Petrobras está tirando seu pé da Bahia, afirma superintendente da SDE

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Em meio ao fechamento da Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados da Bahia (Fafen-BA), no Polo Petroquímico de Camaçari e da venda de 60% da Refinaria Landulfo Alves (RLAM), a crise da Petrobras ganha corpo na Bahia e preocupa gestores e trabalhores das unidades.

Em entrevista concedida ao BNews, o superintendente de Atração e Desenvolvimento de Negócios da Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado da Bahia (SDE), Paulo Guimarães, explicou o processo de venda da RLAM e a situação da Petrobras no estado. Segundo ele, a Petrobras dá um sinal para o estado da Bahia de que está querendo sair daqui, do ponto de vista de investimento industrial, “o que é péssimo para a gente. Porque, uma vez fechada uma fábrica dessa, é muito difícil que ela reabra”.

BNews – Como será a venda da RLAM?  

Superintendente – A gente tem acompanhado isso com preocupação porque a Petrobras já vem, de algum tempo para cá, fazendo desinvestimentos específicos na Bahia. A Petrobras já não faz questão de investir na exploração de petróleo e gás aqui na Bahia porque a produção de petróleo na área do Recôncavo tem uma produtividade muito menor do que na área do pré-sal… o que é natural, já que são 70 anos de exploração. Para se ter uma ideia, um poço do pré-sal produz o mesmo que todos os poços de petróleo aqui na Bahia. Então, por uma questão de escala, a Petrobras não mais se interessa em investir neste campo. Só que aí, seria natural que ela repassasse estes campos para empresa de menor porte que poderia se interessar…aí começa uma dificuldade muito grande e isso não se consegue realizar. Entendemos que se a Petrobras não quer operar estes campos que passe para o setor privado. Estamos trabalhando para que empreendedores privados assumam estes campos e possam voltar a produzir, a contratar, gerando emprego na região do Recôncavo.

BNews – Como o Governo avalia esta venda?

Superintendente – Nossa maior preocupação é com os demais ativos…que são ativos tão rentáveis quanto quaisquer outros ativos que a Petrobras possa ter no Brasil. E aí, nós incluímos a refinaria, o terminal de regaseificação, incluímos as termoelétricas, a fábrica de biodiesel de Candeias e as próprias fábricas de fertilizantes. Todos estes ativos da Petrobras estão, de uma forma ou de outra, sendo alienados parcial ou totalmente, ou, no caso da Fafen, fechado. Isso dá um sinal para o Estado da Bahia de que a Petrobras está querendo sair daqui do ponto de vista de investimento industrial, o que é péssimo para gente. Porque, uma vez fechada uma fábrica dessa, é muito difícil que ela reabra. No caso da refinaria, não está querendo fechar e sim, vender parte dela. O que nos preocupa de tudo isso é que a Petrobras está querendo, não apenas fazer a venda, mas se defazer de parte de refino brasileiro. Fazendo o desinvestimento dela de uma área que é crucial para que a gente tenha combustível produzidos aqui no Brasil.

BNews – E porque a Petrobras está se desfazendo de 60% da refinaria?

Superintendente – O porquê que a Petrobras está vendendo? Será que ela vai vender pelo preço que a refinaria vale? Porque faz estes investimentos todos e vai vender a refinaria por um preço abaixo do que ela vale? O que aconteceu nos últimos anos foi  a Petrobras aumentar brutalmente o preço dos combustíveis, tornando a importação de combustíveis uma coisa interessante. Na medida em que as empresas começaram a importar combustível, ela foi obrigada a abaixar a capacidade de produção da refinaria porque os tanques estavam cheios. Esta refinaria passou a ser menos rentável do que era antes. Uma refinaria química é feita para operar com o total de sua capacidade. Uma refinaria com baixa capacidade se torna menos interessante. Qualquer planta química operando a menos de 90% vai ter problema de viabilidade e produtividade. Porque a mesma energia que você gasta para produzir 90% é a mesma de 60%¨. É um gasto enorme de energia. Abaixo é jogar dinheiro fora.

BNews – Porque a Petrobras parou de investir na Bahia?

Superintendente – Ela fez grandes investimentos nestes últimos anos, inclusive na refinaria, até quando a refinaria tinha a produção de diesel com baixíssimo teor de enxofre. A gente acha que seria muito importante que ela continuasse operando isso. É a segunda maior refinaria do país em número de processamento..só perde para a refinaria de Paulínia, em São Paulo e em variedade de produto só perde para a Refinaria de Duque de Caxias (Reduc), no Rio de Janeiro. A Landulfo é uma refinaria estratégica para a Petrobras. Foram investimentos grandes.

BNews – O erro estaria, de fato, na política de preços da estatal?

Superintendente – Imagine que eu vendo para todo mundo combustível e decido aumentar os preços. E digo que estou colocando estes preços em nível de mercado internacional. Só que se meu preço está em nível de mercado internacional, ainda assim, estou perto do meu mercado de consumo. Então, se fossêmos uma distribuidora, nós íamos preferir importar lá de longe, podendo comprar da Petrobras pelo mesmo preço? Claro que não. O que acontece é que no fundo o preço dela ficou acima do preço de mercado internacional. E aí, as distribuidoras resolveram importar combustível produzido em outros países do mundo. Então, este combustível produzido lá consegue chegar aqui com todo este preço de frete mais barato do que a Petrobras produz. Consequentemente, você acha que a distribuidora vai comprar de quem? Da Petrobras ou do mercado internacional? Se ela compra do mercado internacional, a Petrobras não consegue vender. Se ela não consegue vender quanto deveria vender o estoque vai subir. Quando sobre estoque ela diminui a capacidade, senão ela vai colocar combustível onde? A diminuição da capacidade de produção, ou seja, o no nível de produção da RLAM diminuiu para 53%, porque a Petrobras não está conseguindo, pela sua política de preços, vender tanto quanto vendia antes.

BNews – Qual será o futuro da RLAM e o que a Bahia perde com isso?

Superintendente – Interessa a quem reduzir a capacidade da refinaria? Eu se quero vender alguma coisa eu valorizo. Quando eu opero minha refinaria a baixa capacidade eu estou desvalorizando. Não tenho a mínima ideia do valor da venda. O anúncio da colocação de parte da refinaria à venda não é feito para o Estado. Ela (Petrobras) simplesmente botou isso. A Petrobras, como é uma empresa que tem ações em bolsa, ela é obrigada pela Comissão de Valores Mobiliários da CBM, a fazer informação do que a gente chama fato relevante. Para não haver denúncia de informação privilegiada para o mercado. Ela tem que divulgar para todo mundo e não procurou o Estado para informar o preço ou como estava negociando. Para se ter uma ideia da importância da refinaria pra gente, o Estado hoje perde só com a RLAM, como contribuinte de ICMS, cerca de 25%. Perda para o Estado. A gente não tem informações. Mas, a partir do momento que ela reduz produção ela, não necessariamente está demitindo pessoas. Mas, a gente não tem informação se a Petrobras não está fazendo com a refinaria o que está fazendo com a Fafen, que é um caso gravíssimo. Estamos fazendo de tudo para que a Fafen não seja fechada. Porque a Petrobras já transferiu todos os funcionários diretos dela de Camaçari para outros estados do Brasil. Se a Fafen fechar, todos os empregados da Petrobras da Fafen passarão em trabalhar em outros lugares do Brasil, ou seja, os empregos não serão perdidos do ponto de vista da Petrobras, mas do ponto de vista da Bahia, sim. Redução de capacidade é uma coisa preocupante. A planta não fica tão competitiva quanto era antes. A Petrobras também já tinha dito que irá se desfazer da planta de biodiesel de Candeias. Não vai sobrar nada. A Petrobras está tirando seu pé da Bahia.

BN

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