“Democracia: um longo caminho a ser trilhado”, por Antônio Marcos Santos

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(foto: arquivo pessoal)

A democracia é uma invenção grega e tem como base a ideia de que a política é o instrumento para resolução dos conflitos sociais, incorporado na luta dos grupos sociais em defesa de seus interesses. A democracia reconhece como legítimo a disputa do poder e entende que é democrático uma sociedade onde os cidadãos podem participar plenamente da disputa política, da produção e distribuição da economia (usufruindo da riqueza social) e da esfera da produção das ideias – a dimensão do simbólico, das das artes à opinião pública.

Onde estes elementos não estão presentes, não há democracia. Assim a democracia deve ser política, econômica e cultural.

As experiências políticas até o momento (capitalismo, socialismo e social democracia) não conseguiram garantir a democracia plena.

O capitalismo e a social democracia operam a democracia formal (na lei) mas a política é sequestrada pelos interesses da elite econômica – hoje as elites financeiras, o mundo cultural e da produção das ideias é manipulado pelas empresas midiáticas e culturais num processo de transformar as ideias da elite dominante na opinião pública e a concentração de riqueza impede a maioria da população de desfrutar da riqueza social que ela mesma produz.

O socialismo operou com a ideia de democracia econômica – distribuição equitativa da produção da riqueza, já que é a maioria que a produz, mas impediu a democracia política – a ideia do partido único impediu as disputas entre maioria e minoria – e a democracia cultural – a padronizada de pensamento impediu a divergência e esta foi vista como perigosa ao sistema. O que era para libertar, aprisionou.

Uns atacam o socialismo por falta de liberdade política e cultural chamando-o de ditadura, mas esquece de atacar o capitalismo, que tem democracia formal, mas na prática as pessoas nao são livres e nem tem o pleno direito de escolha.

Outros atacam o capitalismo pela falsa liberdade de economia, pelo falsa ideia de meritocracia e pela padronização das ideias pela produção da indústria cultural, mas esquecem de atacar a ausência de liberdade política e cultural na experiência socialista.

Os dois grupos agem com dois pesos e duas medidas.

Os que não se alinham a estas formas de pensar o mundo defendem a democracia como sistema social nas dimensões econômicas, política e cultural. Democracia é a radicalização do reino do direito e o exercício permanente da liberdade mesclado com o dever.

Devemos lutar para superar as experiências dos regimes até aqui dominantes – do capitalismo ao socialismo e instalarmos um sistema social livre de qualquer ditadura, de exploração do homem sobre o outro homem, da violência, da desigualdade social, da padronização da opinião.

A democracia é um longo caminho a ser trilhado, mas cada passo de sua concretização é uma vitoria a ser comemorada. Ela tem que ser nossa utopia a ser perseguida. As palavras de Fernando Birri, citadas por Eduardo Galeano, define o que chamamos de utopia democrática: “A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos [sic], ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.”

Antonio Marcos Santos – evangélico e professor, graduando em filosofia pela UFPI e mestrando em sociologia pela Univasf

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