As cidades de Juazeiro, no Norte da Bahia, e Petrolina, no Sertão de Pernambuco, vêm acompanhando, desde o mês de junho, um salto significativo no número de novos casos confirmados da covid-19. Apesar disso, os dados oficiais contabilizados pelas Secretarias Municipais de Saúde, somados, não representam nem 1% da população das cidades, considerando a estimativa habitacional do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2019.
O levantamento do órgão apontou uma população estimada de 349.145 pessoas em Petrolina e de 216.707 em Juazeiro. Com esses quantitativos, as cidades entraram no ranking das dez mais populosas do interior do Nordeste, sendo a cidade pernambucana a quarta colocada, e a cidade vizinha, a décima. Logo, juntas, Petrolina e Juazeiro somam pouco mais de 565.852 mil habitantes, conforme o IBGE.
(foto: André Luis)
No que diz respeito os casos da covid-19, ontem (21), a Secretaria Municipal de Saúde de Petrolina informou a confirmação 2.066 casos pela doença, enquanto o órgão de Juazeiro contabiliza, até o momento, 1.851 casos. Juntos, os municípios somam, portanto, 3.917 diagnósticos positivos para a infecção causada pelo novo coronavírus.
Esse número, que considera apenas os dados oficiais contabilizados pelas secretarias, representa cerca de 0,69% da população somada das duas cidades. Os dados não consideram, portanto, os casos de pessoas que foram infectadas pelo novo coronavírus e que, por não apresentarem sintomas, não procuraram ajuda médica em unidades de saúde, por exemplo, o que é uma situação bastante comum, conforme apontam especialistas em saúde.
Um levantamento recente feito pelo Instituto de Pesquisa Scripps, nos Estados Unidos, sugere que até 45% dos infectados são assintomáticos, ou seja, não apresentam quaisquer sintomas da doença. A pesquisa, que avaliou os dados de 16 publicações científicas, considera ainda que esses pacientes possuem carga viral tão alta quanto aqueles que desenvolvem a doença de forma sintomática, logo, são grandes transmissores da doença.
Apesar do baixo índice de contaminação nas cidades, o último boletim pelo Grupo de Modelos Matemáticos para Covid-19 do Vale do São Francisco (GMC-VASF), grupo de pesquisadores da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), na sexta-feira (17), trouxe um dado importante: o estudo sugere que cerca de 60% da população da região estará infectada pela covid-19 na primeira semana de setembro.
O período estimado é obtido com base em um cálculo matemático: inicialmente, se estima um número real de pessoas infectadas em uma determinada data, multiplicando o número de casos confirmados nas duas cidades neste dia pela razão entre número de infectados e casos confirmados. Posteriormente, através de uma progressão geométrica, levando em conta o período de duplicação do número de casos, se chega a uma semana provável de um mês futuro em que cerca de 60% da população da região estará infectada pelo novo coronavírus.
Segundo os pesquisadores, essa porcentagem é usada como referência porque, a partir do valor estimado para o SARS-COV-2, se acredita que a transmissão do vírus seria bloqueada quando mais de 60% da população adquirisse imunidade para a covid-19, a chamada imunidade de rebanho. Telio Leite, um dos pesquisadores, ressaltou, entretanto, que estudos mais recentes e mais elaborados indicam que a chamada “imunidade do rebanho pode ser obtida com valor inferior a 60%, inclusive próximo a 30%.
Tendência de crescimento
O estudo do GMC da Univasf mostra ainda que permanece uma tendência de aumento do número de casos de pessoas infectadas pelo novo coronavírus e também do número de óbitos nos municípios de Petrolina e Juazeiro. No cenário estimado para a próxima sexta-feira (24), o número de infectados pela doença deverá variar entre 4.622 e 4.995 pessoas. Já o número de óbitos previsto para a mesma data irá variar em torno de 99 a 109 casos (leia mais).
O grupo utiliza um conjunto de modelos matemáticos distintos e faz o cruzamento das informações para chegar à variação média divulgada a cada semana. Diariamente, pesquisadores se debruçam sobre os números oficiais da disseminação do novo coronavírus em Petrolina e Juazeiro para abastecer modelos matemáticos epidemiológicos que ajudam a compreender o comportamento da pandemia nestas duas cidades. Além do boletim semanal, o GMC-Vasf elabora um relatório mensal com uma análise mais abrangente e aprofundada sobre a situação da pandemia nas duas cidades, incluindo a disseminação da doença pelos bairros. O estudo visa subsidiar o poder público com informações que podem contribuir para a elaboração de políticas públicas e estratégias de enfrentamento e combate ao novo coronavírus.
Da Redação por Thiago Santos