“A Univasf vive seu momento mais conturbado”, diz membro de Conselho Universitário sobre decisões “antidemocráticas” de reitor pro-tempore

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(foto: reprodução)

Em entrevista ao programa Palavra de Mulher Web, desta terça-feira (5), Omar Torres, representante da sociedade civil no Conselho Universitário (Conuni) da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), falou sobre a situação da universidade, que desde o final do ano passado, vive um imbróglio judicial para nomeação do seu mais novo reitor. Omar Torres se manifestou contra a nomeação de Paulo César Fagundes Neves como reitor pro tempore da Univasf e elencou uma série de ações que vem sendo adotadas pelo interventor, e que segundo ele, representam risco à democracia e a autonomia da instituição.

A situação embaraçosa começou no ano passado, quando, em eleição realizada no dia 5 de novembro do ano passado, o então vice-reitor, Télio Leite, foi eleito para o cargo, juntamente com a vice, profa. Lúcia Marisy Souza Ribeiro de Oliveira, com cerca de 57% dos votos. A consulta pública teve participação dos discentes, docentes e técnicos. Posteriormente, uma liminar assinada pelo desembargador federal do Tribunal Federal da 5ª Região (TRF5), Cid Marconi, suspendeu a lista tríplice de candidatos, votada em 29 de novembro, enviada pela Univasf ao MEC.

A decisão acatou os argumentos dos candidatos Jorge Cavalcanti e Ferdinando Carvalho, que se mostraram contrários à inclusão de um dos candidatos que compõe a lista tríplice, pois o mesmo não se encontrava em efetivo exercício na Univasf. Em virtude do imbróglio judicial, a lista está temporariamente suspensa. Como o mandato do reitor Julianeli Tolentino de Lima se encerrou no dia 5 de abril, o Ministério da Educação (MEC) fez a indicação do reitor pro tempore. Fagundes Neves é professor do curso de Medicina da instituição e atua como médico ortopedista na cidade pernambucana.

O indicado não participou da consulta pública realizada em novembro do ano passado, nem teve seu nome cogitado na lista tríplice votada pelo Conselho Universitário, também no mesmo período, para o cargo da reitoria. Ainda assim, a portaria com a nomeação de Paulo foi assinada no dia 9 de abril pelo Ministro da Educação, Abraham Weintraub, o que gerou desconforto entre estudantes, professores e funcionários da Univasf.

Para Omar, “a Univasf vive seu momento mais conturbado”.

“Houve uma insatisfação com o resultado do processo seletivo por parte de quem não recebeu o apoio e não teve seu projeto para a universidade aprovado pela maioria dos membros da universidade”, disse Omar Torres, que afirmou ainda que o responsável pelo “tumulto” do processo foi o Pastor Eurico (Patriota), deputado federal de Pernambuco, que, mesmo não tendo nenhuma ligação com o município de Petrolina, requereu a suspensão da lista.

Em menos de um mês no cargo temporário, segundo Torres, o reitor pro-tempore instituiu uma série de medidas antidemocráticas, desrespeitando, inclusive, o Conuni, órgão superior deliberativo, normativo, consultivo e de planejamento da Universidade e que é formado por representantes da comunidade acadêmica e da comunidade externa. Compete ao Conuni, entre outras atribuições, exercer a jurisdição superior da Univasf, em matéria de política universitária, administrativa, financeira, estudantil e de planejamento, dentre outras funções.

“O reitor está sendo temerário na sua temporalidade porque, imediatamente [após assumir o cargo], sem dá condição para um processo de discussão, rompeu a ordem legal e demitiu os coordenadores que estavam atuando, indicando outros que são alinhados, inclusive, com o projeto de oposição ao que estava acontecendo na universidade, e de alinhamento com o Governo Federal e com o ministro da Educação. Todos os atos do reitor deveriam ser avaliados e aprovados pelo Conselho, mas, até agora, ele se recusou a ter qualquer contato com o Conselho. Duas reuniões que já deveriam ter acontecido, uma no dia 24 e outra no 30, mas foram adiadas, e não foi enviada nenhuma nota, nenhum parecer, ao Conselho”, disse Omar.

O membro do Conuni afirmou ainda que a “universidade está funcionado com pessoas respondendo, ilegalmente, por setores e coordenações”.

Hospital Universitário

De acordo com Omar Torres, as decisões também estão afetando, diretamente, o Hospital Universitário da Univasf, e ele teme que a instituição passe por um processo de privatização.

“O Hospital Universitário montou uma equipe de pessoas extramente comprometidas com o bom funcionamento do hospital, mas o reitor está desmontando toda a equipe técnica e administrativa do hospital. Diretores, coordenadores, diretor-médico, todos estão sendo substituídos, deixando um indício de que pode acontecer uma utilização ou algum tipo de alinhamento com a medicina privada, o que seria o maior prejuízo para nossa população”, relatou.

Comitê de Enfrentamento à Covid-19

A Comissão de Gerenciamento, Elaboração e Acompanhamento de Ações de Prevenção do Coronavírus (Covid-19), antes formada por servidores, docentes e técnicos da instituição, e que deve atuar, junto à Administração Superior, para elaboração e acompanhamento de diretrizes e procedimentos de prevenção e enfrentamento à covid-19, também foi alvo das ações do reitor pro-tempore.

“A universidade criou uma comissão mista para discutir questões da pandemia, e que tinha como membros diversos representantes da saúde dentro da universidade. O reitor desmanchou a comissão e nomeou ‘fã-médicos’. Uma visão caolha. Não são médicos que atuam na saúde pública. Essa comissão multidisciplinar foi desmanchada. Ele foi á Brasília e voltou de lá defendendo a ideia da volta às aulas na universidade, nesse momento de agravamento da pandemia”, disse.

Por fim, o entrevistado reiterou que a sociedade do Vale do São Francisco deve estar ciente da situação da Univasf, que, segundo ele, está sofrendo um golpe antidemocrático.

“A sociedade precisa acompanhar de perto essa situação porque ela será a maior prejudicada com as mudanças que porventura possam ser implementadas por esse grupo que tomou o poder na Univasf, temporariamente, ainda, mas que está no poder. É um grupo alinhado com a política de universidade privada, corte de verbas para pesquisas e tudo. É importante que a sociedade, de todos os lugares beneficiados pela Univasf, tenha conhecimento e se mobilize a favor da volta da normalidade dentro da universidade”, finalizou.

Movimento estudantil

No mês passado, o PNB conversou com Bruno de Melo, presidente do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Univasf, que disse, na época, que o movimento estudantil também é contra a indicação de Paulo César Fagundes, o qual denominou como “interventor ilegítimo”. O movimento, segundo Bruno de Melo, tem apoio do DCE, Centros e Diretórios Acadêmicos da Univasf, além, também, de técnicos e professores (relembre).

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Da Redação

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