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Um relatório técnico assinado pelo ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, e outros especialistas em saúde, reconhece o aumento de casos do novo coronavírus no Brasil e aponta que o país terá “um pico importante” de infecções em abril e maio, e que o vírus tem potencial para circular “até meados de setembro” no país. O texto foi publicado na Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical nesta terça-feira (7) [leia mais sobre o relatório abaixo].
Os especialistas defendem as políticas de isolamento social para conter uma propagação ainda maior do vírus no país, e, consequentemente, reduzir os prejuízos. Na região do Vale do São Francisco, as gestões vêm adotando medidas preventivas, através de decretos municipais, a fim de promover o distanciamento social. Juazeiro, na Bahia, possui três casos confirmados (dois curados) e Petrolina, no Pernambuco, também o mesmo número, com apenas um caso curado da infecção.
O médico infectologista Washington Luís, que integra o Comitê de Prevenção e Enfrentamento à Covid-19 e ao H1N1 de Juazeiro, avalia que o município deve permanecer com as restrições. O profissional explica que o pico da doença não vai acontecer uniformemente em todo Brasil, e que cidades como São Paulo-SP e Fortaleza-CE, que registram um grande número de casos, devem ser mais afetadas, e ressalta que o isolamento social deve continuar.
“Não há momento para frouxidão, e o isolamento social deve permanecer. A estimativa é que em até dois meses esse pico possa acontecer de uma forma intensa, e ter uma queda especialmente em nossas referências estaduais, que são as cidades de Salvador e Recife. Isso acontecendo, a gente pode atestar que somente após um mês, é que poderíamos liberar a população, de forma organizada, do isolamento”, diz.
Isolamento na região – Na cidade de Juazeiro, o infectologista explica que as determinações de isolamento só devem ser interrompidas após a capital baiana, que possui, conforme boletim divulgado pela Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (SESAB) hoje (7), mais de 268 casos confirmados, passar pelo momento mais crítico de contaminação.
“Para cogitar tirar Juazeiro do isolamento social, é preciso que a referência estadual [Salvador] passe por esse período de turbulência. Salvador ainda não chegou ao limite de contaminação e vai começar a contabilizar mais pessoas a partir de agora, até pelo comportamento arbitrário delas de irem para as ruas. Esse crescimento deve ser mais rápido nas próximas semanas. Quando chegar na capacidade de contaminar cerca de 50% da população, é que vai começar a ter a diminuição de casos novos. Acontecendo isso, a tendência é que os leitos de enfermarias e de UTIs [Unidades de Terapia Intensiva] fiquem vazios aos poucos. A medida em que se vai conseguindo desospitalizar as pessoas e não internando uma quantidade superior a quantidade de leitos disponíveis, representa a desaceleração da contaminação daquela cidade”, acrescenta.
A capital seria, portanto, o “sistema de retaguarda” para Juazeiro e outras cidades baianas. Ele exemplifica que, havendo uma interrupção precoce das determinações, Juazeiro poderá ter um prejuízo grande, visto que o município não dispõe de estrutura suficiente para atender uma possível grande demanda de pacientes que necessitem de hospitalização. Ocorrendo um surto em Juazeiro neste momento, os pacientes que necessitassem de hospitalização, quando houvesse o colapso dos leitos no município, correriam o risco de não poderem ser transferidos, visto a superlotação nas unidades da capital baiana.
“A saída do isolamento da nossa região depende justamente do período em que Salvador sai de sua fase mais crítica. Não somos independente do ponto de vista de tomada de decisão, porque a nossa estrutura de saúde não suporta. Só posso voltar a colocar as pessoas na rua quando tiver um serviço de retaguarda, com municípios que possam receber meus doentes”, destaca o médico.
Exposição natural – Ainda segundo Washington Luís, somente após o ápice da doença na capital baiana, que é imprevisível, é que as atividades voltarão ao normal, gradativamente, em Juazeiro. O infectologista alerta que apesar de, atualmente, ser uma doença predominantemente de metrópoles, o vírus vai circular, brevemente, no interior, inclusive nas cidades do Sertão do São Francisco, “mais cedo ou mais tarde”.
“Tem muita gente acreditando que esse vírus vai desaparecer, mas ele vai continuar na nossa comunidade. Muita gente não entendeu ainda que nós só vamos conseguir viver em harmonia, num ambiente novamente social, quando tivermos parte da nossa população contaminada. Não existe essa hipótese de não termos 50% da nossa população contaminada no Vale do São Francisco. Isso vai acontecer mais cedo ou mais tarde”, alerta.
O profissional acredita que com a população sendo exposta, naturalmente, ao vírus, a contaminação acontece de forma segura, sem que haja grandes prejuízos. “Ninguém tem imunidade contra o vírus. Boa parte da população vai ter contato com o vírus. Expondo a população de forma segura, as pessoas que forem internadas vão para os leitos. No momento em que não houver mais leitos, serão levadas para outros lugares, a exemplo de Salvador.”
Washington Luís considera que é impossível definir quando essas medidas deverão ser interrompidas, mas ressalta que essa postura precoce contribuí para a reorganização do sistema de saúde, apesar de representar um atraso quando ao fim da política de isolamento.
“Nós que fizemos esse isolamento de forma mais precoce, tivemos alguns ganhos, pois conseguimos organizar e e aumentar leitos, e organizar a rede para concentrar esses doentes num único espaço físico. Mas, em contrapartida, quem começa cedo, sai do isolamento mais tarde. Há uma escolha a fazer: ou você sobrevive a essa pandemia da forma mais dura que existe, colocando a população na rua e tendo as perdas, ou você faz o isolamento social e retira essa população do isolamento de forma mais tardia, com menos consequências”, pontuou o médico.
Integrante do Comitê de Enfrentamento, Washington Luís reitera a importância do cumprimento das medidas de isolamento social e pede que a população se mantenha firme. “Esse isolamento social, por mais duro que pareça, está nos dando uma oportunidade muito grande de rever todo o nosso sistema de saúde. Por mais duro que parece ser, a gente vai conseguir vencer essa batalha. É lógico que não dá para prometer que não vai haver baixas e perdas. Mas estou muito otimista, tanto que estamos em várias frentes hoje, não só em relação a conseguir mais leitos, mas desenvolvendo trabalhos alternativos. A ideia é dá segurança e oportunidade para as pessoas passarem por essa fase dura de uma forma menos penosa”, finaliza o infectologista.
Casos no Brasil
Até as 17h35 desta terça-feira (7), 13.831 casos foram confirmados do novo coronavírus no Brasil, com 681 mortes pela covid-19. O último balanço do Ministério da Saúde, divulgado na tarde desta terça-feira (7), aponta 13.727 casos confirmados e 667 mortes.
Relatório
Segundo o relatório, essa elevação nos próximos meses é esperada em virtude da chegada do outono, iniciado no dia 20 de março, pois, nesse período, e também no inverno, a incidência de doenças respiratórias, como resfriado, gripe, ataques de asma, sinusite, pneumonia e bronquite, cresce. Com o ar mais seco e as temperaturas mais baixas, aumenta o risco de transmissão de coronavírus e no número de casos de covid-19, que também passaria a ser adicionada nessa lista, conforme cita o documento.
Os autores dizem ainda que o Brasil tem uma série de características culturais e populacionais que devem fazer com que o vírus se espalhe de maneira diferente da que ocorreu em nações como China e Itália. “É importante notar que o Brasil tem características distintas e peculiares, incluindo a estrutura populacional. É um país cuja população consiste principalmente de jovens adultos. Em adição, comorbidades e coinfecções, como diabetes, hipertensão, HIV, tuberculose, obesidade, entre outros, são prevalentes. Por isso, é importante que a população mais jovem com comorbidades/coinfecções não seja negligenciada”, afirma um trecho da publicação.
O documento acrescenta ainda que os especialistas temem que o país não disponha de estrutura suficiente para contemplar todos os pacientes da covid-19 com necessidade de hospitalização. “Há preocupações relativas à disponibilidade de unidades de terapia intensiva (UTIs) e ventiladores mecânicos necessários para pacientes hospitalizados com covid-19 bem como a disponibilidade de testes de diagnóstico específico, particularmente os RT-PCR de tempo real, para a detecção precoce de covid-19 e a prevenção de transmissão subsequente”, afirma o relatório.
Da Redação por Thiago Santos
Esse infectologista deve ser um mito,
O que eu vejo sobre essa pandemia é muita POLITICAGEM, muita gente querendo ele dando bem…
Acho que o principal foco em Juazeiro é o mercado do produtor, onde muitos compradores de produtos comercializados naquele local vêm de Feira de Santana e Salvador, minha residência fica próximo ao entreposto e lá vejo grandes aglomerações diariamente dentro e fora do mercado, acho que corremos um grande risco diariamente.