Bolsonaro quer perícia independente em corpo de miliciano ligado a Flávio

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O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta terça-feira (18) que solicitará uma perícia independente sobre o corpo de Adriano Nóbrega, o ex-capitão da Polícia Militar acusado de integrar uma milícia morto numa operação policial na Bahia no fim de semana.

Bolsonaro disse ainda que uma eventual “queima de arquivo” não interessaria a ele.

Foragido há mais de um ano sob acusação de integrar uma milícia, Adriano teve parentes nomeados no gabinete de Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ) e foi citado na investigação sobre rachadinha no antigo gabinete do senador na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro).

Na entrada do Palácio da Alvorada, onde cumprimentou um grupo de eleitores, o presidente disse que o miliciano não teria nada para falar contra ele se estivesse vivo e criticou a conduta das forças policiais na operação que o matou.

“Interessa a quem queima de arquivo? A mim? A mim não. A mim, zero”, disse. “Poderia interessar a alguém a queima de arquivo. O que ele teria para falar? Contra mim que não teria nada. Se fosse contra mim, tenho certeza que os cuidados seriam outros para preservá-lo vivo”, acrescentou.

O presidente disse que reportagem da revista Veja, que entrevistou os peritos sobre o episódio, mostram que os tiros disparados contra o miliciano foram a curta distância, o que reforça a tese de queima de arquivo. Para ele, sem uma perícia independente, dificilmente será possível desvendar o crime.

“Estou pedido, e já tomei as providenciais legais, para que seja feita uma perícia independente. Por que, sem isso, você não tem como buscar, quem sabe, quem matou a [a ex-vereadora] Marielle [Franco]. A quem interessa não desvendar a morte da Marielle? Aos mesmos a quem não interessa desvendar o caso [do ex-prefeito] Celso Daniel”, afirmou.

A ex-vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) foi morta a tiros em 2019, em um crime que, segundo as investigações da Polícia Civil, teria o envolvimento de grupos milicianos. Já o ex-prefeito de Santo André (SP) Celso Daniel (PT) foi assassinado em 2002 após ter sido sequestrado. A investigação aponta que ele foi morto em um crime comum, sem motivação política.

A fala de Bolsonaro faz referência a uma decisão desta segunda-feira (17) da Justiça do Rio de Janeiro que liberou o IML (Instituto Médico Legal) fluminense de preservar o corpo de Adriano.

O juiz Guilherme Schilling revogou a própria decisão de quinta (13), quando determinou que o IML preservasse o corpo. Na nova determinação, o magistrado afirmou que o pedido sobre a manutenção do corpo e a autorização de uma perícia independente deveria ser avaliada pela Justiça da Bahia, que será a responsável por julgar a morte do ex-PM.

O desejo de Bolsonaro é o mesmo da família de Adriano, que solicitou à Justiça uma avaliação independente sobre as marcas dos projéteis que atingiram o ex-PM. A defesa do ex-capitão também suspeita de uma “queima de arquivo”.

O ex-PM foi morto no município de Esplanada (BA), ao ser alvo de operação que envolveu as polícias baiana e fluminense. Eles estava foragido desde janeiro de 2019, quando foi deflagrada a operação Os Intocáveis, do Ministério Público do Rio de Janeiro, que investigou a milícia de Rio das Pedras, a mais antiga da capital.

As investigações apontam que o ex-policial militar era chefe da quadrilha. Outras apurações apontam a atuação dele em em homicídios profissionais e na exploração do jogo do bicho e máquina de caça-níqueis.

O governador da Bahia, Rui Costa (PT) afirmou nesta segunda-feira que não acompanhou a operação policial que resultou na morte de Adriano da Nóbrega nem deu nenhuma orientação específica para as equipes que foram a campo.

“Eu não faço gestão de operação, eu não estudei pra isso. Quem estudou e foi treinado para isso são os policiais. Cabe aos técnicos, que são os policiais, fazer a operação e ao Ministério Público fiscalizá-la”, disse Costa.

De acordo com o governador, a orientação geral do governo da Bahia para toda operação policial é que a ordem judicial seja cumprida e que todo alvo seja preso com vida. Contudo, se houver reação ao cumprimento do mandado, os policiais devem agir para preservar suas próprias vidas.

“Não é direito nós pedirmos que eles cometam suicídio e que morram em uma operação”, afirmou o petista.

Costa ainda classificou como estranha a versão apresentada pela defesa de Adriano da Nóbrega que ele temia ser alvo de uma queima de arquivo. Segundo o governador, o miliciano já sabia que estava sendo procurado e optou por não apresentar-se voluntariamente à polícia.

Questionado sobre a possibilidade de um cerco mais duradouro na operação que resultou na morte de Adriano, o secretário de Segurança Pública da Bahia, Maurício Barbosa, disse que só as investigações e perícias poderão apontar se os procedimentos adotados foram os corretos.

“As informações que eu tenho são as que estão descritas nos autos. […] E tudo nos leva a crer que aconteceu da forma como está descrita ali, seja pelo que consta nos laudos, seja pelos depoimentos dos peritos”, disse Barbosa, que ainda criticou análises feitas por especialistas que não tiveram acesso aos documentos oficiais.

Bolsonaro pregou ainda a necessidade de que os telefones celulares do milicano morto passe por uma apuração separada, para evitar, segundo ele, que provas sejam forjadas e incluídas no aparelho telefônico. Foram apreendidos 17 aparelhos atribuídos ao ex-PM.
“Será que a perícia [oficial] poderá ser insuspeita? Eu quero uma perícia insuspeita. Não queremos que sejam inseridos áudios ou conversas no celular dele”, disse.

A análise do conteúdo dos aparelhos do ex-capitão será feita pela Polícia Civil do Rio de Janeiro. Bolsonaro acusa o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC) de usar inquéritos para perseguir sua família.

Perguntado, o presidente ressaltou que não pretende interferir na investigação do caso e acrescentou que a decisão de federalizar o episódio é do ministro da Justiça, Sergio Moro. Ele ponderou, no entanto, que uma mudança de jurisdição pode levantar suspeitas desnecessárias.

Adriano foi homenageado por Flávio em 2005 com a Medalha Tiradentes, mais alta honraria da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Em janeiro de 2004, ele foi preso preventivamente, acusado pelo homicídio do guardador de carro Leandro dos Santos Silva, 24.

O ex-policial foi citado na investigação do Ministério Público do Rio de Janeiro que apura se houve “rachadinha” no gabinete de Flávio quando ele era deputado estadual.
Segundo o MP-RJ, contas de Adriano foram usadas para transferir dinheiro a Fabrício Queiroz, então assessor de Flávio e suspeito de comandar o esquema de devolução de salários.

 

Fonte BNews

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