Tradição ameaçada: policiais fazem ronda em Senhor do Bonfim para evitar realização da Guerra de Espadas

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(foto: reprodução/internet)

Senhor do Bonfim, localizada na região norte da Bahia, é considerada a “Capital Baiana do Forró”. A cidade é conhecida por realizar uma das festas juninas mais tradicionais do estado, por conservar boa parte dos elementos que caracterizam a festa, como manda a tradição. Muitas famílias mantém o costume de enfeitar a casa, dispor de mesa repleta de comidas e bebidas típicas, acender a fogueira para aquecer às noites frias de inverno, curtir o tradicional forró pé-de-serra (em vários pontos da cidade, há sanfoneiros e grupos de forró se apresentando em praças ou estabelecimentos). Mas, é na noite do dia 23 de junho que ocorre um dos momentos mais aguardados pela população bonfinense e por turistas neste período junino: a tradicional Guerra de Espadas.

Entretanto, desde ontem (22) clima está tenso na cidade. Realizada na cidade há cerca de 60 anos, a realização da Guerra de Espadas está, por mais um ano, ameaçada, em virtude de uma determinação do Ministério Público da Bahia (MP-BA) baixada desde 2017 e que recomenda que a prefeitura do município não promova, prepare, apoie ou coopere com a execução do evento. Ontem (22) manifestantes realizaram uma passeata em defesa da Guerra de Espadas.

Espadeiros não aceitam a decisão do órgão e pretendem realizar a guerra. Em contrapartida, policiais militares estão realizando rondas, em diversos pontos da cidade em que tradicionalmente saem grupos de espadeiros, para impedir qualquer manifestação.

(foto: reprodução/Whatsapp)

Entenda o caso

O documento, assinado pelas promotoras de justiça Daniele Cordeiro, Ítala Carvalho e Joseane Nunes, justifica a decisão com base em abaixo-assinados apresentados na promotoria regional dando conta de diversos danos causados pela ocorrência da guerra, que compreende um bairro de área residencial/comercial, além de um decreto estadual que autoriza a apreensão de bombas com mais de 8g de pólvora ou material explosivo.

Segundo o MP-BA, o emprego de artefatos explosivos confeccionados sem autorização legal é crime previsto no art.16, incisos III e V, da Lei Federal nº 10.826/2003 e com pena de reclusão de três a seis anos e multa.

Segundo o MP, quem for pego participando da “brincadeira” pode ser preso em flagrante e responder pelo crime previsto na lei de combate à posse e comercialização de armas de fogo e munição. A pena é de três a seis anos de prisão, além de pagamento de multa. A determinação foi acatada pelo Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA).

A decisão divide opiniões entre a população e turistas que visitam Senhor do Bonfim. Quem se mostra contra, defende que a guerra traz prejuízos para moradores que residem em áreas próximas de onde ocorre o evento; quem é a favor, considera que a tradição deve ser respeitada e preservada.

Na recomendação deste ano, o MP-BA afirmou ainda que a polícia local pode ser chamada para intervir, e informou que quem for pego participando pode ser preso em flagrante e responder pelo crime previsto na lei de combate a posse e comercialização de armas de fogo e munição.

A Secretaria de Cultura da cidade afirmou que estava tentando chegar a um acordo com o Ministério Público.

Em junho do ano passado, a guerra de espadas foi declarada como Patrimônio Cultural e Imaterial da cidade quando a prefeitura sancionou um projeto de lei sobre a prática. A proposta já havia sido aprovada por unanimidade, no final de maio do mesmo ano, pela Câmara de Vereadores da cidade.

Na cidade, há um movimento muito forte de defesa da guerra de espadas, entre agentes culturais, espadeiros e apreciadores da brincadeira que caracteriza o São João de Senhor do Bonfim.

Da Redação

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