quem não vive ilusão, não vive!
Sibelle Fonseca é radialista, militante do jornalismo, pedagoga, feminista, conselheira da mulher, mãe de quatro filhos, cantora nas horas mais prazerosas, defensora dos direitos humanos e uma amante da vida e de gente.
Verdade.. Texto maravilhoso!!