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Na semana passada, repercutiu na mídia um impasse entre a reitoria da Universidade do Vale do São Francisco (Univasf) e a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH), no que diz respeito a devolução, por parte da empresa, de 20 respiradores mecânicos, que seriam destinados ao tratamento de pacientes com a covid-19, ao Governo do Estado de Pernambuco.
Os esquipamentos foram recebidos no dia 27 de junho. O Estado havia enviado 40 respiradores, 40 monitores e 45 mil unidades de EPIs ao HU. Entretanto, a EBSERH, gestora geral da unidade hospitalar, solicitou a devolução de metade dos respiradores e dos monitores. Na época, o secretário estadual de Saúde, André Longo, afirmou ter recebido com surpresa o pedido de devolução [veja trechos da entrevista abaixo].
Também na época, o HU-Univasf afirmou que o recebimento desses equipamentos “não estava previamente combinado com a estatal no acordo feito entre a Reitoria da Univasf e a Secretaria de Saúde do Estado de PE” e que a “avaliação leva em conta a definição dos responsáveis por cada etapa, a necessidade de adequações estruturais na unidade e a atual ocupação dos leitos de UTI do hospital” [leia na íntegra abaixo].
O PNB teve acesso ao documento onde Oswaldo de Jesus Ferreira, presidente da EBSERH, justifica o pedido de devolução. No texto, que foi enviado ao secretário de Saúde de Pernambuco e ao reitor temporário da Univasf, o presidente esclareceu que não existiu nenhum planejamento, nenhum plano de contingência e nenhum estudo que visasse a instalação de novos leitos de UTI onde os equipamentos seriam utilizados.
“Em outras palavras, caso fossem criados [leitos de UTI no HU] não haveria profissionais de saúde, medicamentos, EPIs, insumos em geral e nem espaço físico previsto para isso. Seria, portanto, não apenas uma irresponsabilidade por parte da Ebserh aceitar esses equipamentos que são objeto do Termo de Cessão, mas também um mau uso desses, já que o HU-Univasf não teria condições físicas e humanas para utilizá-los”, justificou.
Oswaldo Ferreira acrescenta ainda que logo no início do “estado de calamidade”, a Ebserh elaborou, junto aos seus 40 (quarenta) hospitais universitários, um Plano de Contingência, no qual foi traçado todo o planejamento de combate à pandemia. Nesse plano, foi prevista a abertura de vinte novos leitos de UTI para o combate à covid-19 no HU, todos já criados e em operação (além de outros 16 novos leitos de enfermaria). “Contudo, para que isso fosse possível, a Ebserh teve de realizar todo o planejamento de contratações e aquisições, com meses de antecedência, para viabilizar esses novos leitos”, reitera.
O presidente justificou ainda a dificuldade enfrentada pela Ebserh para a contratação de profissionais de saúde em quantidade suficiente para o suporte aos leitos já criados, e destacou que, possivelmente, a empresa teria grande dificuldade de contratar novos profissionais para atenderem novos leitos, caso fossem criados, com a chegada dos equipamentos enviados pelo Governo do Estado.
Dos respiradores devolvidos, dez ficaram com a prefeitura de Petrolina e os outros dez com a Unidade de Pernambuco, segundo publicou a FolhaPE.
Investimentos
O HU-Univasf informou ter aplicado mais de R$ 3,900 milhões para a estruturação dos 20 leitos de unidades de terapia intensiva (UTI). Todos estão em funcionamento na Policlínica há quase quatro meses. O HU montou uma UTI completa com equipamentos modernos e adequados para atender às necessidades dos pacientes contaminados com o coronavírus. Foram desembolsados mais de R$ 800 mil para adquirir respiradores, camas elétricas, monitores multiparamétricos, entre outros. Uma parte do aparelhamento já pertencia ao patrimônio do hospital e foi realocada.
Para a manutenção dos atendimentos, também é necessária a disponibilidade de insumos hospitalares. A unidade precisou aumentar o seu estoque de diversos itens, a exemplo de: equipamentos de proteção individual (EPI´s), matérias farmacológicas e químicos, além do suprimento de oxigênio. As despesas já passam de R$ 3,111 milhões, desde o início dos internamentos.
Trechos da entrevista do secretário de Saúde de PE
“Nos causou surpresa (…) porque foi um pedido do próprio HU, junto com a reitoria da Univasf, para que nós pudéssemos disponibilizar respiradores e monitores. O número, inclusive, inicial no pedido eram de 70. Nós acordamos fazer (o envio de) 40, fizemos um termo de cessão com o reitor Paulo César Fagundes para que fossem implantados leitos adicionais no HU. Houve algum problema de entendimento entre a reitoria da Univasf e a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares, acho que mais até com a sede da empresa, em Brasília, que acabou por gerar essa confusão. São duas estruturas do Governo Federal, seria interessante que elas pudessem se entender para que o governo federal pudesse ampliar seu esforço na região”, disse em entrevista à Rádio Grande Rio FM.
Nota do HU na íntegra
A Ebserh esclarece que participa do esforço nacional de combate ao Covid em todo o território nacional por meio de Planos de Contingência locais. Em Petrolina (PE) foram abertos 20 novos leitos de UTI para atender demandas da Secretaria de Saúde local. Todos se encontram em plena operação. Até o momento, não ocorreu saturação ou superlotação desses leitos, que estão com uma média de 50% de ocupação.
Esse esforço contou com investimentos de cerca de R$ 3,6 milhões, o que tornou o HU-Univasf referência no combate à Covid-19 na região. Somente em pessoal, foram contratados 171 profissionais a mais para o esforço Covid sendo 14 médicos, 25 enfermeiros, 89 técnicos em enfermagem, entre outros. Todos os meses são investidos mais de R$ 500 mil reais nesse item para o combate à doença.
Sobre a operacionalização dos respiradores cedidos pelo Governo do Estado à Univasf, a Ebserh informa que a abertura de novos leitos depende de diversas ações interdependentes que incluem readequações de espaços físicos, aquisição de equipamentos, contratação de profissionais de saúde, a definição dos responsáveis pelos investimentos, aquisição de insumos, EPI’s, dentre outros. A falta de uma delas pode inviabilizar as demais.
Dentro desse contexto, destacando que o recebimento desses equipamentos não estava previamente combinado com a estatal no acordo feito entre a Reitoria da Univasf e a Secretaria de Saúde do Estado de PE, a Ebserh informou a impossibilidade de receber os itens. Essa avaliação leva em conta a definição dos responsáveis por cada etapa, a necessidade de adequações estruturais na unidade e a atual ocupação dos leitos de UTI do hospital.
Em nenhum momento a Ebserh foi consultada sobre a conveniência, a oportunidade ou a necessidade da cessão dos respiradores.
Em consonância com o exposto e no sentido de continuar apoiando o esforço de combate à pandemia, a administração central da Ebserh solicitou ao HU-Univasf um Estudo de Viabilidade Técnica e Econômica (EVTE) para instalação de mais dez leitos de UTI, onde todos os aspectos necessários e obrigatórios para seu pleno funcionamento devem ser observados. Numa análise preliminar, verificou-se que essa nova abertura de leitos demandará um prazo superior a 60 dias, uma vez que serão necessárias obras de engenharia e aquisições de insumos complementares.
Ressalte-se ainda a existência na cidade de Petrolina de um hospital de campanha do Estado de PE, com capacidade para 100 leitos e com plenas condições de receber respiradores para ativação das respectivas UTIs.
Da Redação