“Sempre Aos Domingos”, por Sibelle Fonseca: Vou fazer isso enquanto acho que tenho tempo

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Hoje acordei pensando em Manuquinha, meu amigo poeta que partiu há um ano. Fiz uma prece mental, visitei alguns momentos junto dele, deu uma saudade grande e um desejo enorme de que ele estivesse por aqui e mais tarde passasse na minha porta chamando pra dar um rolê por Juazeiro e tomar um café.

Foram muitos os instantes de conversas profundas, música, poesia, risos e afeto. Só que hoje percebi que eu deveria ter investido mais nessa amizade. Estes instantes poderiam ter sido multiplicados, qual não fosse a minha negligência. Percebi que poderia ter aproveitado mais momentos com ele, meu amigo tão querido, e demostrando o quanto ele era importante pra mim. O quanto sua presença minha alegrava, o quanto seu carinho e respeito me dignificavam.

Sempre que perco alguém sinto esse remorso. Dá uma dor na consciência saber se sem uma nova chance. Aí passo a me prometer ser mais atenciosa, mais presente e dedicada aos meus e minhas. Juro que vou declarar-me a eles sempre sempre, mas sou traída pela rotina que rouba o tempo e novamente sigo achando que é eterna essa gente que amo e necessito.

É bem assim. A gente termina desacreditando da sordidez da morte e subestimando sua inexorável astúcia. Ela é sorrateira, implacável e até democrática. Impiedosa, chega e arrasta sem consentir despedida.

Dizemos, em vão: “Como assim? Há pouco mais de um ano eu falava com ele no WhatsApp?”; Semana passada encontrei com ela boazinha”;” Eu tinha marcado com ele para fazermos alguma coisa”; “Eu disse que o visitaria essa semana. Nem deu tempo”.

Não tem tempo ruim e nem bom para a morte. Ela não espera nosso tempo e não dá tempo pra nada. Nadinha.

Então, neste dia de ano sem Manuca, vou renovar minha promessa mais uma vez, de ser e estar mais para quem não está no meu caminho por acaso.

Vou surpreendê-los com declarações, vou perdoar os que pisaram na bola, vou relevar as diferenças, vou pedir desculpas pelos meus excessos, vou compreender suas limitações, vou deixar de besteira de guardar algum ressentimento, vou cozinhar mais para minha gente, vou solicitar mais, chegar mais junto, celebrar mais momentos, dar mais risada, dar mais ombro, mão, ouvidos e amor.

Vou começar por minha irmã mais velha. Ela que me ensinou a gostar de música boa, que ainda me chama de “bebê”, que já me ajudou muito nesta vida e eu sei que tem um orgulho danado de mim. Eu a amo tanto e, outro dia, briguei com ela por causa de porra de eleições. Me perdoe, minha irmã! Você sabe o quanto é importante pra mim e sabe também que é uma das minhas referências.

Vou começar a semana assim, procurando alguém meu, alguma pessoa minha, para declarar o meu amor. Vou fazer isso enquanto acho que tenho tempo.

Assim como fez, neste domingo, minha pequena Andrezza, menina que Manuquinha me deu de presente.

“Gratidão por você estar em minha vida. Por ter a paciência de me ouvir e transmitir sua sabedoria para uma mera aprendiz. Te amo!”, falou pra mim meu rouxinol.

Te amo, Dezza! Te amo, minha irmã! Amo vocês todos, meus e minhas, que, longe ou perto, sabem que têm significado na minha existência!

Sibelle Fonseca é radialista, militante do jornalismo, pedagoga, feminista, conselheira da mulher, mãe de quatro filhos, cantora nas horas mais prazerosas, defensora dos direitos humanos e uma amante da vida e de gente.

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