Especial: “Minha história nos 70 anos da TV brasileira”, por Carlos Laerte

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(foto: arquivo pessoal)

Repórter de rua pela manhã, editor de texto a tarde e no final do dia apresentador do Jornal da Ilha, o único programa local da TV Golfinho, emissora gerenciada pela TV Pernambuco, do governo do estado de Pernambuco, no arquipélago de Fernando de Noronha. Durante três meses em 1990 esta foi a minha rotina e o alumbramento de estreia neste fantástico e instigante veículo chamado  TV.

Depois de colocar em prática os ensinamentos obtidos após uma semana de estágio com a grande e inesquecível jornalista Helena Beltrão,  dei adeus às belas praias e paisagens estonteantes de Fernando de Noronha, e de volta ao sertão, comecei uma bonita história na recém inaugurada  TV Grande Rio, afiliada da Rede Globo com sede em Petrolina – PE. Era o ano de 1991 e a cada boa noite do apresentador Edmilson Luiz os olhos do Vale se voltavam para as notícias do NE TV 2ª edição. Neste início as reportagens que conseguíamos emplacar nos telejornais da rede somente eram veiculadas como notas cobertas sem a voz e a passagem do repórter (momento em que o autor entra em cena assinando a matéria).

(foto: arquivo pessoal)

Por este tempo, uma reportagem minha e do cinegrafista Roberto Martins com o curandeiro do sertão, Zé do Vira Beiju, chamou a atenção do Jornal Hoje. Festa na redação liderada pelo jornalista Edy Monteiro e alegria geral quando apareci na telinha da Globo assinando a primeira reportagem  da TV Grande Rio veiculada em rede nacional.

Estava tudo muito bom até que aceitei um convite tentador, financeiramente falando, para trabalhar em um programa político de TV em Juazeiro – BA. A emissora deu uma licença e fui coordenar o guia eleitoral. Por conta da minha participação nesta campanha, também como repórter, fui aceito de volta, mas fiquei “na geladeira do jornalismo”, assumindo posteriormente a montagem e coordenação do primeiro núcleo de produção comercial da empresa. Com a responsabilidade de criar e produzir anúncios publicitários de clientes e o material de apoio da emissora, começamos esta nova missão dando vida ao primeiro slogan da casa: ‘TV Grande Rio, a imagem do sertão’. Pouco tempo depois, colocamos no ar, em plena tarde de sábado, o primeiro especial de TV da região, o documentário ‘Jacó, missa e vaqueiro’.

(foto: arquivo pessoal)

A publicidade despontava ai como uma agradável  paixão, mas nas veias pulsava quente e bulinoso o legítimo e vigoroso jornalismo que a tudo arrebata. No ano seguinte, ou melhor, em pleno carnaval antecipado de Juazeiro, fui localizado por outra emissora de televisão no meio de um bloco dos mais animados. Troquei o abadá de folião pela calça e a camisa de repórter e voltei às ruas todo orgulhoso com o microfone da TV São Francisco, na época TV Norte, também afiliada da Rede Globo. Não permaneci nesta emissora nem um ano  sequer, mas recordo  momentos significativos na realização de reportagens com temas culturais, políticos, econômicos, esportivos e sociais, numa tentativa de levar às ultimas consequências a lição antropofágica de Oswald de Andrade: “A poesia está nos fatos”.

(foto: arquivo pessoal)

Neste mundo em que proliferam ativistas digitais, a TV brasileira tem proporcionado aos jornalistas um encontro presencial, dialógico, plural e humano. Passados 70 anos, do preto e branco ao digital, o jornalismo continuará sendo uma função pública, complexa e essencial para a consolidação da democracia. E ainda que alguém duvide, uma atividade ‘demasiadamente humana’ que mescla, segundo o professor Dennis de Oliveira, “um olhar sincero de percepção apurada e capacidade de selecionar, hierarquizar, sintetizar e transmitir de forma a alertar para que a condição de ser cidadão nunca seja esquecida”.

Carlos Laerte é jornalista, escritor e atuou como repórter nas TVs Grande Rio/Petrolina e São Francisco/Juazeiro 

1 COMENTÁRIO

  1. Parabéns CLAS, pela história de vida , pela coragem de tomar decisões, acertadas ou não, isso só a vida nos dirá, mais sua determinação, profissionalismo , hoje fala por si mesmo, DEU CERTO, que bom , grande abraço amigo

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